"Patrícia está sendo morta pela segunda vez", diz tio da vítima sobre estratégia da defesa
Para o tio de Patrícia, o professor Marcílio Araújo, os dois primeiros dias de julgamento foram marcados por uma série de violências contra a mulher
Antes do início do terceiro dia julgamento de Guilherme José Lira dos Santos - acusado pelo Ministério Publico de Pernambuco (MPPE) de jogar carro em árvore para matar ex-exposa no Recife, em novembro de 2018 - a família da vítima, Patrícia Cristina Araújo, demonstrou insatisfação com a estratégia adotada pela defesa do réu.
Para o tio de Patrícia, o professor Marcílio Araújo, os dois primeiros dias de julgamento foram marcados por uma série de violências contra a mulher. “Estamos na expectativa de saber a estratégia da defesa. Até o segundo dia de julgamento, eles só têm trabalhado com a desqualificação da vítima, que é minha sobrinha”, disse o familiar.
“É como se estivessem procurando uma justificativa para o crime cometido. O réu, até agora, não teve defesa, quem está sendo julgada é minha sobrinha. Ela está sendo morta pela segunda vez.”
Os representantes do Ministério Público, que atuam na acusação, também criticaram a estratégia adotada pela defesa de Guilherme. “Sabemos que é comum que se traga, para processos dessa natureza, a ideia de que o acusado de um feminicídio é um homem bom, sociável, respeitado no meio do trabalho. Isso tudo não retiraria dele a condição de autor do crime. Esse, inclusive, é um perfil típico”, ressaltou Ana Clézia Ferreira, promotora do MPPE.
A acusação crítica, ainda, o uso dos depoimentos dos dois filhos do casal (dois adolescentes de 18 e 16 anos), que depõem como informantes, sem juramento oficial. “O Ministério Público foi contrário às oitivas desses filhos em plenário do júri. Esses jovens já foram ouvidos com muita cautela, obedecendo a uma lei que os preserva, com o chamado depoimento acolhedor. Somos contrários expressamente, mas, o acusado, juntamente aos advogados de defesa, requereu esses depoimentos”, completou a promotora de Justiça.
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Por outro lado, a defesa de Guilherme afirmou que os depoimentos dos dois filhos são fundamentais para o júri. “O Ministério Público não está demonstrando clareza nas provas. Não há quem possa dizer mais sobre a realidade do casal do que os próprios filhos, que conviviam gol eles o tempo todo. Se trouxemos os filhos, é porque eles são fundamentais para o esclarecimento dos fatos”, disse Gregório Ferraz, um dos advogados de defesa.
Até o início da manhã desta quarta-feira (12), foram ouvidas cinco testemunhas de acusação (entre elas a mãe da vítima, o irmão e amigas de Patrícia). Os depoimentos da defesa começaram ontem (11), com a oitava da filha do casal, que falou na condição de informante. Três testemunhas de defesa (dois vizinhos de Guilherme e Patricia e um médico legista) e outro informante (o filho mais velho) devem depor nas próximas horas. O júri é presidido pela juíza Fernanda Moura.
Relembre o caso
Guilherme José Lira dos Santos é acusado pelo Ministério Publico de Pernambuco (MPPE) de jogar carro em árvore para matar ex-exposa no Recife, em novembro de 2018.
Na ocasião, Patrícia Cristina Araújo dos Santos, 46, estava no banco do passageiro quando o veículo colidiu na Rua Fernandes Vieira, no bairro da Boa Vista. A mulher faleceu e o condutor teve ferimentos leves. Após o caso, Guilherme foi preso.
O réu é julgado pelo crime de homicídio qualificado, cometido por “motivo torpe, mediante dissimulação ou recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido”; ainda, leva-se em consideração a condição de gênero da vítima, o que caracterizaria o crime como feminicídio.