EUROPA

Paris registra 1º caso de transmissão local de chikungunya

É o primeiro caso do tipo na Europa desde 2017 e inédito tão ao norte do continente

Lado de fora do Grand Palais antes dos Jogos Olímpicos de Paris 2024Lado de fora do Grand Palais antes dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 - Foto: Kirill Kudryavtsev / AFP

A capital da França, Paris, registrou o primeiro caso de transmissão local de chikungunya, ou seja, de uma pessoa que foi contaminada na cidade, e não de alguém que trouxe o vírus do exterior.

Segundo a autoridade de saúde pública francesa, o paciente começou a manifestar sintomas no dia 18 de julho, cerca de uma semana antes do início das Olimpíadas.

O caso é o primeiro autóctone na Europa desde 2017, de acordo com Centro Europeu para Controle e Prevenção de Doenças (ECDC).

Além disso, é inédito tão ao norte no continente, destaca o médico epidemiologista André Ribas Freitas, professor da Faculdade de Medicina São Leopoldo de Campinas e de Limeira, em São Paulo.

Segundo o ECDC, entre 2007 e 2017 houve cinco episódios de transmissão local da chikungunya, registrados na Itália e na França.

Todos os relatos franceses foram no Sul do país, perto da Itália, onde as condições climáticas são mais favoráveis ao mosquito transmissor – distantes da capital Paris, no Norte.

Em uma avaliação de risco, o centro europeu afirmou ser que o risco para moradores e visitantes – apenas em atletas olímpicos a cidade recebe mais de 10 mil pessoas – é “baixo”.

Ainda assim, pondera que “a confiança da avaliação (também) é baixa, pois as investigações epidemiológicas e entomológicas ainda estão em andamento”.

Aedes AegiptyAedes aegypti

O ECDC cita, por exemplo, que o Aedes albopictus, mosquito "primo" do Aedes aegypti e responsável por transmitir dengue e chikungunya em países europeus, “está estabelecido nos departamentos de Paris e Hauts-de-Seine” e que “as condições ambientais atuais são favoráveis à (sua) propagação”. “Portanto, outras transmissões autóctones não podem ser excluídas”, continua.

Ribas Freitas explica que o caso não significa que Paris começará a viver surtos da doença no curto prazo, mas reforça ser um sinal de alerta que exemplifica a expansão geográfica de doenças transmitidas por mosquitos, graças às mudanças climáticas, e o risco permanente de que elas se estabeleçam nesses países ao longo do tempo.

— O continente já registrou surtos isolados, mas era apenas na região mais meridional da Europa, principalmente na bacia do Mediterrâneo, onde é quente. Porque a temperatura mais fria sempre foi um limitante para os mosquitos. Mas esse registro agora em Paris é o mais ao norte que já se teve transmissão, e numa região metropolitana. Reflete o que temos observado, que é o aumento na população do mosquito na Europa, tanto da área infestada, como da quantidade do vetor, graças às mudanças climáticas. Essa situação está piorando — diz.

O mosquito nesse caso é o Aedes albopictus, que assim como o Aedes aegypti também pode transmitir dengue, zika e chikungunya. Os ovos do Aedes albopictus resistem ao inverno europeu, diferente dos do Aedes aegypti, por isso ele consegue infestar áreas de clima temperado.

— A preocupação maior é porque fizeram um trabalho imenso em tentar diminuir a população por causa das Olimpíadas, mas mesmo assim não conseguiram impedir casos de transmissão local. Isso aponta para uma tendência preocupante de vermos cada vez mais regiões da Europa que, a partir de um caso importado, tenham a introdução da doença, já que a população do mosquito é bem estabelecida. E estamos falando de chikungunya, mas também de dengue, de zika e até mesmo de outras doenças, como febre oropouche, porque as mudanças climáticas também têm favorecido a expansão geográfica de outros vetores — avalia Ribas Freitas.

A França, por exemplo, também registrou dois casos de transmissão local de dengue neste ano, um em junho e outro no final de julho, nos departamentos de Hérault e Alpes-Maritimes, que ficam no Sul do país.

No caso da dengue, desde 2010 a Europa não permanece mais de dois anos sem registrar casos autóctones da doença, segundo o ECDC. Porém, a situação piora a cada ano. Em 2023, o continente teve o maior número de registros de transmissão local, 130 casos na França, Itália e Espanha – três no departamento em que fica Paris.

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