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BEBIDA

Por que fico tão ansioso depois de beber? Entenda a ciência por trás da 'hangxiety'

Segundo pesquisadores, sensação afeta cerca de 22% dos consumidores sociais de álcool

Uso abusivo de álcool entre brasileiras cresce 4,25% em dez anosUso abusivo de álcool entre brasileiras cresce 4,25% em dez anos - Foto: Arquivo / Agência Brasil

Você teve uma ótima noite, mas, na manhã seguinte, a ansiedade bate: seu coração acelera e você relembra cada conversa da noite anterior na sua cabeça. Essa sensação, conhecida como ansiedade de ressaca ou “hangxiety”, afeta cerca de 22% dos consumidores sociais de álcool.

Enquanto para algumas pessoas é um leve nervosismo, para outras é uma onda de ansiedade que parece impossível de controlar. A “angústia de domingo” pode fazer você se sentir em pânico, cheio de medo e incapaz de relaxar.

A ansiedade de ressaca pode fazer com que até mesmo tarefas simples pareçam esmagadoras. Aqui está o motivo pelo qual isso acontece e o que você pode fazer a respeito.

O que o álcool faz ao nosso cérebro?
A ressaca é a maneira do corpo de se recuperar após beber álcool, trazendo consigo uma variedade de sintomas.

Desidratação e sono interrompido desempenham um grande papel nas dores de cabeça e náuseas que muitos de nós conhecemos tão bem após uma grande noite. Mas as ressacas não são apenas físicas – há também um forte lado mental.

O álcool é um depressor do sistema nervoso, o que significa que altera como certos mensageiros químicos (ou neurotransmissores) se comportam no cérebro.

O álcool relaxa você ao aumentar o ácido gama-aminobutírico (GABA), o neurotransmissor que faz você se sentir calmo e reduz as inibições. Ele diminui o glutamato, o que também desacelera seus pensamentos e ajuda a entrar em um estado mais relaxado.

Em conjunto, essa interação afeta seu humor, emoções e estado de alerta. É por isso que, quando bebemos, muitas vezes nos sentimos mais sociáveis, despreocupados e dispostos a baixar a guarda.

À medida que os efeitos do álcool desaparecem, seu cérebro trabalha para reequilibrar esses químicos, reduzindo o GABA e aumentando o glutamato. Essa mudança tem o efeito oposto ao da noite anterior, fazendo com que seu cérebro se torne mais excitável e superestimulado, o que pode levar a sentimentos de ansiedade.

Drinque com uísqueFoto: Leo Motta/Folha de Pernambuco/arquivo

Então, por que algumas pessoas sentem “hangxiety”, enquanto outras não? Não há uma resposta clara para essa pergunta, pois vários fatores podem influenciar se alguém experimenta ansiedade relacionada à ressaca.

Os genes têm um papel
Para algumas pessoas, uma ressaca é simplesmente uma questão de quanto beberam ou o quão hidratadas estão. Mas a genética também pode desempenhar um papel significativo.

Pesquisas mostram que seus genes podem explicar quase metade do motivo pelo qual você acorda se sentindo de ressaca, enquanto seu amigo pode não sentir nada.

Como os genes influenciam a maneira como seu corpo processa o álcool, algumas pessoas podem sentir sintomas de ressaca mais intensos, como dores de cabeça ou desidratação. Esses efeitos físicos mais fortes podem, por sua vez, desencadear ansiedade durante a ressaca, tornando-o mais suscetível à “hangxiety”.

Você se lembra do que disse na noite passada?
Mas um dos culpados mais comuns pela sensação de ansiedade no dia seguinte é muitas vezes o que você faz enquanto bebe.

Digamos que você teve uma grande noite e não consegue se lembrar bem de uma conversa que teve ou de algo que fez. Talvez você tenha agido de maneiras que agora se arrepende ou sente vergonha. Você pode se fixar nesses pensamentos e ficar preso em um ciclo de preocupação e ruminação. Esse ciclo pode ser difícil de quebrar e pode aumentar a sensação de ansiedade.

Pesquisas sugerem que pessoas que já lutam com sentimentos de ansiedade em suas vidas diárias são especialmente vulneráveis à “hangxiety”.

Algumas pessoas bebem álcool para relaxar após um dia estressante ou para se sentirem mais confortáveis em eventos sociais. Isso geralmente leva ao consumo excessivo, o que pode tornar os sintomas de ressaca mais graves. Isso também pode iniciar um ciclo de beber para se sentir melhor, tornando a “hangxiety” ainda mais difícil de escapar.

Prevenindo a ansiedade de ressaca
A melhor maneira de prevenir a “hangxiety” é limitar o consumo de álcool. As diretrizes australianas recomendam não mais que 10 doses padrão por semana e não mais que 4 doses padrão em um único dia. Uma dose corresponde a uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou uma dose de destilado.

Geralmente, quanto mais você bebe, mais intensos podem ser os sintomas de ressaca, e pior você provavelmente se sentirá.
 

tiro interno de jovem morena deitada na cama branca tocando o rosto tendo uma forte dor de cabeca depois da festa a noite acordando de manha com ressaca foco seletivo na mao segurando uma garrafa de vinhoRessaca

Misturar outras drogas com álcool também pode aumentar o risco de “hangxiety”. Isso é especialmente verdadeiro para drogas recreativas, como ecstasy ou MDMA, que dão um alto temporário, mas podem levar à ansiedade conforme seus efeitos desaparecem.

Se você acordar se sentindo ansioso:

Concentre-se na recuperação física para ajudar a aliviar a tensão mental;

Beba bastante água, coma uma refeição leve e permita-se tempo para descansar;

Experimente meditação mindfulness ou exercícios de respiração profunda, especialmente se a ansiedade o mantiver acordado ou sua mente estiver acelerada;

Considere registrar seus pensamentos. Isso pode ajudar a reformular pensamentos ansiosos, colocar seus sentimentos em perspectiva e encorajar a autocompaixão;

Converse com um amigo próximo. Isso pode proporcionar um espaço seguro para expressar preocupações e sentir-se menos isolado.

A “hangxiety” é um convidado indesejável após uma noite de diversão. Entender por que ela ocorre – e como gerenciá-la – pode tornar a manhã seguinte um pouco menos assustadora e ajudar a manter esses pensamentos ansiosos sob controle.

* Blair Aitken é pesquisador de pós-doutorado em Psicofarmacologia na Universidade de Tecnologia Swinburne, na Austrália. Rebecca Rothman é doutoranda em Psicologia Clínica na Escola de Ciências de Saúde da Universidade de Tecnologia Swinburne.

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