'Perdi a viagem e tive o nariz necrosado, mas resgatei a minha fé na humanidade'
Ao invés de embarcar para mais um momento de descobrimento deste mundo, mergulhei em uma das mais profundas, tocantes e reveladoras experiências da minha vida. Vem sendo uma longa viagem
Sei que vocês esperavam nesta coluna dicas e notícias sobre a tão esperada viagem deste ano: Lisboa, Madrid, Berlim, Hamburgo, Athenas, Santorini e Mykonos. Mas ao invés de embarcar para mais um momento de descobrimento deste planeta, mergulhei em uma das mais profundas, tocantes e reveladoras experiências da minha vida. Vem sendo uma longa viagem, mas desta vez sem dicas de paisagens, destinos ou roteiro. Explico tudo nas próximas linhas.
Atenção: Imagens fortes abaixo!
Fui internada com necrose de 1,3 cm na ponta do nariz, 0,9 cm à direita e 1 cm à esquerda no domingo, 29 de abril, um pouco mais de dois dias após um preenchimento com ácido hialurônico, procedimento conhecido como rinomodelação e feito em uma biomédica esteta com clínica em Olinda, na Região Metropolitana do Recife (RMR).
Entrei sem previsão de alta. Passei 12 dias no quarto 417 do Esperança Olinda. Perdi a minha tão planejada viagem, mas sou grata por ainda ter a minha visão e tempo de vida para retomar esses planos.
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Pois é. Preenchimentos têm se transformado em prática diária, mas complicações podem acontecer, como necrose de nariz, AVC e cegueira. Os médicos que me atenderam explicaram que o ácido foi aplicado em um vaso importante, que tem ligação com o cérebro e o olho. Com isso, ocorreu uma oclusão arterial. O problema não foi identificado pela profissional e evoluiu para a necrose.
O internamento foi solicitado logo após a minha entrada na urgência com taxas no limite da infecção. A direção da Rede D’or contratou a dermatologista Gleyce Fortaleza, referência em preenchimentos e tratamentos faciais, para reverter o quadro. Ela iniciou o tratamento pela aplicação da Hialuronidase, enzima que quebra o feito do ácido hialurônico. Desde então, evoluímos um pouco a cada dia.
No dia 2 de maio comecei a oxigenoterapia hiperbárica na clínica de Paulo Pantoja, mas evolui com um quadro de otite média supurativa e precisei interromper o tratamento que me ajudou tanto, acelerando a cicatrização e fazendo algumas regiões de necrose serem restauradas. Recebi alta hospitalar na última quinta-feira (10), mas sigo em tratamento intenso com uso de antibióticos. Melhoro um pouco a cada dia, mas ainda não tenho ideia de quando poderia ter a minha vida normal de volta. Achei justo explicar para vocês, leitores da coluna que assino, o motivo do meu sumiço. Tem sido uma longa viagem, mas desta vez para dentro de mim.
Neste caminho reencontrei amigos, conheci várias pessoas e recebi diariamente várias injeções de ânimo, afeto, força e carinho de quem encontrava. Cada um com um pequeno gesto, iluminava os meus dias de alguma forma.
Câmara hiperbárica
Cada dia dessa “vida de paciente” parece repleto de ironias e surpresas. Dez anos de jornalismo, contato com tudo que se possa imaginar, mas nunca ouvi falar em Oxigenoterapia Hiperbárica até precisar. Cantarolei Beatles, trocando yellow por white submarine. But no one of my friends were on board. Vesti a roupa e entrei na câmara hermeticamente fechada onde outras mulheres estavam acomodadas.
Observei máscaras de oxigênio. Avisaram que enfrentaríamos a pressão maior do que a atmosférica, chegando até 14. Para não doer, beber água. O tratamento é para feridas de difícil cicatrização. Ao me avaliar, o médico (Paulo Pantoja) disse que aguentasse, iria ficar bem. Não tinha ideia do que viria. Enquanto a pressão na cabine mudava, o ouvido borbulhava e eu, que deveria estar em um avião chegando em Lisboa, me sentia quase em meio a um acidente aéreo, naquelas poltronas com máscaras “sobre as cabeças em caso de despressurização”.
Tomei água, mastiguei, abri o maxilar, nada adiantava. Parecia que o ouvido iria estourar. Ao mesmo tempo, não queria desistir. Comecei a chorar de pânico, dor e frustração quando a enfermeira disse que me tiraria da câmara. Uma mulher sentada no canto direito pediu. “Deixa ela tentar a última vez, está tão perto”. “Toma água, golinhos, vai melhorar”, disse a mais jovem, sentada bem na minha frente. “Todas passamos por isso. O primeiro dia é assim, vai ficar tudo bem”, disse uma senhora ao lado dela. “Vamos, você aguenta”, disse a que estava ao meu lado, segurando a minha mão. Fui e aguentei. Elas afastaram a minha dor e desespero. Cada uma com seu problema, mas todas no mesmo barco, ou no mesmo white submarine, sendo extremamente acolhedoras e empáticas em um dos momentos mais duros da minha vida.
Não tinha amigos nem família ali, mas vários seres humanos incríveis me deram exatamente o suporte que precisava naquele momento. E só consegui por causa delas. De lá para cá, quatro sessões foram concluídas com resultados impressionantes, curando quase “magicamente”. E como elas disseram, tudo melhorou. É isso que chamam de mão de Deus?
Mil vezes obrigada
Não é nada fácil, no meio disso tudo, responder comentários e mensagens, Facebook, E-mail e Instagram. Além de todos os meus amigos e familiares, a força vem de desconhecidos que encontro pelo caminho ou que souberam pela internet do que estou passando. Virei “a menina do nariz necrosado” e tenho cada vez menos vergonha de como ele está agora. Quando falo em quem está me tratando, o que todo mundo diz é que estou “nas melhores mãos”, no grupo encabeçado pela minha fada Gleyce Fortaleza, mas com reforços como Marcelo Borges e Paulo Pantoja. Tenho certeza que sim. Nas deles e nas de Deus. Com o apoio da minha família e dos meus anjos Taísa Braga e José Breno Sousa Neto desde o primeiro momento.
Dizem que agora é questão de tempo e paciência, mas é perceptível a resposta rápida do meu organismo. E positiva. As orações de cada um de vocês fazem muita diferença. Essa rede de apoio, boas vibrações, empatia. Sou só gratidão por tudo. Sinto dor, frustração, mas sinto uma força muito maior do que tudo isso. E cada mensagem me deixa mais forte. Obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, mil vezes obrigada.
Nota da edição: A coluna Vamos Viajar ficará suspensa por tempo indeterminado até o retorno de Priscilla Aguiar às atividades profissionais. Torcemos pela rápida recuperação dela.
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