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Por que, assim como na Turquia e na Síria, terremoto no Marrocos não foi detectado?

Maioria dos tremores ocorre pela liberação repentina de uma grande tensão na crosta terrestre e só é possível prever quando os terremotos vão ocorrer minutos antes

Moradores de Marrakech se abrigam em uma praça após um terremoto de terremoto de magnitude 6,8 atingir o Marrocos Moradores de Marrakech se abrigam em uma praça após um terremoto de terremoto de magnitude 6,8 atingir o Marrocos  - Foto: Fedel Senna/AFP

O terremoto que atingiu o Marrocos na noite de sexta-feira (horário local), deixando, até a mais recente atualização, 1.037 mortos e 1.204 feridos, ocorre sete meses depois de um tremor de 7,8 de magnitude se tornar um dos desastres naturais mais mortais deste século, deixando milhares de mortos na Síria e na Turquia. A pergunta que volta a ser feita é se eventos de tais magnitudes poderiam ter sido previstos. A resposta é não.

Diferentemente de outros fenômenos naturais, como tempestades e furacões, é impossível prever quando um terremoto vai acontecer. Como a maioria dos terremotos acontece pela liberação repentina de uma grande tensão na crosta terrestre — tensão que vai se acumulando gradualmente devido aos movimentos das placas tectônicas —, só é possível prever quando os tremores vão ocorrer minutos antes do evento.

— Sabemos que a tensão está sendo acumulada nas grandes falhas e sabemos onde elas estão, mas não temos como saber quando essa energia vai ser liberada — explicou à BBC News Mundo o sismólogo Richard Luckett, em resposta na ocasião do terremoto de fevereiro.

O abalo que devastou parte da Turquia e da Síria foi provocado por um deslocamento de três metros da placa tectônica Arábica, de acordo com o Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia (INGV) da Itália, que faz o monitoramento geológico da região. A placa Arábica se moveu em relação à placa Anatólia. O encontro das duas forma uma fenda no subsolo. O movimento tectônico resultou em um terremoto de magnitude 7,8, com as placas "escorregando" de 30 a 40 segundos.

A Turquia é uma das zonas sísmicas mais ativas do mundo. Um tremor na região de Duzce, no Norte do país, em 1999, causou mais de 17 mil mortes. Dessa vez, o terremoto ocorreu no outro extremo do país, uma região que não sofria um terremoto de magnitude superior a 7 há mais de 200 anos.
 

A fronteira com a Síria, por exemplo, é uma "zona altamente sísmica, uma das áreas mais perigosas do Mediterrâneo", segundo o chefe do INGV, Carlo Doglioni.

Mas se os especialistas conseguem saber onde há probabilidade de ocorrer um grande terremoto, é impossível prever qual será sua intensidade, já que a pressão pode ser liberada em uma série de pequenos tremores ou em um grande e único abalo. No caso da Turquia e Síria, foram dois fortes tremores seguidos.

Na segunda-feira foram registrados pelo menos 185 tremores secundários, além dos dois terremotos principais: um de 7,8 graus às 4h17 (22h17 de domingo no horário de Brasília) e outro de 7,5 graus de magnitude por volta do meio-dia (6h no horário de Brasília). Os tremores prosseguiram durante a madrugada de terça-feira.

Marrocos
O poderoso abalo sísmico desta sexta-feira, que ocorreu às 23h11 (horário local) a 18,5 km de profundidade e com epicentro a 71 km a sudoeste da cidade turística de Marrakech, aterrorizou a população, que fugiu de suas casas no meio da noite.

O tremor provocou o desabamento de vários edifícios, principalmente nas províncias e municípios de al-Haouz, Taroudant, Chichaoua, Ouarzazate e Marrakech. Ele foi sentido até na capital Rabat, a centenas de quilômetros de distância, em cidades costeiras como Casablanca ou Essaouira e mesmo também em várias províncias do oeste da vizinha Argélia, onde as autoridades descartaram danos ou vítimas.

— Sentimos um tremor muito violento, percebi que era um terremoto — disse Abdelhak el Amrani, um morador de Marrakech, de 33 anos, à AFP em entrevista por telefone. — Vi os prédios se movendo. Não temos reflexos para esse tipo de situação. Então saí e havia muitas pessoas do lado de fora. Estavam chocadas e em pânico. As crianças choravam, os pais estavam indefesos — disse Amrani.

As autoridades mobilizaram "todos os recursos necessários para intervir e ajudar nas zonas afetadas", disse o Ministério do Interior. Por causa do "enorme fluxo" de feridos nos hospital de Marrakech, o centro de transfusão de sangue local lançou um apelo por doações.

'Entramos em pânico'
Vídeos gravados em Marrakech mostram moradores deixando edifícios aterrorizados em meio aos tremores, destroços caindo de edifícios em vielas estreitas e veículos cobertos de pedras. Um deles mostra o desabamento de minarete de uma mesquita na praça Jemaa el-Fna, coração de Marrakech, deixando dois feridos.

Um correspondente da AFP viu centenas de pessoas passando a noite nessa praça emblemática por medo de tremores secundários. Alguns dormiam sobre cobertores, enquanto outros diretamente no chão.

— Andávamos pela Jemaa el-Fna quando o chão começou a tremer, foi uma sensação realmente surreal. Estamos sãos e salvos, mas ainda chocados — explicou Houda Outassad, morador da cidade, à AFP na praça. —Tenho pelo menos dez parentes que morreram em Ijoukak (uma cidade rural em al-Haouz). Acho difícil acreditar [que morreram] porque estive com eles há menos de dois dias.

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