EQUADOR SOB ATAQUE

Peru e Colômbia enviam reforços militares para fronteira com o Equador em meio à crise de violência

Vizinhos temem fuga de integrantes de gangues equatorianas, que mantém laços com organizações criminosas peruanas e colombianas ligadas ao tráfico de cocaína

Equador vive onda de violênciaEquador vive onda de violência - Foto: STRINGER/AFP

A Colômbia e o Peru, ambos vizinhos do Equador, reforçaram nesta quarta-feira seus efetivos militares nas extensas fronteiras que dividem com o país — que decretou "estado de exceção" e de "conflito armado interno" em meio a uma das suas mais graves crises de segurança pública.

O governo peruano enviou mais de 500 agentes de segurança e decretou estado de emergência na região fronteiriça, enquanto o comandante das Forças Armadas colombianas, o general Helder Giraldo, disse que um "amplo dispositivo" foi destacado, sem especificar o tamanho do contingente.

— Nós temos, neste momento, destacado um amplo dispositivo na fronteira — disse Giraldo.

O subdiretor da polícia colombiana, o general Alejandro Zapata, acrescentou que os controles foram intensificados em vários pontos do departamento (estado) de Nariño, no sudoeste da Colômbia, "evitando que entrem no país pessoas com questões de antecedentes criminais ou associados com alguma questão delitiva ou de tráfico de drogas".

Zapata também anunciou operações nos municípios colombianos de Ipiales, Chiles e Carlosama, "em especial neste último, que é uma passagem ilegal". A porosa fronteira entre os países é usada como rota para o contrabando de cocaína e cultivo ilícito da droga por gangues equatorianas e cartéis colombianos — que cooperam entre si, segundo investigações.

No mesmo sentido, o ministro do Interior do Peru, Víctor Torres, disse em entrevista coletiva nesta quarta-feira que o país não poupará esforços para que "nenhum delinquente ingresse" em seu território. No entanto, o governo peruano descartou o fechamento da fronteira com o Equador, apesar do risco de fuga de integrantes, alegando razões comerciais.

"Estamos trabalhando para garantir a segurança dos peruanos, deixamos claro que não está na agenda estabelecer um fechamento de fronteira porque isso prejudicaria o comércio e as relações entre os dois países", indicou o ministro da Defesa, Jorge Chávez.

Os dois ministros peruanos chegaram nesta quarta-feira na cidade fronteiriça de Tumbes para coordenar as ações de segurança, em meio ao temor da escalada da violência no Equador para o seu território.

Situado entre a Colômbia e o Peru, os maiores produtores de cocaína do mundo, o Equador se transformou em uma espécie de "hub" do tráfico de drogas nos últimos anos, com mais de 20 grupos disputando o controle do território, mas unidos em sua guerra contra o Estado.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores peruano, Lima e Quito vêm coordenando ações conjuntas desde terça-feira.

"A apreciação conjunta é que as organizações transnacionais do crime e do tráfico de drogas estão atuando dentro do Equador, mas não apenas no Equador, pois parece haver ligações com colombianos, alguma origem com os cartéis baseados no México e, possivelmente, envolvimento com organizações criminosas no Brasil", disse o chanceler peruano Javier González-Olaechea à rádio RPP.

Na rede social X (novo Twitter), o presidente colombiano, Gustavo Petro, disse estar disposto a ajudar o país vizinho: "Estamos atentos a todo o apoio que o governo do Equador nos solicitar", escreveu.

Narcotráfico: a origem da crise no Equador
O estopim da crise no Equador foi a fuga de Fito, chefe da maior quadrilha criminosa do Equador, Los Choneros, de uma prisão de segurança máxima no domingo. O episódio deu início a uma onda de violência que tomou conta do país. Em 48 horas, o governo decretou estado de exceção e de conflito armado interno, sete policiais foram sequestrados e houve ataques com explosivos nas ruas. O cenário representa a primeira crise do presidente Daniel Noboa, de 36 anos, mas não é novidade: é resultado da reconfiguração das rotas de tráfico locais.

Se há poucos anos o país era conhecido por ser um recanto de relativa paz entre os dois maiores produtores mundiais de cocaína (a Colômbia e o Peru), hoje quase um terço da droga colombiana sai da América do Sul em direção aos Estados Unidos por portos equatorianos. Segundo autoridades locais, as duas maiores facções criminosas do país, Los Choneros e Los Lobos, são apoiadas financeiramente e recebem armas dos dois principais cartéis mexicanos: o Cartel de Sinaloa e o Cartel Jalisco Nova Geração (CJNG).

Além deles, que disputam o controle das rotas de cocaína no Equador, atuam no país um grupo dos Bálcãs que a polícia chama de “máfia albanesa”. No último ano, autoridades locais descobriram laboratórios de processamento da droga na região, indicando uma possível evolução das facções locais para os chamados “microcartéis”. O acordo de paz com as antigas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) acabou empurrando dissidentes do grupo guerrilheiro envolvidos com o narcotráfico para o país vizinho.

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