Peronismo elege candidato mais centrista, "isola" Kirchner e Argentina busca eleição mais à direit
Analistas dizem que escolha do ministro da Economia para a vaga governista nas eleições presidenciais pode favorecer medidas econômicas voltadas para o mercado, em meio a negociações com o FMI
O anúncio da união do peronismo em torno da candidatura do ministro da Economia, Sergio Massa, elevou as chances de a eleição presidencial Argentina resultar em um governo mais alinhado aos interesses do mercado. Não se sabe com qual profundidade e velocidade a Argentina poderá caminhar para a direita. Mas analistas dizem que a vice-presidente populista Cristina Kirchner sai enfraquecida, depois de seu mais próximo aliado, Eduardo de Pedro, desistir de se candidatar às eleições de 22 de outubro e apoiar Massa — que tem fortes laços com o governo do presidente americano, Joe Biden.
"Todas as opções são muito mais pró-mercado" disse Mariel , diretor da consultoria de pesquisas Management and Fit, em Buenos Aires — O contexto hoje é diferente. Isso é Cristina perdendo poder.
O giro à direita na política argentina ocorre em meio a uma onda de esquerda na América Latina, nos últimos anos. A desigualdade crescente e descontentamento social durante a Pandemia da Covid-19 levou eleitores da Colômbia, do Chile, Peru e Brasil a eleger presidentes esquerdistas. Os argentinos perderam a confiança no próprio governo depois que as políticas agravaram a crise econômica iniciada em 2018.
Na sexta, de Pedro encerrou suas pretensões eleitorais antes do prazo limite para as candidaturas de 24 de junho — e apenas um dia depois de ter anunciado que concorreria, abrindo o caminho para Massa ser declarado o candidato peronista. Outro candidato do bloco ainda permanece na disputa, o esquerdista Juan Grabois.
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Com Massa como favorito para vencer as primárias peronistas de 13 de agosto (frente governistas Unión por la Patria), os outros candidatos que estão no páreo e tem visões alinhadas ao mercado compõe um quadro fragmentado. A linha-dura Patricia Bullrich e o centrista prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodrigues Larreta vão se enfrentar nas primária pela candidatura de sua coalizão pró-mercado (coalizão de centro-direita Juntos por el Cambio). O candidato anti-política de extrema direita Javier Milei (Libertad Avanza) também terá um papel central na eleição.
"Se a oposição ficar muito polarizada, abre-se um espaço no centro que, estrategicamente, o bloco peronista vai tentar preencher, e uma discussão moderada pode ser uma boa notícia para o setor privado" disse Juan Cruz Diaz, diretor-geral da consultoria política Cefeidas Group.
Os candidatos tem uma tarefa quase impossível pela frente, com uma inflação de três dígitos acima da 114%, uma recessão no horizonte e quase 40% da população abaixo do nível de pobreza. A Argentina também está sem dólares, mergulhada numa seca brutal e pressionada pelos prazos de pagamento da dívida de US$ 44 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Ministro e candidato
Na verdade, Massa — que lidera negociações do país com o FMI — não revigorou o otimismo de investidores como chefe da economia argentina, com os títulos da dívida argentina negociados abaixo de trinta centavos de dólar por boa parte dos 10 meses em que está no cargo. Ele ampliou o controle de preços, as restrições de importação e implementou múltiplas taxas cambiais.
Com um prazo de pagamento da dívida com o FMI vencendo no fim do mês, a equipe econômica argentina está correndo contra o tempo para conseguir um novo acordo. Como candidato e ministro, Massa deve ter mais poder de barganha para receber mais dinheiro ao mudar a política monetária em uma direção mais sensata.
Como candidato presidencial, Massa pode ganhar apoio extra dos amigos que tem no governo Biden, e assim aumenta a capacidade de barganha na negociação com o FMI — pontou Hector Torres, ex-representante da Argentina no FMI
Investidores não devem esperar que Massa abruptamente mude de rumo para políticas mais voltadas para o mercado, explica Martin Rapetti, diretor da consultoria Equilibra. No entanto, ele não só ganhou força diante do FMI, como também na relação com as poderosas centrais sindicais argentinas, com o empresariado e outros setores importantes da economia, ao sair, do dia para noite, de ministro enfraquecido pela crise para candidato governista à presidência do país.
"Não é a mesma coisa para nenhum desses setores negociar com um ministro que sabem que estará fora do jogo em quatro meses e com alguém que poderá se tornar o próximo presidente" analisa Rapetti, que conclui — A capacidade dele de negociar e coordenar como ministro se fortaleceu significativamente.