MUNDO

Parlamento aprova polêmica lei sobre imigração no Reino Unido

Legislação impedirá que imigrantes que fazem a travessia irregular pelo Canal da Mancha peçam asilo em solo britânico

O premier britânico, Rishi Sunak, em Londres O premier britânico, Rishi Sunak, em Londres  - Foto: Daniel Leal / AFP

O Parlamento britânico aprovou nesta terça-feira a polêmica lei sobre imigração que pretende impedir que os migrantes que entram de forma ilegal no Reino Unido possam solicitar asilo no país. O texto é uma iniciativa crucial para o primeiro-ministro conservador Rishi Sunak, que estabeleceu como prioridade de seu governo a luta contra a imigração irregular.

Em uma vitória inesperada para Sunak, as emendas que buscavam oferecer salvaguardas para as vítimas da escravidão moderna e limitar a detenção de crianças foram rejeitadas depois que um grande número de colegas conservadores se sentou até tarde na Câmara Alta do Parlamento para votar contra elas. Isso significa que o projeto de lei provavelmente receberá o Consentimento Real — o estágio final que o torna formalmente lei — esta semana.

A controvertida política foi criticada pelo rei Charles III no ano passado, enquanto ainda era príncipe, afirmando, segundo o jornal The Times, que "estava mais do que decepcionado" e que toda a conduta proposta pelo governo era "terrível". A informação, contudo, não foi confirmada pela Clarence House, então residência oficial do príncipe, que também não negou as declarações, afirmando apenas que não comentaria conversas privadas anônimas de Charles.

Embora a aprovação da lei seja um impulso para Sunak e, tecnicamente, cumpra a promessa que fez no início deste ano de "aprovar novas leis para parar pequenas embarcações, garantindo que, se você vier a este país ilegalmente, seja detido e rapidamente removido", não está claro como a legislação impedirá imediatamente novas travessias.
 

Sunak prometeu "deter" as entradas de migrantes pelo Canal da Mancha, por onde mais de 45 mil pessoas chegaram às costas inglesas de forma irregular a bordo de pequenas embarcações em 2022. Desde o início de 2023 foram registradas mais de 13 mil chegadas, incluindo mais de 3 mil apenas em junho. Também não está claro como o governo planeja lidar com o acúmulo de casos de asilo, que subiu para mais de 130 mil.

A lei recebeu muitas críticas no Reino Unido e também de organizações internacionais, como a ONU, que reagiu afirmando que o texto é contrário ao direito internacional. A legislação entra "em contradição" com as obrigações do Reino Unido sob o direito internacional no que diz respeito aos direitos humanos e aos refugiados, afirmaram em um comunicado os respectivos diretores das agências da ONU para estas questões, Volker Türk e Filippo Grandi.

Além de impedir que os migrantes sem documentos possam solicitar asilo no país, o governo britânico deseja que eles sejam rapidamente detidos e expulsos, seja para seu país de origem ou para outro Estado como Ruanda, independente de sua procedência.

No ano passado, sob a gestão do ex-premier Boris Johnson, o Reino Unido anunciou um acordo com Ruanda para enviar ao país os migrantes em situação irregular, mas até o momento nenhuma expulsão foi concretizada. O primeiro voo no âmbito do pacto, previsto para junho de 2022, foi cancelado após uma decisão do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH).

O porta-voz de Sunak, Max Blain, disse a repórteres nesta terça-feira que, embora alguns elementos do projeto de lei possam ser colocados em prática sem a política de Ruanda, em última análise, o governo precisa de ambas as ferramentas para enfrentar as travessias de barcos.

— Não o veremos totalmente operacionalizado enquanto houver esse desafio legal ainda nos tribunais — disse Blain. — Ter a parceria de migração ruandesa e agir em conjunto proporcionará esse efeito dissuasor.

No fim de junho, a Justiça britânica declarou o projeto ilegal, mas o governo anunciou um recurso contra a decisão. Segundo a decisão, as deficiências do sistema de asilo implicariam um "risco real" de que os refugiados sejam devolvidos ao seu país de origem e sofram perseguições ou tratamento desumano.

Defensores dos direitos humanos acusam Ruanda, governado com mão de ferro pelo presidente Paul Kagame desde o genocídio de 1994 que matou 800 mil pessoas, de suprimir a liberdade de expressão e a oposição.

Os gastos estimados do governo com o plano foram divulgados em junho, observando que o custo inicial de mover uma pessoa para Ruanda seria de cerca de £ 169 mil (em torno de R$ 1 milhão), incluindo o pagamento de £ 105 mil (R$ 640 mil) para o país, passagens aéreas e taxas administrativas. Também foi prevista uma ajuda de £ 106 mil (R$ 650 mil) em quatro anos para cada refugiado que não chegasse ao solo britânico ou fosse transferido para outro país.

O relatório do governo especificou, no entanto, que estes são números "muito incertos" e que será preciso reduzir em 37% o total de imigrantes em condição irregular hoje para conseguir esta economia. (Com AFP e Bloomberg.)

Veja também

Voo de resgate de brasileiros deve decolar neste sábado do Líbano
Brasileiros

Voo de resgate de brasileiros deve decolar neste sábado do Líbano

Trump diz que Israel deveria 'atingir' instalações nucleares iranianas
Donald Trump

Trump diz que Israel deveria 'atingir' instalações nucleares iranianas

Newsletter