Logo Folha de Pernambuco

mundo

Parlamento da Coreia do Sul investiga participação de militares na imposição de lei marcial

General nomeado 'comandante da lei marcial' disse ter se informado sobre medida durante o pronunciamento do presidente; vice-ministro da Defesa culpou superior por ida de tropas ao Parlamento

General Park An-su e vice-ministro da Defesa Kim Seon-ho respondem a perguntas de parlamentares sul-coreanos General Park An-su e vice-ministro da Defesa Kim Seon-ho respondem a perguntas de parlamentares sul-coreanos  - Foto: Yonhap/AFP

Após a apresentação do pedido de impeachment do presidente Yoon Suk-yeol, o Parlamento da Coreia do Sul começou a investigar nesta quinta-feira a participação de militares na tentativa do governo de impor ao país uma lei marcial. Deputados começaram a escutar autoridades ligadas ao alto-comando das Forças Armadas sul-coreanas, tentando estabelecer responsabilidades — principalmente de onde partiu a ordem para que militares impedissem a entrada dos parlamentares na Assembleia Nacional.

O general Park An-su, nomeado "comandante da lei marcial" na terça-feira, afirmou aos deputados que não havia sido informado previamente sobre a medida, e só ficou sabendo dos planos quando ouviu o pronunciamento do presidente na TV.

— Eu soube da declaração da lei marcial depois de assistir ao discurso ao vivo de Yoon — disse An-su. — Eu descobri que tinha sido nomeado comandante da lei marcial quando o ministro da Defesa anunciou isso.

 

O general detalhou que houve uma reunião de altos oficiais militares após o pronunciamento de Yoon, e que foi durante ela que descobriu que tinha um papel a desempenhar na suspensão do governo civil. Ele admitiu que assinou um decreto proibindo atividades políticas antigoverno, permitindo prisões sem mandado e censura da mídia, mas disse aos legisladores que não o escreveu.

An-su ainda afirmou não ter conhecimento sobre quem foi o responsável pela ordem para que forças de segurança se dirigissem à Assembleia Nacional, para impedir a entrada de deputados no prédio.

O decreto de imposição da lei marcial determinava o fechamento do Congresso, proibia manifestações públicas e reuniões políticas, além de estabelecer o controle da imprensa — desdobramentos que ameaçariam profundamente o caráter democrático de Seul, caso 190 dos 300 deputados sul-coreanos não tivessem conseguido acessar o prédio, apesar do bloqueio militar, e votado pela ilegalidade da proposição do presidente.

Em um outro depoimento ao comitê, o vice-ministro da Defesa, Kim Seon-ho, que atualmente ocupa a função principal após a renúncia do titular da pasta, Kim Yong-hyun, afirmou que a ordem para que as tropas bloqueassem a entrada do Parlamento teria partido do seu então superior.

— Eu me opus à mobilização de soldados sob lei marcial e expressei minha discordância [em enviá-los ao parlamento] — disse Seon-ho.

Ele acrescentou que os soldados não carregavam munição real e também disse aos legisladores que não concordava com a descrição de Yoon dos deputados como "elementos antiestado", e que "não tinha ideia" de quem havia escrito o decreto da lei marcial, dizendo que sabia apenas "que o ministério da Defesa não o redigiu".

Alvo de um pedido de investigação da oposição, que o acusa de traição — crime punível no país com prisão perpétua e pena de morte — Yong-hyun renunciou ao cargo na quarta-feira. Ele não falou perante a comissão.

Depois do depoimento aos parlamentares, o general An-su afirmou que ofereceu sua renúncia ao Ministério da Defesa. Ele permanece no cargo até que a pasta se pronuncie sobre o pedido. (Com NYT e AFP)

Veja também

Newsletter