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guerra na ucrânia

Por que o apoio militar da China à Rússia mudaria o cenário da guerra?

Analistas acreditam que há algo maior em jogo e veem o conflito na Ucrânia se transformando em uma "guerra por procuração", ao estilo da Guerra Fria

Blinken está em uma viagem de dois dias em Atenas para discussões sobre o Diálogo Estratégico EUA-GréciaBlinken está em uma viagem de dois dias em Atenas para discussões sobre o Diálogo Estratégico EUA-Grécia - Foto: Michael Varaklas / POOL / AFP

O governo dos Unidos afirma que a China está considerando enviar armas à Rússia para a guerra do país na Ucrânia e, embora Pequim negue, analistas consideram que isto pode mudar o cenário do conflito que começou em fevereiro do ano passado.

A seguir algumas perguntas fundamentais sobre a alegação de Washington e suas implicações.

O que está por trás da afirmação dos Estados Unidos?
Desde que os tanques russos entraram na Ucrânia, a China oferece cobertura diplomática e apoio financeiro ao governo de Vladimir Putin, mas sem envolvimento militar ou o fornecimento de armas letais.

Empresas chinesas sob controle estatal venderam drones não letais e outros equipamentos para Rússia e Ucrânia, o que levou Moscou a recorrer ao Irã para adquirir armas, como os drones armados.

O governo dos Estados Unidos também afirma que a Coreia do Norte enviou foguetes e projéteis de artilharia para a Rússia.

Washington acredita que isto pode mudar e o secretário de Estado, Antony Blinken, expressou os temores.

"Com base nas informações que temos (...) estão considerando fornecer apoio letal", declarou Blinken no domingo sobre a China.

Blinken não apresentou evidências para apoiar a versão e os críticos apontam outros erros do serviço de inteligência americano, mas a declaração segue o padrão de Washington de divulgar informações delicadas de maneira preventiva para interromper os planos russos.

"O fato de o senhor Blinken optar por tornar públicos seus temores sugere que o governo dos Estados Unidos tem uma inteligência sólida", comentou Richard McGregor, analista para Ásia do Instituto Lowy, com sede em Sydney.

Pequim acusou Washington de "propagar informação falsa" e "transferência de culpa".

Por que Washington está preocupado?
Durante a guerra, a Rússia tem enfrentado dificuldades para reunir soldados, munições e armas em quantidade suficiente para enfrentar a feroz resistência ucraniana, o que obrigou Putin a recorrer a um recrutamento em larga escala, a grupos mercenários e importações.

A Ucrânia conseguiu conter a supremacia russa e, inclusive, ter vantagem em algumas áreas. Mas alguns analistas consideram que guerra está em um ponto de inflexão, no qual cada lado clama por recursos com o objetivo de conquistar vitórias decisivas.

Neste contexto, o envio de armas chinesas mudaria o cenário, declarou à AFP Mick Ryan, major-general da reserva do exército australiano.

"Esta é uma guerra de sistemas industriais. No momento, a Rússia é superada pelo Ocidente. Se a China entrar, qualquer vantagem que a Ucrânia tenha devido à capacidade industrial do Ocidente desaparece instantaneamente", explica.

"As munições chinesas tornariam a vida muito difícil para os ucranianos, com munições de artilharia, munições de precisão ou armas de ataque de longo alcance, que estão acabando na Rússia", acrescenta.

Por que a China se envolveria?
O analista militar chinês Song Zhongping insiste que o país não enviará armas, mas destaca que a cooperação comercial e militar entre Moscou e Pequim se aprofundou antes da guerra na Ucrânia e prosseguirá.

"A China não vai escutar as demandas dos Estados Unidos. A China vai fortalecer a cooperação com a Rússia de acordo com sua vontade e suas preocupações com a segurança nacional", disse.

Muitos analistas acreditam que há algo maior em jogo e veem o conflito na Ucrânia se transformando em uma 'guerra por procuração', ao estilo da Guerra Fria.

"A guerra na Ucrânia é um momento crucial para o ambiente de segurança internacional, para a ordem mundial", disse Alexey Muraviev, professor de Estudos de Segurança e Estratégicos da Universidade Curtin de Perth.

Uma decisão chinesa de exportar armas seria "um passo enorme", que arriscaria expor o país a sanções ocidentais, queimaria as pontes que restam com Washington e afetaria suas relações com a Europa.

Muraviev, no entanto, acredita que a perspectiva de uma derrota russa é preocupante para Pequim.

"Se a Rússia perder política ou militarmente na Ucrânia, a China ficará sozinha", disse. "A Rússia é a única grande potência que apoia a China".

E uma vitória russa seria "infligir uma derrota estratégica aos Estados Unidos", acrescentou, o que ajudaria a retomar a narrativa do presidente Xi Jinping de que o Ocidente está em declínio.

"Para os chineses, o fracasso da Rússia a conquistar a vitória no ano passado foi um balde de água fria", destaca. "Eles começaram a reavaliar sua própria capacidade de executar uma campanha similar".

"A guerra na Ucrânia mostra que você pode ter desfiles militares repletos de pompa, exercícios brilhantes em larga escala, mas o verdadeiro teste para saber se o seu exército está à altura da tarefa acontece no campo de batalha".

Muraviev acredita que a China poderia tentar dividir o risco e a recompensa na Ucrânia com o envio de armas por meio de empresas sob controle estatal, da Coreia do Norte ou do Grupo Wagner (paramilitar), em vez de diretamente às forças russas.

"Eu acredito que a abordagem deles será mais clandestina", afirmou.

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