Pernambucana recebe rim doado pelo pai e celebra novo começo
Rafaela Rodrigues foi diagnosticada com doença renal há cerca de um ano. No Dia Mundial do Rim, conheça a história dela
O Dia Mundial do Rim é celebrado nesta quinta-feira (11). Estimativas do Ministério da Saúde indicam que mais de dez milhões de pessoas têm doença renal no Brasil.
Por trás dos números, histórias como a da pedagoga pernambucana de Belo Jardim, no Agreste, Rafaela Rodrigues, de 28 anos, que recebeu, em fevereiro deste ano, um novo rim, doado pelo pai, o tratorista Rafael Lopes Leite, de 52.
Com as esperanças renovadas de viver, Rafaela pretende realizar em breve o sonho de ser mãe. Ela segue internada no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE/Ebserh), onde se recupera bem. Agora, o sentimento é de gratidão e de um novo começo.
Casada há seis anos, Rafaela descobriu, há cerca de um ano, que estava com o rim direito totalmente comprometido e o esquerdo com apenas 30% da capacidade de funcionamento. Restavam apenas duas alternativas de tratamento: diálise ou transplante renal.
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“Esse momento foi muito difícil para mim. Não imaginava que meu caso era tão grave, porque eu não tinha sintomas. Minha vida mudou muito por causa da pandemia e depois por causa da doença. Tive que me afastar do trabalho, adiar planos e tive que lidar diariamente com o medo de não sobreviver”, relata.
A doença progrediu de forma rápida e silenciosa e Rafaela relata que no início não sentia nada. Quando os sintomas começaram a surgir, o quadro clínico dela já era bastante delicado.
Em 2019, Rafaela passou muito mal e precisou ser socorrida. Após ter a pressão aferida, foi encaminhada a um cardiologista devido ao quadro de pressão alta e descontrolada.
Na consulta, após realizar alguns exames, ela foi orientada a buscar um nefrologista porque seus testes apresentavam algumas alterações. Foi quando a pedagoga descobriu que sofria de uma alteração congênita, chamada refluxo vesicoureteral.
Segundo a nefrologista do HC-UFPE/Ebserh Larissa Guedes, que acompanha Rafaela, esse diagnóstico, geralmente, é realizado ainda na infância quando a criança apresenta infecções urinárias.
“A criança que tem refluxo vesicouretal não possui a válvula que protege a passagem da urina para o ureter e para o rim. Isso implica em infecções urinárias recorrentes que causam danos crônicos aos rins e, consequentemente, a perda da função renal”, explica.
Antes de chegar ao Hospital das Clínicas, Rafaela passou por um longo caminho. Em Caruaru, também no Agreste, um médico especialista sugeriu o transplante. Então começou a batalha para encontrar um doador compatível. O pai dela, Rafael Lopes, fez o teste de compatibilidade, assim como o esposo de Rafaela.
Os dois eram compatíveis. O pai conta que a decisão para doar foi imediata. “Quando descobri que era compatível, fiquei muito feliz. Estava contando os minutos para poder realizar esse transplante”, afirmou Rafael, que acrescentou: “A sensação é de que estamos mais fortes e felizes. Ela quando soube, há um ano, estava difícil. Graças a Deus, tudo deu certo. Visitei ela hoje [quinta-feira], ela está bem animada".
“Desde criança eu dizia que ele era meu herói. Hoje, mais do que nunca, isso é verdade. Ele é um super pai!”, disse Rafaela. "Ela sempre me chamava assim, mas não acreditava muito", completou o pai.
A cirurgia seria feita em outubro, mas foi suspensa por causa da pandemia. Antes de realizar o transplante, em fevereiro, Rafaela foi atendida no HC, em dezembro, com uma piora no quadro clínico.
Após diversas consultas, Rafaela e o pai foram internados em 24 de fevereiro, e o transplante ocorreu no dia seguinte. Rafael teve alta no dia 2 de março, e Rafaela continua internada no hospital-escola, mas se recupera bem do procedimento. Ainda não há previsão para a alta da pedagoga. "Ela está em observação, está bem. A equipe está tomando conta. Querem deixar ela sair quando estiver bem", finalizou Rafael.
A doença renal mudou a vida da pernambucana e, daqui por diante, muitos cuidados serão necessários. “Eu gostaria de agradecer a Deus, ao meu pai e ao meu esposo. Tenho muito amor e gratidão, sem eles eu não conseguiria passar por tudo isso. Gostaria de agradecer também a toda equipe do HC pelo tratamento e acolhimento que me deram. E, quanto ao meu futuro, espero ter mais qualidade de vida, retomar minha rotina e realizar meu desejo de ser mãe”, disse Rafaela.
Doença renal
De acordo com o Ministério da Saúde, estima-se que haja atualmente no mundo 850 milhões de pessoas com doença renal, decorrente de várias causas e que a Doença Renal Crônica (DRC) causa pelo menos 2,4 milhões de óbitos por ano, com uma taxa crescente de mortalidade. No Brasil, a estimativa é de que mais de dez milhões de pessoas tenham a doença.
A nefrologista do HC-UFPE/Ebserh Gisele Vajgel explica que, para prevenir as doenças renais, é necessário que as pessoas busquem desenvolver hábitos de vida mais saudáveis. “Fazer atividades físicas, controlar o peso, a pressão e a glicemia são ações que vão prevenir no futuro as doenças renais”.
Para quem já tem a doença renal, Vajgel reforça que é preciso ter uma atenção especial em relação à qualidade de vida desse paciente. “Mesmo com a doença renal, é possível, sim, obter essa qualidade de vida. É fundamental que esses pacientes pratiquem exercícios físicos adaptados para as suas necessidades, que tenham uma boa alimentação e que tenham cuidado com o sono. A equipe multidisciplinar é muito importante na abordagem desse paciente que possui várias particularidades e devem ser bem orientados para que tenham uma melhor qualidade de vida e um maior tempo de sobrevida da função renal”, acrescenta.
Segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia, a DRC se caracteriza por lesão nos rins que se mantém por três meses ou mais com diversas consequências e, na maioria dos casos, nos estágios iniciais, é silenciosa, havendo poucos ou nenhum sintoma.
Dessa forma, o diagnóstico pode ocorrer de forma tardia quando o funcionamento dos rins já está bastante comprometido. É importante salientar que o diagnóstico precoce é fundamental e pode ser feito por meio de exames como a creatinina no sangue e o exame de urina simples.