Polícia estadunidense investiga caso de violência policial contra homem negro paraplégico
Segundo o departamento de polícia, havia ainda uma criança de 3 anos no carro, que foi retirada por um agente
O Departamento de Polícia de Dayton, cidade no estado americano de Ohio, investiga uma abordagem contra um homem negro paraplégico que, ao ser retirado à força de seu carro, foi arrastado pelos cabelos e jogado no chão enquanto gritava por ajuda e repetia que tinha deficiência física.
O caso aconteceu no último dia 30 e foi registrado pela câmera do uniforme de um dos agentes que faz a abordagem.
Segundo a polícia, investigadores do departamento de narcóticos monitoravam uma casa suspeita de ser uma boca de fumo. Ainda de acordo com a versão policial, os agentes pararam um veículo que foi visto deixando a casa. O motorista do carro se identificou como Clifford Owensby.
Os policiais pediram a ajuda de um cão farejador para procurar drogas no veículo e afirmaram que o motorista deveria deixar o carro. Owesnby afirmou que não poderia sair do veículo por ser paraplégico. Um dos policiais insiste e afirma que pode ajudar o motorista a sair do carro.
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Owensby recusa e repete que é deficiente físico. "Eu sou paraplégico, irmão, você pode me machucar", diz ele, que pede que o agente chame algum superior ao local. O motorista ainda telefona para um amigo pedindo que vá até lá com câmeras para gravar a abordagem.
Motorista e policial começam a discutir, e o agente tenta puxar Owensby do carro, que continua repetindo que é deficiente físico e se agarra ao volante. Outro policial aparece para puxar o motorista, que resiste e é agarrado pelos cabelos até cair no chão, enquanto pede por ajuda. Ele é algemado e arrastado até a viatura policial.
Segundo o departamento de polícia, havia ainda uma criança de 3 anos no carro, que foi retirada por um agente. A polícia diz que Owensby foi levado a um hospital, onde passou por exames e foi liberado. Com ele, os agentes afirmam que encontraram uma sacola com US$ 22,4 mil (R$ 124 mil), onde os cães farejadores sentiram cheiro de drogas, diz a polícia.
Apesar disso, ele não foi acusado de crime relacionado a drogas, mas por transportar uma criança sem a cadeirinha e pela escuridão do filme colocado no vidro do carro, segundo o jornal americano Washington Post.
As imagens provocaram reações em um país traumatizado pela violência policial, com casos de grande repercussão, como a morte de George Floyd por sufocamento em Mineápolis no ano passado, que foi o gatilho para protestos em massa por todo o país e em várias partes do mundo, no maior movimento contra o racismo nos EUA desde a luta pelos direitos civis nos anos 1950 e 1960.
Grupos organizados reagiram à abordagem à Owesnby. A unidade local da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor, um dos mais influentes grupos de defesa de direitos civis nos Estados Unidos, prestou queixa e vai atuar na defesa de Owensby,
"Puxar este homem para fora do carro pelo cabelo, um homem paraplégico, é totalmente inaceitável, desumano e joga uma luz negativa na nossa grande cidade de Dayton", afirmou Derrick L. Foward, presidente da sede local da entidade, ao Washington Post.
Em entrevista ao jornal local Dayton Daily News, Owesnby queixou-se da maneira como foi tratado. "Senti como se eles não me respeitassem como cidadão", afirmou.
Policiais da cidade defenderam a abordagem. "Às vezes a prisão de um indivíduo que não coopera não é agradável, mas é uma parte necessária do cumprimento da lei para manter a segurança pública", disse Jerome Dix, presidente de uma associação local de policiais, ao mesmo jornal.
A polícia de Dayton, no entanto, já estava sob escrutínio depois que um rapaz surdo, mudo e com paralisia cerebral processou o órgão alegando ter sido agredido em uma abordagem no ano passado, segundo o Washington Post.
A prefeita da cidade, Nan Whaley, chamou o vídeo de "muito preocupante". "Não importa onde você viva ou como você se parece, todo mundo merece ser tratado com respeito e dignidade pela polícia de Dayton", disse ela, que afirmou que a cidade está comprometida com a reforma do órgão e com a transparência nesse tipo de caso.