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Polícia italiana prende suspeito de assassinar transexual brasileira em Milão

Corpo de Manuela de Cássia, 48, a 'Panterona', foi encontrado com cerca de 50 facadas

A transexual brasileira Manuela de Cássia, morta na ItáliaA transexual brasileira Manuela de Cássia, morta na Itália - Foto: Reprodução/Facebook

A polícia italiana prendeu, na manhã desta sexta-feira (24), um suspeito de assassinar uma transexual brasileira em Milão durante o fim de semana. O corpo de Manuela de Cássia, 48, foi encontrado na última segunda-feira (20), com cerca de 50 facadas.

O homem, um italiano de 42 anos que não teve o nome divulgado, seria cliente habitual da vítima. De acordo com as autoridades policiais, ele optou por permanecer em silêncio durante o primeiro depoimento.

Os policiais apreenderam roupas, um sapato e ainda uma faca que poderia ser a arma do crime.

Segundo o jornal La Repubblica, os carabinieri chegaram até o homem ao analisarem imagens do circuito interno de segurança do prédio de Manuela. As gravações mostrariam o homem entrando e saindo do apartamento da vítima e ainda a placa de seu carro.

 



Também de acordo com o periódico italiano, amigos da transexual reconheceram o suspeito e sua ligação com ela.
O crime aconteceu na casa da transexual, na Via Plana, em Milão, no norte da Itália. O corpo de Manuela foi encontrado após vizinhos notarem um forte cheiro de gás vindo de seu apartamento.

Segundo a polícia, o assassino deixou o gás ligado possivelmente como uma forma de provocar uma explosão ou um incêndio que ocultasse as provas do crime.

As autoridades trabalham com a hipótese de que o assassinato da brasileira tenha sido motivado por uma dívida.

Miss Pantera Gay
"Eu passei pela vida, fiz meu caminho. Algumas lágrimas derramei, outras engoli a seco. [...] A felicidade começa dentro de mim mesma. Vou valorizar cada pessoa que possa me fazer feliz e vou me cercar de pessoas que gostam de mim. Esta sou eu. Prazer, me chamo Manuela de Cássia", dizia uma das publicações da transexual em uma rede social.

Nascida em Fortaleza, com breve passagem em São Paulo, chegou a Milão em 1996.

Ela possuía perfis em sites de prostituição e, segundo a imprensa italiana, costumava atender os clientes na casa onde aconteceu o crime.

"Panterona", como ficou conhecida devido ao título de Miss Pantera Gay, ganhou destaque nacional ao participar do quadro de dublagens Gala Show, do programa Raul Gil, na Record, um ano antes.

Em uma das apresentações, foi questionada pelo apresentador sobre se as mulheres deveriam ter os mesmos direitos que os homens. Sem hesitar, respondeu: "sim, porque se não tivessem, eu não imitava elas", arrancando aplausos da plateia.

No programa, ainda recebeu elogios da jurada Marly Marley, que a comparou com a atriz e cantora italiana Sophia Loren.

A mulher do fumê negro nos olhos, cabelos longos cacheados, lente de contato cinza, batom vermelho e roupas com estampa de onça, via, na chegada ao continente europeu, a oportunidade para dar uma vida melhor à família.
"Ela sempre foi meu tudo, amável, carinhosa e muito família", conta a irmã Lisieux Alves.

Manuela tinha em Lisieux um alicerce e nos sobrinhos Cauê, 15, e Kyara, 7, os herdeiros. O cuidado vinha tanto em ajuda financeira, custeando educação, transporte, saúde e lazer dos três, como nas longas conversas diárias por telefone e aplicativos de mensagem.

Enviar mensagens logo pela manhã para as pessoas de quem gostava era seu costume. Cada uma começava com um apelido carinhoso e era sempre regada de bom humor.

"Olha, Menina Miss, vou te dar uma das minhas filhas, cuide bem dela!", lembra Amanda Marques, 46, sobre a palmeira que ganhou de presente de Manuela.

As duas se conheceram em Fortaleza, quando Amanda, ainda com 15 anos, estava em transição de gênero. O contato aumentou nos concursos de miss que participavam e se fortaleceu na Itália.

"Nós duas nunca fomos de estar sempre juntas, mas conversávamos muito por telefone, fazendo relatos de nossas vidas. Tenho áudios dela aqui. Até agora, não acredito que ela se foi", conta.

Foi na rua que Vanessa da Silva, 46, conheceu Manuela. Em uma noite de trabalho, ouviu um buzinaço e avistou uma fila de carros parando para uma mulher, causando engarrafamento em uma das principais vias de Milão. "Vi aquele mulherão, corpão, linda, e fiquei me perguntando: nossa, quem é?", rememora.

Com o passar dos dias, veio uma amizade fora do campo da prostituição. Juntas, saíam aos finais de semana para comprar bolsas e artigos religiosos nas principais feiras da cidade italiana.

Devota de Santo Antônio, Manuela costumava levar flores e acender velas, às quintas-feiras, em uma capela a duas ruas de casa.

O cheiro de comida brasileira ainda está na memória de Vanessa. A dedicação em cozinhar externalizava a dedicação e o amor aos amigos. Acordava cedo para ir ao supermercado, comprava o que precisava e preparava os pratos com capricho.

"Era uma cozinheira de mão cheia. Amava comida nordestina. Era uma forma de trazer as origens para perto dela."

Desde o ano passado, Manuela dividia o apartamento com Lorena Sandrinny, 38.

"Ela era muito generosa, muito boa de coração e experiente. Era ela quem me aconselhava. A gente gostava, praticamente, das mesmas coisas. E o que a gente discordava, sentava e conversava."

A morte da transsexual foi notícia nos principais jornais e sites italianos.

O corpo de Manuela de Cássia permanece em Milão. Nas redes sociais, familiares da brasileira pedem ajuda para fazer o translado para o Brasil, orçado em cerca de R$ 20 mil.

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