Petro, o "rebelde" de várias causas que sonha em mudar o rumo da Colômbia
Petro aspira em sua terceira e última tentativa chegar à Presidência. Todas as pesquisas o apontam como vencedor do primeiro turno neste domingo (29)
Aos 62 anos, Gustavo Petro ainda se vê como um "revolucionário" por diversas causas. Primeiro lutou contra o Estado e agora busca, na democracia, derrotar as elites e instalar pela primeira vez a esquerda no poder na Colômbia.
Petro aspira em sua terceira e última tentativa chegar à Presidência. Todas as pesquisas o apontam como vencedor do primeiro turno neste domingo (29).
O senador e ex-prefeito de Bogotá sente-se compelido a mudar nada menos que uma "história de 200 anos". "Fazer discursos agora faz parte do meu humor", escreveu ele em sua autobiografia "Una vida, muchas vidas".
Nascido em uma família de classe média, de pai conservador e mãe liberal, e educado por padres lassalistas, levantou as bandeiras da mudança e da ruptura com as forças que tradicionalmente governam a Colômbia.
Sua ascensão assusta os setores conservadores, pecuaristas e parte do empresariado e dos militares, que temem que seu governo seja um "salto no vazio".
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Outros, mais moderados, não embarcam em seu messianismo. "Ele se acha predestinado (...) a única pessoa que pode salvar a Colômbia", resumiu uma fonte próxima que falou ao portal independente La Silla Vacía.
Antissistema, Petro se descreve como progressista e não esquerdista, na tentativa de evitar ser associado a uma corrente que causa repúdio em um país com guerrilhas marxistas no centro de um conflito de seis décadas.
Mas seu passado na luta armada o persegue. Por 12 anos se rebelou contra o Estado que agora pretende reformar fundamentalmente. Hoje as armas oficiais o protegem.
Várias vezes ameaçado de morte e forçado a um exílio de três anos na Europa, Petro é o candidato mais protegido nesta corrida. Nos últimos comícios apareceu praticamente blindado com colete à prova de balas e escudos ao seu redor, e com pelo menos 20 guarda-costas.
Em fevereiro, esse economista confessou à AFP seu medo de que o matassem.
Combatente medíocre
Petro militou no M-19, uma guerrilha nacionalista de origem urbana que assinou a paz em 1990.
Segundo ele, rebelou-se contra o golpe militar no Chile em 1973 e uma suposta "fraude eleitoral" na Colômbia no mesmo ano contra um partido popular.
Admirador fervoroso do Prêmio Nobel Gabriel García Márquez, na clandestinidade adotou o nome Aureliano, em homenagem ao personagem de "Cem Anos de Solidão".
Foi detido e torturado pelos militares e ficou preso por um ano e meio.
Sempre foi um combatente "medíocre", de acordo com seus ex-companheiros de armas.
Em seu livro destaca: "Nunca senti, ao contrário de muitos de meus companheiros, uma vocação militar (...) o que eu queria era fazer a revolução".
Desde então, apresenta-se como um “revolucionário” de várias causas, mas distante do marxismo. Sua "opção preferencial pelos pobres", sustenta, decorre da teologia da libertação.
Candidato pelo Pacto Histórico, endossa a defesa do meio ambiente. Ele propõe parar a exploração de petróleo (cujas vendas representam 4% do PIB) em uma "transição" para energias limpas, ampliar a produção de alimentos, reformar as regras de promoções dentro das Forças Militares, entre outras mudanças.
Se chegar ao poder, os militares terão que jurar fidelidade a esse ex-guerrilheiro que prometeu retomar as negociações de paz com o Exército de Libertação Nacional (ELN).
Impetuoso
Depois de assinar a paz, Petro chegou ao Congresso e depois à prefeitura de Bogotá em 2012-2015.
Como parlamentar, destacou-se por denunciar os vínculos entre políticos e os paramilitares de extrema-direita, mas como prefeito ganhou fama de autoritário e mau administrador por seu plano caótico de estatizar a coleta de lixo, então nas mãos de particulares.
Daniel García-Peña, assessor de Petro na época e que se distanciou dele por causa de seu "despotismo", ainda se lembra de suas "dificuldades em trabalhar em equipe", embora reconheça seu conhecimento do país e sua inteligência.
Ele tem "um temperamento muito impetuoso e autoritário, e quando insistiu em realizar suas propostas (...) não soube conciliar os diferentes setores para colocá-las em prática. Travou muitas brigas ao mesmo tempo e isso gerou muita frustração", disse o professor universitário à AFP.
Petro é casado com Verónica Alcócer e tem seis filhos.