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Papa Francisco

Piada da cachaça mostra que, para a direita, lidar com o papa Francisco é um dilema

Francisco sempre foi visto com certa desconfiança por parte significativa da direita, considerado um líder com simpatias que beiram o progressismo

Papa FranciscoPapa Francisco - Foto: Alberto Pizzoli/AFP

Poucas coisas têm sido tão complicadas para os conservadores como lidar com um papa não convencional como é o argentino Jorge Bergoglio, vulgo Francisco.

A última gracinha dele, sobre no Brasil as pessoas beberem cachaça demais e rezarem de menos, gerou um dilema para muitos seguidores fervorosos da fé católica.

Francisco sempre foi visto com certa desconfiança por parte significativa da direita, considerado um líder com simpatias que beiram o progressismo, tanto nas ideias, como no estilo.



Ele fala demais sobre temas como ambientalismo, direitos humanos e minorias, o que o distancia de seus antecessores Bento 16 e João Paulo 2º, esses sim ídolos dos conservadores.

Mas criticar abertamente o papa ainda parece ser um certo tabu para os principais influenciadores digitais conservadores da base do presidente Jair Bolsonaro.

Um dos principais, o youtuber católico Bernardo Kuster, manteve respeitoso silêncio. Mesmo líderes evangélicos, que não teriam motivo para poupar o chefe de uma religião concorrente, deixaram de se manifestar.

Isso não significa que a fala do papa tenha descido redondo, como mostra uma seleção de manifestações de conservadores em redes sociais.

Houve quem pintasse Francisco de vermelho.

E quem o acusasse, sem meias palavras, de seguir o comunismo (que, aliás, professa o ateísmo).

Também foi ressuscitado o velho fantasma do filósofo italiano Antonio Gramsci, ideólogo do que os conservadores consideram pai do pecado mortal do "marxismo cultural".

E, num ataque particularmente pesado, houve referência à aprovação na Argentina, onde o papa nasceu, da lei que amplia o direito ao aborto.

O fato de o líder católico ter recebido o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Vaticano não ajuda em nada a melhorar sua popularidade com a direita. No Twitter, houve diversas referências jocosas ao fato de a cachaça mencionada por Francisco ser lembrança do bafo do ex-presidente.

Isso significa que os conservadores vão romper com o Vaticano? Longe disso. O efeito mais provável é o oposto: tornar ainda mais ferrenha a direita católica brasileira, que se organiza no próprio clero e em organizações leigas, como o Centro Dom Bosco.

Quanto a Francisco, seguirá dando um nó na direita, a cada estripulia nova que aprontar.

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