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Pesquisadores descobrem novo tratamento para leucemia

O tratamento envolve a remoção de células T glóbulos brancos que combatem vírus do sangue de um paciente e a engenharia genética deles para combater o câncer

Proliferação de linfócitos em sangue de portador de LeucemiaProliferação de linfócitos em sangue de portador de Leucemia - Foto: Reprodução/Internet

Doug Olson tinha apenas 49 anos quando foi diagnosticado com leucemia linfocítica crônica, um câncer no sangue que atinge principalmente pessoas mais velhas e é responsável por cerca de um quarto dos casos de leucemia nos EUA. O tumor foi descoberto durante uma consulta de rotina, com palpação dos gânglios linfáticos do pescoço, e posteriormente confirmado por meio de biópsia. Olson, que sempre foi saudável, pensou que sua vida tinha acabado.

Seis anos se passaram sem que o câncer progredisse, até que começou a crescer. E mesmo depois de quatro rodadas de quimioterapia, o tumor continuou voltando. Olson havia chegado ao fim da linha quando seu oncologista, o Dr. David Porter, da Universidade da Pensilvânia, lhe ofereceu a chance de estar entre os primeiros pacientes a tentar algo sem precedentes, hoje conhecido como terapia com células CAR T.

Em 2010, ele se tornou o segundo de três pacientes a receber o novo tratamento. Na época, a ideia para esse tipo de terapia “ainda era muito insípida”, disse Carl June, principal autor do estudo. Segundo o pesquisador, ele mesmo tinha poucas expectativas de que as células fornecidas a Olson como terapia sobreviveriam.

"Pensamos que elas morreriam em um mês ou dois", disse June.
 

Agora, uma década depois, ele afirma que suas expectativas estavam completamente equivocadas. Em um artigo publicado esta semana na Nature, June e seus colegas relatam que o tratamento com CAR T fez o câncer desaparecer em dois dos três pacientes naquele estudo inicial. Todos tinham leucemia linfocítica crônica. A grande surpresa, porém, foi que, embora o câncer parecesse ter desaparecido há muito tempo, as células CAR T permaneceram na corrente sanguínea dos pacientes, circulando como sentinelas.

"Agora podemos finalmente dizer a palavra “cura” com células CAR T", disse June.

Embora a maioria dos pacientes não se saia tão bem com o tratamento, os resultados trazem esperança de que, para alguns, o câncer será vencido. Mas os mistérios permanecem.

O tratamento envolve a remoção de células T — glóbulos brancos que combatem vírus — do sangue de um paciente e a engenharia genética deles para combater o câncer. Em seguida, as células modificadas são infundidas de volta à circulação do paciente.

No caso da leucemia linfocítica crônica, do tipo que Olson tinha, o câncer envolvia células B, as células formadoras de anticorpos do sistema imunológico. No tratamento com CAR T, as células T de um paciente são ensinadas a reconhecer as células B e destruí-las. Se o tratamento for bem-sucedido, o resultado é a destruição de todas as células B do corpo. Isso significa que os pacientes ficariam sem células B, mas também sem câncer. Assim, eles exigiriam infusões regulares de anticorpos na forma de infusões de imunoglobulinas.

A terapia tem ajudado muitas pessoas com câncer no sangue e provou ser particularmente eficaz em pacientes com leucemias agudas e outros cânceres do sangue. Por outro lado, aqueles como Doug Olson, com leucemia linfocítica crônica, também conhecida como LLC, tiveram menos sucesso. Entre aqueles com esse tipo de câncer, cerca de um terço a um quinto entram em remissão com a terapia CAR T, mas muitos cujos cânceres desaparecem depois recaem.

"A questão não é apenas por que alguns pacientes recaem ou são resistentes à terapia, mas por que alguns pacientes são curados?", disse John DiPersio, chefe da divisão de oncologia da Universidade de Washington em Saint Louis, que não esteve envolvido no estudo.

O tratamento com CAR T também causou sérios efeitos colaterais em alguns pacientes, como febre alta, coma, pressão arterial perigosamente baixa e até morte — embora na maioria dos pacientes os sintomas alarmantes se resolvam. A terapia também não funcionou ainda em pessoas com câncer de mama ou próstata.

Tão estranho quanto a incapacidade do CAR T de ajudar a maioria dos pacientes com câncer é o destino dessas células T modificadas nos pacientes curados.

A modificação genética envolveu um subconjunto de células T conhecidas como células CD8, que se supõe serem as que realmente matam o câncer. Elas são as assassinas do sistema imunológico, mas precisam de ajudantes e para as células CD8, os ajudantes são outro grupo de células T conhecidas como células CD4.

A princípio, as células CD8 pareciam estar agindo exatamente como se esperava no estudo de June. As células T CD8 modificadas mataram quase imediatamente entre 1,5kg e 3kg de células cancerígenas nos corpos de Olson e do primeiro paciente do estudo, William Ludwig, que também foi curado de seu câncer, mas morreu no ano passado de Covid-19.

Depois que as células CD8 fizeram seu trabalho, elas permaneceram no sangue, mas, inesperadamente, se transformaram em células CD4. E quando os pesquisadores removeram as células CD4 do sangue de Ludwig e Olson, eles viram que essas células podiam matar células B em laboratório. Elas se transformaram em assassinas ou, observou DiPersio, “pelo menos guardiãs que podem manter as células tumorais afastadas e indetectáveis no paciente por anos”.

As células CD4 poderiam permanecer no sangue sem células cancerígenas para matar? Ou elas estavam lá porque a leucemia não havia realmente desaparecido, mas continuava tentando retornar, apenas para ser atacada por células CD4?

"Não conseguimos encontrar nenhuma célula de leucemia em Doug", disse June, acrescentando que talvez elas ainda estejam lá em pequenas quantidades e surgindo apenas para serem repelidas pelas células CD4.

Ele suspeita, porém, que as células CD4 atuem mais como guardas. "A leucemia se foi, mas elas permanecem no trabalho", disse June. Seja qual for o mecanismo, disse Porter, o resultado “está além da minha imaginação”.

"Os oncologistas não usam palavras como “curar” facilmente ou com muita frequência. Eu garanto que não está sendo usada levianamente. Os pacientes que tratamos tinham uma doença muito avançada", observou ele, acrescentando que “a maior decepção é que não funciona o tempo todo”.

Segundo Hagop Kantarjian, presidente do departamento de leucemia do Centro do Câncer M.D. Anderson da Universidade do Texas, “historicamente, se esses cânceres não se repetirem em dois a cinco anos, a probabilidade de recaída é baixa”.

Para Olson, agora com 75 anos, a vida é boa. Ele ainda balança a cabeça com a incrível coincidência de que seu oncologista era um dos pesquisadores naquele ensaio clínico uma década atrás. "Sou um homem de sorte", disse.

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