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Por que todo mundo no TikTok de repente está indo ao quiroprata? Veja riscos e benefícios

Os vídeos de quiropraxia se tornaram uma forte tendência nas redes sociais, mas alguns profissionais da área temem que os vídeos enviem uma mensagem errada sobre a profissão

Os vídeos de quiropraxia se tornaram uma forte tendência nas redes sociaisOs vídeos de quiropraxia se tornaram uma forte tendência nas redes sociais - Foto: Freepik

Nas redes sociais, pessoas são atraídas a visitar o médico graças a uma onda de vídeos de quiropraxia. Os mais populares seguem um modelo familiar: um paciente chega com uma condição debilitante.

Um quiroprata manobra os membros e articulações do paciente de maneiras horríveis, produzindo uma série de estalos e flexões. E o paciente fica aliviado após anos de dor – tudo em questão de minutos.

Para os espectadores, os clipes podem ser conteúdo ASMR (Resposta autônoma dos meridianos sensoriais, traduzido do inglês) digno de nota e satisfatório. Para os quiropratas, os vídeos são um marketing valioso.
 

Mas nem todos na área da quiropraxia estão entusiasmados com os vídeos. Alguns profissionais dizem que são enganosos, podendo levar os pacientes a pensar que curas milagrosas estão disponíveis com um estalido na coluna – ou mesmo a tentarem eles próprios os procedimentos.

A popularidade vem com seu lado negativo
Alex Tubio se tornou uma sensação no mundo da criação de conteúdo médico. Ele é dono de clínicas de quiropraxia em Houston e Orange County, no estado da Califórnia, nos Estados Unidos, e atende cerca de 100 pacientes por semana.

Tubio diz que deve todos os seus negócios às redes sociais, que começou a usar em 2019 para divulgar seu trabalho. Ele tem mais de um milhão de seguidores no TikTok, mais de um milhão de assinantes no YouTube e sua agenda de compromissos está marcada até agosto.

Os vídeos ressoam, segundo Tubio, porque os espectadores podem se identificar com seus pacientes e seus sintomas, que incluem dores de cabeça, enxaquecas, dores nas costas e problemas na mandíbula.

— Já ouvi isso tantas vezes, onde os pacientes chegam e dizem: 'Eu estava observando um cara e ele se parecia comigo. Ele não era magro. Ele estava fora de forma e precisava de algum alívio, era só eu — afirma Tubio.

Ele está ciente das críticas de que vídeos como o seu simplificam demais o tratamento, potencialmente levando alguns espectadores a acreditar que os profissionais da área podem fornecer uma solução mágica para uma infinidade de problemas.

— Meu maior objetivo é quando alguém chega, tentamos educá-lo e dizer-lhe que seu corpo é um organismo que se cura sozinho. Mas leva tempo para o seu corpo mudar — alega o conhecido quiroprata.

Na realidade, disse ele, os pacientes às vezes precisam de várias rodadas de tratamento antes que suas condições melhorem.

— Quando você está tão desesperado por alívio e tão desesperado por qualquer coisa, mesmo um pouquinho de alívio ajuda muito — aponta o empresário.

Ciência por trás da prática é inconclusiva
A investigação está longe de ser conclusiva sobre a eficácia do tratamento quiroprático e alguns especialistas questionam a sua validade.

Um artigo publicado em 2015 descobriu que, embora a quiropraxia tenha melhorado algumas condições da parte superior do corpo, como dores no pescoço e nos ombros, eram necessárias mais pesquisas sobre seu uso no tratamento da asma e de outras doenças.

Outra revisão, publicada em 2016, descobriu que o tratamento quiroprático para dores lombares parecia ser tão eficaz quanto a fisioterapia.

Nathan Hunte, 34 anos, gestor de talentos e joalheiro em Londres, fez a sua primeira visita a um quiroprático no início deste ano por influência das redes sociais.

— Para ser honesto com você, foi mais curiosidade. Porque também vi muitas pessoas recebendo o tratamento nos últimos meses — afirma Hunte.

Ele postou um vídeo em seu Instagram da sua visita ao quiroprata. Enquanto o profissional trata seu pescoço e costas, Hunte reage descontroladamente aos ajustes, tendo acessos de risos e gargalhadas – o tipo de vídeo que pode se tornar viral.

— Desde então, muitas pessoas mencionaram-me e disseram que queriam ir, e agora começaram a marcar o quiroprático — conta o joalheiro.

Os riscos de uma rachadura no pescoço
Os quiropratas líderes da área têm sentimentos mistos sobre a tendência de ajustes nas filmagens.

Richard Brown, secretário-geral da Federação Mundial de Quiropraxia, uma organização sem fins lucrativos que atua como voz internacional da profissão, disse que o grupo estava preocupado com os vídeos compartilhados nas redes sociais.

— O WFC não tolera a publicação de vídeos de pacientes tratados com manipulação da coluna vertebral ou qualquer outra forma de tratamento. Muitas vezes não era claro se a pessoa que fazia os ajustes era um quiroprático qualificado e licenciado, e se os sujeitos eram pacientes de boa-fé — aponta o secretário-geral.

De acordo com Brown, as imagens também levantaram possíveis preocupações sobre a confidencialidade dos pacientes e o risco de “pessoas leigas ou não qualificadas” tentarem replicar os procedimentos.

Ben Breen, um quiroprata em Londres, expressou preocupação semelhante. Ele trata cerca de 50 pacientes por semana, principalmente dores na região lombar, pescoço e ombros. Sr. Breen não registra seus pacientes.

Ele disse que a tendência era “obviamente ótima, mas ao mesmo tempo um pesadelo”. Embora os vídeos sejam de marketing gratuito e muitas vezes pareçam satisfatórios, disse ele, eles às vezes fornecem uma narrativa falsa de “curas milagrosas”, especialmente para pacientes sofredores que podem ter esgotado todas as outras opções.

— Isso apenas retrata a narrativa de: podemos simplesmente entrar, apenas um estalo e a pessoa estará nova em folha. Infelizmente, não funciona assim — ressalta Breen.

Mesmo alguns pacientes de quiropraxia de longa data ficam confusos com o que veem circulando e dizem que suas experiências são diferentes. Lily Harder, 43 anos, de Bloomington, Minnesota, tem consultado um quiroprata intermitentemente há mais de 20 anos depois de ser atropelada por um motorista bêbado. Só em 2023, ela teve cerca de 50 consultas.

— Nunca um quiroprata me chicoteou, como eu já vi nas redes — afirma.

Ela está preocupada que esses vídeos populares possam banalizar a profissão e aqueles que buscam alívio da dor.

— Eu já sei que existe uma forma de as pessoas olharem para o tratamento com suspeita. Algumas pessoas simplesmente não acreditam que funcione, ou acham que é uma farsa ou algo assim. Isso só me faz sentir mal por quem precisa de ajuda, porque vivem com dores e dariam uma chance até verem esses vídeos — explica.

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