'Poderíamos reduzir em 38% as mortes por Covid-19 no país', afirma presidente da Eli Lilly
O Ministério da Saúde abriu consulta pública ontem para debater a inclusão do remédio na rede pública
Primeiro medicamento contra a Covid-19 a obter parecer favorável da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), o baricitinibe já está na rede privada de saúde desde setembro, quando recebeu aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser comercializado no país.
Para a presidente da farmacêutica Eli Lilly no Brasil, Karla Alcazar, o medicamento originalmente usado contra a artrite reumatoide poderia também estar também na rede pública para auxiliar no combate à pandemia.
O Ministério da Saúde abriu consulta pública ontem para debater a inclusão do remédio na rede pública. A sociedade poderá contribuir a partir até 25 de março.
Estudos da fabricante apontaram a redução em 38% das mortes de pacientes com Covid-19 com o anti-inflamatório. O valor do tratamento completo (que dura 14 dias) é de cerca de R$ 460. Segundo a farmacêutica, a droga, vendida sob o nome comercial Olumiant, é usada em 15 países contra a Covid.
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Como o baricitinibe pode atuar contra a Covid-19?
Ele está aprovado para artrite reumatoide no Brasil e agora tem uma nova indicação para Covid-19, para os pacientes que estão hospitalizados e necessitam de oxigenação. Então, é a Covid grave, o que dá muitas perspectivas porque, para esses pacientes, o baricitinibe tem demonstrado que pode reduzir mortes.
Como surgiu a ideia de testar o medicamento no tratamento da doença?
Foi uma iniciativa tanto da indústria como de investigadores independentes da Inglaterra. Eles mostraram interesse em avaliar o efeito de controle dos processos inflamatórios que o baricitinibe tinha demonstrado na artrite reumatoide, na inflamação que ele causa nos pacientes hospitalizados.
Quais foram os resultados dos estudos com a droga?
Ele reduz 38% na mortalidade naqueles pacientes que estão hospitalizados. Temos dois estudos. Um foi o primeiro estudo global, randomizado, duplo-cego, controlado por placebo, para avaliar esse produto em pacientes hospitalizados com Covid-19 recebendo tratamento padrão. Esse estudo foi de fase 3, com 1.525 pacientes, que analisou pessoas que não necessitavam de oxigênio suplementar (não estavam intubadas) e também deveriam ter pelo menos um marcador de inflamação aumentado e o indicador de risco de progressão da doença. Foram estudos globais, realizados nos Estados Unidos, Brasil, México, Argentina, Rússia, Índia, Reino Unido, Espanha e muitos outros. O Brasil foi um dos países que mais incluiu pacientes, foram 366 de 18 centros de investigação em cinco estados.
A previsão em novembro era de que mais de 570 mil comprimidos de baricitinibe fossem entregues ao SUS até 30 de março para adultos com artrite reumatoide. Quanto já chegou à rede pública?
Temos completado as entregas. Falta a última, do total de quatro. Estamos falando, agora, com o Ministério da Saúde para entender como vamos entregar essa quarta remessa.
Todos os lotes têm a mesma quantidade?
Sim. É só dividir por quatro e 25% é o que falta [então, são 92.500 comprimidos].
Caso esse medicamento seja incorporado ao SUS para o uso contra a Covid-19, parte pode ser usado no tratamento contra o coronavírus?
Essa seria uma decisão do Ministério da Saúde, mas posso te falar que nós estamos prontos para fornecer tanto o pedido de artrite reumatoide, como o de Covid. Nós temos produto disponível para o que o Ministério precisar.
Qual é a disponibilidade de produção da Eli Lilly para esse medicamento para o Brasil? E em que prazo?
É, digamos, ilimitado. O que o governo precisar nós estamos prontos para fornecer. Os prazos são os padrões que estamos negociando com o governo, mas não teria impacto na demanda nem de artrite nem de Covid.
Seria disponibilidade imediata?
Imediata, total. De fato, temos nosso produto aqui no Brasil pronto para ser entregue.
Já há negociações para a compra do baricitinibe para o uso contra a Covid-19 aqui no Brasil?
Nesse momento, estamos esperando a recomendação positiva da Conitec. Mas temos boas notícias para começar: recebemos uma avaliação preliminar positiva de incorporação. É importante falar que, de hoje até dia 25, está aberta uma consulta pública em que a Conitec pede opinião tanto ao público quanto aos técnicos para dar contribuições sobre a incorporação ou não do baricitinibe [no SUS]. É bem importante que a sociedade e os técnicos se posicionem dentro dessa consulta pública para que a Conitec reforce a avaliação positiva de incorporação.
Esse é um medicamento de alto custo para o SUS. Qual o valor dele?
Na verdade, é um custo que está comparado com o custo da UTI. Hoje, o custo aproximado do tratamento completo de 14 dias é de R$ 460 versus um custo de internação que pode ir muito além de duas semanas. Acho que esse é um dos fatores que fez com que a Conitec avaliasse positivamente e preliminarmente a indicação para o SUS.
Quais são os diferenciais desse medicamento em relação aos outros que já foram aprovados contra a Covid-19 pela Anvisa?
Esse é o único que tem avaliação preliminar positiva pela Conitec.
Com o avanço da vacinação e a redução de casos e de mortes no Brasil, quais perspectivas esse medicamento pode oferecer no tratamento contra a Covid-19 no próximo ano de pandemia, caso seja incorporado na rede pública?
São muitas boas notícias. Os casos estão caindo, mas ainda temos mortes, é um fato. Pensando nesses 400 óbitos que acontecem por dia agora no Brasil, poderíamos reduzir 38% deles. Então, acho que esse produto é muito importante porque salva vidas. Essa indicação contra a Covid-19 foi aprovada para uso permanente, não somente emergencial. A diferença, em resumo, é que os requisitos são mais complexos. Não é um registro que vai ser tirado no futuro.