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ARTIGO

Os ataques históricos à Igreja Católica Romana

Nesse texto, o professor Biu Vicente historia parte das reações à Igreja e seus motivos

Professor Biu VicenteProfessor Biu Vicente - Foto: Acervo pessoal

Biu Vicente*

Ataques e críticas vêm acompanhando a Igreja Católica Romana desde sempre e, em nossos tempos, desde o final da Guerra em 1945. A Tradição da Igreja é a sua reflexão, a partir das Escrituras Sagradas, sobre os acontecimentos do mundo que a envolve e a quem ela serve, apontando o caminho de sua fé. 

Como a fé cristã é uma fé histórica, ou seja, reflete sobre os acontecimentos históricos, ela parece mudar com o tempo. Contudo, essa tradição é sempre baseada nas ações e palavras de Jesus Cristo que chegaram através de tradições orais que, posteriormente foram, e continuam sendo, interpeladoras das ações humanas que levam ao pecado, à separação com Deus.

Logo após as grandes guerras do século XX, o mundo ocidental tomou consciência de que estava destruindo os valores que haviam sido criados ao longo dos séculos, e a Igreja Católica Romana também participou desse processo. E continua participando. 

esses setores tradicionalistas da Igreja são defensores da prática de não perceber as questões humanas, as novas questões humanas que são postas pela nova realidade trazida pelas revoluções técnicas e tecnológicas atuais. 

Assim é que,os gravames da Revolução Industrial levaram a Igreja Católica Romana a pensar sobre as questões sociais. Daí, vem se formando uma Doutrina Social a partir de cartas e pronunciamentos papais e episcopais, como a Mater et Magistra, a Pacem in Terris, a Populorum Progressio, Centesimo Anno, Fratelli Tutti, especialmente, não apenas essas. 

"...esses setores tradicionalistas da Igreja são defensores da prática de não perceber as questões humanas, as novas questões humanas que são postas pela nova realidade trazida pelas revoluções técnicas e tecnológicas atuais."

Não é uma nova Doutrina, mas uma nova maneira de analisar o mundo a partir das lentes neo-testamentárias. Ao mesmo tempo em que a Igreja amplia sua visão sobre as questões sociais, dentro da Igreja há aqueles mais apegados ao mundo e à visão do mundo anterior ao Concílio Vaticano II (1962-1965), desejando manter a situação na qual a Igreja assumiu mais decisivamente a defesa do status quo. 

Não é à toa que Pio XII tem sido apontado como colaborador nazista, o que não chega a ser verdadeiro. Mas esses setores tradicionalistas da Igreja são defensores da prática de não perceber as questões humanas, as novas questões humanas que são postas pela nova realidade trazida pelas revoluções técnicas e tecnológicas atuais. 

Esses setores criaram a Sociedade São Pio V, um papa do século XVI, e afrontaram o Papa Paulo VI. Atémesmo João Paulo II, um papa conservador mas com presença midiática, vez por outra foi alvo desses grupos e, em um esforço para manter a unidade da Igreja, ao mesmo tempo que fez uma "condenação" da Teologia da Libertação, acolheu a Opus Dei. Posteriormente o papa Bento XVI lembrou que não fez uma condenação à Teologia da Libertação, mas uma admoestação, contudo a cizânia havia sido irrigada.

A Sociedade Dom Bosco tem atacado a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), especialmente durante a Campanha da Fraternidade. Talvez estejam ligados ao exemplo do Padre João Bosco que, com seus oratórios, cuidava de meninos e rapazes filhos de operários da cidade de Turim, Itália, centro da fábrica da Fiat, jovens filhos dos operários que não tinham escola nem cuidado. Então, o padre João Bosco deles vai cuidar e prepará-los para um profissão   

"A Associação Dom Bosco apela para que os cristãos não apoiem monetariamente as obras da Igreja Católica, mas defende que essas doações sejam postas à disposição dos conservadores, que pretendem, como na Idade Média e início dos tempos modernas, resolver os problemas sociais com a prática da esmola"

Quando escutamos atentamente o que diz o porta-voz da Dom Bosco, todos os papas por ele citados são anteriores ao Concílio Vaticano II, que eles não aceitam, pois estão agregados à tradição do Concílio de Trento, ocorrido no século XVI. Ora, os desafios do século XVI, postos à humanidade, não são os mesmos que a Igreja enfrenta nos dias atuais. 

A Associação Dom Bosco apela para que os cristãos não apoiem monetariamente as obras da Igreja Católica, mas defende que essas doações sejam postas à disposição dos conservadores, que pretendem, como na Idade Média e início dos tempos modernas, resolver os problemas sociais com a prática da esmola, como as que o padre João Bosco recebia dos donos da Fiat, semelhante aos reis medievais e os monges que mantiveram a pobreza para lhes dar esmolas que, julgavam abriria o caminho do céu. Mas Jesus veio para que TODOS tenham vida e a tenham em abundância.

*Professor colaborador do Departamento de História da Universidade Federal de Pernambuco e autor do blog biuvicente.blogspot.com

 

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