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PRÉDIO TIPO CAIXÃO

Por que desaba com frequência? Ainda pode construir? Engenheira tira dúvidas sobre prédios-caixão

Segundo especialista, nos anos 70 houve alta demanda de construções sem carga estrutural necessária

Parte do prédio que desabou no Conjunto Beira-Mar, no município do PaulistaParte do prédio que desabou no Conjunto Beira-Mar, no município do Paulista - Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco

Por que prédios do tipo caixão desabam com frequência? Acontece só em Pernambuco? Edificações desse modelo podem ser erguidas nos dias atuais? Essas são algumas das perguntas respondidas pela engenheira civil e pós-graduada em Engenharia de Avaliações e Perícias, Nathalia Danielle da Silva.

Em Pernambuco, o assunto voltou a ganhar destaque após parte de um bloco do Conjunto Beira-Mar, no bairro do Janga, no Paulista, desabar e causar a morte de 14 pessoas. O prédio, de responsabilidade da Seguradora SulAmérica, já havia sido condenado pela Defesa Civil e estava ocupado por famílias irregularmente, como muitos. 

Uma decisão judicial datada em quatro de novembro de 2010 já ordenava que a seguradora executasse a demolição do imóvel por completo.

Em abril, o mesmo aconteceu com o Edifício Leme, no bairro de Jardim Atlântico, em Olinda, também na Região Metropolitana do Recife. Apesar de interditado há 22 anos, o lugar era ocupado por famílias e desabou parcialmente. Seis pessoas morreram entre os escombros e ao menos cinco ficaram feridas.

De acordo com informações do Instituto de Tecnologia do Pernambuco (Itep), existem aproximadamente 5,3 mil prédios desse tipo no Recife e Região Metropolitana. Desse número, cerca de mil estão com “risco alto” de desabamento e 260 têm “risco muito alto”.

A origem desse tipo de construção, segundo a engenheira Nathalia Danielle da Silva, aconteceu nos anos 70, tendo como motivação a economia e a rapidez no processo de entrega de moradias em meio ao crescimento populacional.

“Foi empregada uma técnica construtiva inovadora para a construção dos prédios do tipo caixão. Utilizou-se bloco cerâmico de vedação nas estruturas, que não resistem aos esforços como os blocos estruturais. Então, a resistência ficou por conta da argamassa empregada, no entanto, a ausência de pilares e vigas nessas estruturas, em combinação com a utilização de blocos inadequados, deixou mais frágeis. Tais edifícios existem no Brasil inteiro, no entanto, que tenha sido levantado utilizando blocos do tipo inadequado à estrutura, têm-se conhecimento até o momento, no Grande Recife, daqueles que foram construídos entre a década de 70 a 90, porque no inícios dos anos 2000, com os primeiros colapsos dessa estrutura, o método utilizando bloco de vedação foi totalmente proibido”, garantiu.

Com o passar dos anos, mais materiais da área de construção e normas de segurança se tornaram uma obrigação para a continuidade desse tipo de obras.

“É possível, desde que seja empregada a técnica adequada, utilizando bloco estrutural e não bloco resistente. Hoje em dia temos normas de construção bem mais rígidas e atualizadas, então é mais difícil a construção de edificações com mais de um pavimento, sem a segurança necessária”, disse.

A profissional também se voltou às ocupações que acontecem de forma irregular, principalmente em edifícios que já foram “condenados” pela Defesa Civil e têm a possibilidade de desabamento. Para ela, essa ação é feita por falta de opções de moradias seguras.

“É preciso levantarmos urgente o debate sobre política habitacional. Na Região Metropolitana do Recife, existem inúmeros imóveis que estão vazios, e uma das funções de um imóvel é a sua utilidade. Muitos só estão servindo à especulação imobiliária. As pessoas não invadem uma casa por opção, ainda mais sob o risco de desabamento”, alertou a engenheira.

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