Polícia detém homem murchando pneus de caminhões em protesto na Grande São Paulo
Um homem foi flagrado pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) no momento em que murchava pneus de caminhões de manifestantes que estavam estacionados na rodovia Régis Bittencourt, na região de Embu das Artes (Grande SP), no início da manhã desta quinta-feira (9).
A PRF afirmou à reportagem que a pista sentido capital estava bloqueada, na altura do km 280. Ela foi liberada por volta das 9h30, gerando uma fila de veículos de aproximadamente cinco quilômetros, de acordo com a concessionária Arteris.
Enquanto os veículos estavam parados, o suspeito, identidade não informada, foi visto por policiais rodoviários no momento em que esvaziava pneus de alguns caminhões. Ao todo, de acordo com a polícia, 12 veículos foram afetados.
Leia também
• Líder dos caminhoneiros é Bolsonaro, diz ex-ministro que enfrentou greve de 2018
• 30 caminhões deixam Esplanada dos Ministérios; 71 permanecem no local e autoridades negociam saída
• Postos de combustíveis seguem com longas filas na RMR
"Ele tentava criar um tumulto, murchando os pneus de caminhões, e nossas equipes flagraram a ação dele. Quando foi contido, as pessoas que tiveram dano foram procuradas. Ninguém quis prestar queixa, por isso ficou condicionado de o homem pagar os prejuízos", explicou a PRF, acrescentando que o suspeito desembolsou cerca de R$ 40 para cada motorista, gerando-lhe uma conta de quase R$ 500. Após o pagamento, o homem foi liberado.
Na noite de quarta-feira (8), um grupo também bloqueou o quilômetro 148 da rodovia Anhanguera, no sentido da capital paulista, em Limeira (151 km de SP). A concessionária que administra a pista, a CCR Autoban, orientava os motoristas a usar a rodovia dos Bandeirantes.
Na via Dutra também houve paralisações nas cidades de Pindamonhangaba, Caçapava e Lorena, todas no interior paulista.
Caminhoneiros realizaram paralisações em trechos de rodovias em ao menos 15 estados nesta quinta-feira, dois dias após os atos de raiz golpista convocados pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Sem apoio formal de entidades da categoria, os motoristas são alinhados politicamente ao governo ou ligados ao agronegócio.
Segundo o Ministério da Infraestrutura, os protestos "não se limitam às demandas ligadas à categoria". As principais pautas dos caminhoneiros hoje são preço do combustível e piso mínimo do frete. "Não há coordenação de qualquer entidade setorial do transporte rodoviário de cargas", afirmou a pasta. Entidades de caminhoneiros corroboram essa posição.
"Não tem pauta caminhoneira na mobilização, é movimento ideológico", diz Joelmis Correia, do Movimento GBN (Galera da Boleia da Normatização Pró-Caminhoneiro). Segundo ele, há "neutralidade da categoria", para que cada motorista decida se quer protestar em apoio ao governo ou não.
'Zé Trovão' permanece foragido
Na véspera dos atos bolsonaristas, o caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes, conhecido como Zé Trovão, que está foragido, publicou um vídeo nas redes sociais convocando manifestantes ao protesto em Brasília. Segundo apurado com motoristas, ele tem alto poder de mobilização na categoria.
Trovão defendeu o impeachment de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e desafiou o ministro Alexandre de Moraes a prendê-lo.
Moraes decretou a prisão do caminhoneiro na sexta-feira (3). Ele é acusado de promover a incitação de atos violentos contra o Congresso Nacional e o STF.
Nesta quinta, Gomes compartilhou um novo vídeo na internet, intimando Bolsonaro a se manifestar sobre a paralisação.
"Nós queremos que o senhor fale para o povo brasileiro isso, que faça um vídeo, fale a data, o dia, e que o senhor peça para nós caminhoneiros abrir [liberar as rodovias] porque aí a gente vai fazer vídeos pedindo para liberar as pistas", afirmou Gomes, fazendo menção a um suposto áudio, no qual Bolsobaro fala para que a ação dos caminhoneiros prejudica a economia.
No registro, em que Gomes afirma ter sido feito no início da madrugada desta quinta, ele diz ainda que sua vida "está destruída", pois estaria sendo "perseguido politicamente". "Tem um mandato [sic] de prisão [contra mim], com o risco de eu nunca mais ver a minha família, porque eu não vou para a cadeia, porque não sou bandido", afirma Gomes, se referindo ao mandado de prisão expedido pelo ministro do STF.