VIOLÊNCIA

PM que tentou matar ex-companheira, com quem tinha caso há 11 anos, é condenado pela Justiça

Erivaldo Gomes dos Santos efetuou cinco disparos contra a manicure Renata Sérgio da Silva, em setembro de 2018

Renata Sérgio da Silva chora durante discurso de Eduardo Morais, advogado de defesa do réuRenata Sérgio da Silva chora durante discurso de Eduardo Morais, advogado de defesa do réu - Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco

O sargento reformado da Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) Erivaldo Gomes dos Santos foi condenado a 19 anos e 10 meses de prisão pelo crime de tentativa de homicídio triplamente qualificado contra a manicure Renata Sérgio da Silva, sua ex-companheira, com quem manteve um relacionamento durante 11 anos. Ela tinha uma medida judicial protetiva contra ele.

Eles haviam terminado a relação amorosa extraconjungal aproximadamente seis meses antes do crime acontecer. Juntos, eles têm uma filha de 15 anos.

O júri popular que condenou o homem durou aproximadamente 10 horas, acontecendo no Plenário da 1ª Vara do Tribunal do Júri da Capital, no Fórum Desembargador Rodolfo Aureliano, no Recife. O juiz José Carlos Vasconcelos foi quem presidiu a sessão.

Julgamento foi iniciado às 9h desta segunda-feira (19) (Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco)

A tentativa de tirar a vida da mulher aconteceu em setembro de 2018. Na ocasião, a manicure, à época com 30 anos de idade, foi alvo do ex-companheiro com cinco disparos de arma de fogo. Quatro a acertaram e um pegou de raspão.

Erivaldo Gomes dos Santos foi preso um mês depois e encontrava-se em regime fechado no Centro de Reeducação da Polícia Militar (Creed), em Abreu e Lima.

O episódio aconteceu dentro de um salão de beleza onde a vítima trabalhava, no bairro do Parnamirim, na Zona Norte do Recife. Os tiros foram registrados pelas câmeras de segurança do estabelecimento. Alguns trechos foram reproduzidos durante o julgamento.

Imagens das câmeras de segurança do salão de beleza onde o crime aconteceu foram reproduzidas durante o julgamento desta segunda-feira (19) (Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco)

Segundo a advogada da vítima, Tatiana da Hora, existem evidências claras que comprovam o crime.

“A tentativa de feminicídio é escancarada e filmada. Ela foi alvejada com uma medida protetiva dentro da bolsa. Então, não tem muito o que discutir", afirmou Tatiana.

Comportamento do réu
Enquanto acompanhava as apresentações de acusação e defesa do seu caso, o réu Erivaldo Gomes dos Santos apresentou um comportamento inquieto. 

Na maior parte do tempo, de cabeça baixa e de olhos fechados, ele chorou e agitou pernas e braços. 

“Merece apanhar”
Durante a sua fala, o advogado Wendell Freitas, um dos que defendeu o acusado, citou o caso conjugal mantido entre o condenado e a vítima e disse que, em cidades do interior de Pernambuco, há uma teoria de que, segundo ele, as mulheres dizem que “a mulher que está disposta a ‘pegar’ marido dos outros tem que estar disposta a receber umas boas lapadas também”.

Advogado Wendel Freitas, que defendeu o homem condenado pela tentativa de homicídio triplamente qualificado (Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco)

Os representantes da acusação do caso afirmaram que a manicure sabia da existência do casamento de Erivaldo desde o início da relação. A defesa dela, por sua vez, assegurou que não.

A colocação de Freitas causou indignação à promotora de Justiça do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) Eliane Gaia.

“Ele fala como se nós, mulheres, fôssemos molecas. É como se voltássemos no tempo onde a mulher não podia falar nada e era objeto do marido. Naquela época, a mulher só poderia fazer uma coisa se o marido autorizasse. Cuidado com quem vocês se relacionam por aí, para não levarem umas lapadas”, disse, se dirigindo ao público da plénaria.

Entenda a condenação
Erivaldo Gomes dos Santos foi condenado por tentativa de homicídio triplamente qualificado. A promotora Eliane Gaia explicou os termos técnicos da condenação.

“O resultado foi extremamente satisfatório. O réu foi condenado pela tentativa de homicídio, com as qualificadoras de feminicídio, motivo torpe e o recurso que impossibilitou a defesa da vida. Ele não aceitava o fim do relacionamento e esse foi o motivo torpe, teve ainda o momento em que ela foi surpreendida no trabalho e ele dificultou e impossibilitou a vítima de se defender. E foi uma tentativa de feminicídio, em razão do gênero. Isso está previsto na lei e também nas imagens”, disse Eliane.

Promotora de Justiça do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), Eliane Gaia (Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco)

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