Pé de Lótus: a prática chinesa que deformava os pés; entenda
Meninas tinham seus pés enfaixados a partir dos seis anos de idade para que eles ficassem com um tamanho e formato mais adequados
Você provavelmente nunca ouviu falar disso, mas por centenas de anos na China, milhões de meninas tiveram os seus pés dolorosamente deformados para se adaptarem a uma expectativa social. A prática, conhecida como "pés de lótus", consistia em enfaixar os pés de mulheres para que eles ficassem com um tamanho e formato mais adequados.
De acordo com informações da revista cultural americana The Atlantic, o minúsculo “pé de lótus” em seu delicado sapato de seda era visto como uma das qualidades mais atraentes de uma futura noiva. Estudos recentes demonstraram que a amarração dos pés também era praticada para manter as meninas em casa e envolvidas em trabalhos manuais, como a fiação de algodão, a fim de contribuir para o rendimento da sua família.
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O "esmagamento" dos pés começava na infância, por volta dos cinco anos de idade. As faixas ou pedaços de pano eram presos deixando os dedos enrolados tão forte que eles ficavam em contato com a sola do pé e chegavam ao ponto de serem quebrados. Ao longo dos anos, os pés das meninas foram esmagados repetidamente, causando dores inimagináveis e uma grave deficiência física, com não apenas dos pés, mas também dos ossos do quadril e da coluna, além de fraturas no fêmur.
A amarração dos pés data da dinastia Song (960-1279) e no século 19, era comum em toda a China. A "tradição" só começou a declinar nos primeiros anos do século XX. Seu fim foi atribuído a campanhas ideológicas lideradas por missionários e reformadores, e aos movimentos subsequentes do governo nacionalista seguido pelos comunistas para proibir a prática. Mas ainda é possível encontrar idosas que foram submetidas a essa prática brutal.
A pesquisadora Laurel Bossen, coautora do livro “Bound foot, Young hands” ("Pés amarrados, mãos jovens", em tradução livre), acredita que sua pesquisa sobre a prática milenar chinesa oferece lições para a luta moderna contra outros costumes que são prejudiciais para meninas e mulheres, como a mutilação genital feminina, que ainda é realizada em países da África.