Por que judeus ultraortodoxos não eram convocados para alistamento militar em Israel? Entenda
Judeus religiosos que se dedicavam ao estudo da Torá eram excluídos do alistamento por um acordo político da época da fundação do país
A Suprema Corte de Israel decidiu, nesta terça-feira (25), que as Forças Armadas devem começar a recrutar estudantes ultraortodoxos de escolas talmúdicas, uma determinação que põe fim a um acordo que data de 1948.
Embora o serviço militar seja obrigatório para homens e mulheres em Israel, judeus ultraortodoxos puderam evitá-lo até agora caso se dediquem ao estudo dos textos sagrados, uma isenção estabelecida por David Ben-Gurion, fundador do Estado de Israel, em troca de apoio à criação de um Estado amplamente secular — para os ultraortodoxos, seu estudo da escritura é tão essencial quanto o Exército, para defender Israel.
Regidos por interpretações muito rigorosas dos costumes judaicos, os ultraortodoxos vivem isolados e constituem cerca de 13% da população de Israel.
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Cerca de 1.800 homens haredim servem atualmente de forma voluntária no Exército — menos de 1% de todos os soldados — mas o ataque liderado pelo grupo terrorista Hamas em 7 de outubro de 2023, que deixou mais de 1.200 mortos em Israel, fez aumentar o alistamento de membros do grupo: mais de 2 mil haredim procuraram se alistar nas primeiras dez semanas da guerra, de acordo com estatísticas militares.
Além de serem isentos do recrutamento, os ultraortodoxos, conhecidos em hebraico como haredim, também podem gerir seu próprio sistema educacional.
A Suprema Corte também abordou esse sistema em sua decisão, afirmando que o governo não poderia mais transferir subsídios para as escolas religiosas, ou yeshivas, que matriculam estudantes que evitam o serviço militar.
Apesar de a isenção concedida aos ultraortodoxos ser há muito tempo uma fonte de insatisfação para os israelenses seculares, o descontentamento com o tratamento especial dado ao grupo aumentou com a continuidade da guerra em Gaza, que vai entrar em seu nono mês, exigindo que dezenas de milhares de reservistas sirvam em múltiplas rodadas e ao custo das vidas de mais de 600 soldados até agora.
A Suprema Corte israelense ainda argumentou que, em meio à guerra, a situação da isenção criava uma desigualdade perigosa para o país.
"Na situação atual, o descumprimento da lei do serviço militar cria uma grande discriminação entre aqueles que são obrigados a prestá-lo e aqueles para quem não são tomadas medidas de mobilização", argumentou o tribunal.
"Neste momento, no meio de uma guerra difícil, o fardo dessa desigualdade de encargos é mais acentuado do que nunca — e exige a aplicação de uma solução duradoura para a questão", escreveram os juízes na decisão.
Como a decisão da Suprema Corte é de cumprimento obrigatório, cabe agora cabe às Forças Armadas preparar planos para incorporar mais ultraortodoxos em suas fileiras.
Os militares já disseram que têm condições de alistar mais 3 mil ainda este ano. Estima-se que haja cerca de 66 mil homens haredim em idade de prestar serviço militar, segundo Shuki Friedman, vice-presidente do centro de estudos Instituto de Políticas do Povo Judeu, em Jerusalém.