Plano de paz de Trump para a Ucrânia deve ser apresentado na semana que vem
Proposta deve defender o congelamento dos combates, dar garantias de segurança a Kiev e deixar no "limbo" territórios ocupados pela Rússia
O governo do presidente dos EUA, Donald Trump, deve apresentar na semana que vem um plano para a guerra na Ucrânia, que está prestes a completar três anos.
Um cessar-fogo duradouro é uma promessa de campanha do republicano, que chegou a prometer acabar com o conflito em 24 horas e que diz manter contato com representantes de Kiev e Moscou.
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De acordo com a Bloomberg, a proposta será revelada durante a Conferência de Segurança de Munique, entre os dias 14 e 16, pelo enviado especial dos EUA para a Ucrânia, Keith Kellogg.
Em publicação no X, na segunda-feira, ele disse que estava “ansioso para falar sobre a meta de Donald Trump de acabar com a sangrenta e custosa guerra na Ucrânia”, e que se reunirá com aliados.
Não foram dados detalhes sobre como serão as discussões, tampouco sobre o que Kellogg levará a Munique.
Segundo informações da equipe de Trump que circulam nas últimas semanas, o ponto central será a ideia da “paz através da força”, ou seja, pressionar russos e ucranianos ao engajamento diplomático.
Segundo a Bloomberg, os americanos devem propor um congelamento dos combates, similar ao visto no leste ucraniano depois do início da guerra civil, em 2014, e sugerir que os territórios ocupados pelos russos sejam postos em uma espécie de limbo.
Washington ainda forneceria garantias de segurança a Kiev para impedir uma nova invasão russa. Uma versão inicial do plano, revelada em dezembro pela agência Reuters, defendia que as áreas tomadas por Moscou — cerca de 20% da Ucrânia — ficassem com as forças russas, e que os ucranianos desistissem da adesão à Otan.
Mesmo antes da posse de Trump, representantes da Casa Branca têm mantido diálogo constante com Moscou e Kiev, muito embora sem revelar o tom das conversas, tampouco o grau de comprometimento dos dois lados com um processo de paz.
Nesta quarta-feira, o secretário de Imprensa do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou a jornalistas que os contatos se intensificaram.
Na véspera, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou em entrevista que está pronto para conversar com o líder russo, Vladimir Putin, "se essa for a única forma na qual poderemos trazer paz aos cidadãos da Ucrânia e não perder pessoas".
— Não serei gentil com ele, o considero um inimigo. Para ser honesto, acho que ele me considera um inimigo também — disse Zelensky ao jornalista Piers Morgan.
Para Peskov, a prontidão de Zelensky precisa “ser baseada em fatos”, e que ela “por enquanto não é mais do que palavras vazias”.
Quase três anos depois de uma invasão que custou dezenas de milhares de vidas e provocou uma das maiores ondas de refugiados do século XXI, Zelensky se vê com cada vez menos opções para resistir à ofensiva russa.
A chegada de Trump à Casa Branca pôs em xeque os envios bilionários de armas e dinheiro iniciados por Joe Biden e aliados em 2022, e o poder de ataque russo, apoiado pelo Irã e Coreia do Norte, tem imposto derrotas cruciais no leste.
Neste cenário, o próprio tom do líder ucraniano, que há poucos meses se recusava a considerar a concessão de territórios aos russos, começou a mudar.
Além da prontidão para falar com Putin, que o considera um presidente ilegítimo (seu mandato expirou no ano passado, mas a lei marcial ucraniana permite sua permanência), ele se mostra disposto a concordar com novas condições impostas pela Casa Branca.
Além do congelamento do conflito, Trump sinalizou que a Ucrânia poderá pagar pela ajuda militar com suas riquezas minerais, citando as reservas de terras raras, usadas na indústria de tecnologia de ponta, e “outras coisas”, como o lítio presente no solo do país, e que é considerado crucial para a fabricação de baterias.
Na terça-feira, Zelensky afirmou que a proposta, chamada por ele de “investimento externo”, veio de Kiev, e que uma delegação dos EUA deve chegar ao país em breve.
O plano foi chamado de “egoísta” pelo chanceler alemão, Olaf Scholz, e o Kremlin tampouco pareceu confortável com a entrada de empresas americanas no setor de mineração ucraniano.
Boa parte das reservas de terras raras estão em áreas ocupadas pelos russos, no leste do país.
— Se chamarmos as coisas como elas são, esta é uma proposta para comprar ajuda, em outras palavras, mas especificamente para fornecê-la em uma base comercial — afirmou Peskov, segundo a agência Tass.
— Seria melhor, é claro, que a assistência não fosse fornecida, pois isso contribuiria para o fim deste conflito.
Afirma Seul: Mais de mil soldados da Coreia do Norte enviados para lutar na guerra na Ucrânia foram mortos ou feridos no conflito
Nesta quarta-feira, russos e ucranianos confirmaram a troca de 300 prisioneiros de guerra — 150 de cada lado —, que já estão a caminho de seus respectivos países.
Em entrevista ao jornal Korea Times, Dmytro Ponomarenko, embaixador da Ucrânia na Coreia do Sul, afirmou que está disposto a conversar com Seul sobre os soldados norte-coreanos capturados em solo ucraniano que não queiram regressar a seu país.
— Dada a ameaça à vida e à liberdade dos militares norte-coreanos no caso de sua repatriação para a República Popular Democrática da Coreia (Coreia do Norte), e se eles se recusarem a voltar, estamos abertos para um diálogo com parceiros internacionais, em particular a República da Coreia (Coreia do Sul), sobre as possibilidades de sua transferência para terceiros países — disse o diplomata.
Estima-se que 10 mil militares da Coreia do Norte tenham sido enviados à Rússia, mas sua presença na guerra não foi confirmada por Pyongyang ou Moscou.
Segundo Seul, eles não atuam mais em funções de combate desde janeiro.