Europa

Parlamento português legaliza a eutanásia

Proposta prevê que maiores de idade em "situação de extremo sofrimento, apresentando lesões irreversíveis", ou afetados por "doença incurável", possam recorrer ao suicídio assistido

Bandeira de Portugal no mastroBandeira de Portugal no mastro - Foto: Rui/Flickr

O Parlamento português aprovou, nesta sexta-feira (29), uma lei que autoriza "a morte medicalmente assistida", que fará deste país católico o quatro na Europa a legalizar a eutanásia, quando ela entrar em vigor.
 
Aprovado por 136 votos a favor, 78 contra e quatro abstenções, o texto será submetido ao presidente conservador Marcelo Rebelo de Sousa, que poderá promulgá-la, submetê-la à análise da Corte Constitucional, ou impor seu veto.


Esta lei, que vai fundir as diferentes propostas, prevê que os portugueses maiores de idade residentes em território nacional e que se encontrem em "situação de extremo sofrimento, apresentando lesões irreversíveis", ou afetados por "doença incurável", possam recorrer ao suicídio assistido.
 
A solicitação do paciente em final de vida deve ser validada por vários médicos, bem como por um psiquiatra, quando houver dúvidas sobre a capacidade da pessoa de fazer uma escolha "livre e consciente".
 
Quando chegar a hora, o médico do paciente deverá assegurar pela última vez sua vontade de terminar os seus dias na presença de testemunhas.
 
A morte assistida poderá ser praticada em centros do serviço nacional de saúde, ou em outro local "escolhido pelo paciente" desde que tenha "condições clínicas e conforto adequados", especifica a lei.
 
Agora, a lei será enviada ao presidente conservador Marcelo Rebelo de Sousa, que poderá sancioná-la, submetê-la à apreciação do Tribunal Constitucional, ou vetá-la, embora o referido veto possa ser anulado por uma segunda votação dos deputados.
 
Reeleito no domingo para um segundo mandato, o chefe de Estado é um católico praticante que até agora evitou assumir uma posição aberta sobre a lei.
 
Segundo a cientista política Paula Esprito Santo, esta é uma questão delicada para o chefe de Estado, que pode ficar tentado a recorrer ao Tribunal Constitucional.
 
Para a deputada socialista Isabel Moreira, especialista em direito constitucional que participou da redação final da lei, é um texto "consensual" que defende a "dignidade humana".
 
"A sociedade já se acalmou sobre esta questão", afirma, agora que Portugal se prepara para seguir os passos dos três países europeus que já legalizaram a eutanásia: Bélgica, Luxemburgo e Holanda.
 
A vizinha Espanha também deu um passo nessa direção em dezembro passado, mas o projeto do governo ainda não recebeu sinal verde do Senado.
 
Em outubro, o Parlamento português rejeitou um projeto de referendo sobre a eutanásia, na sequência de uma petição da Federação pela Vida, que reuniu cerca de 100.000 assinaturas.
 
"Trata-se de provocar ativamente a morte de uma pessoa. O papel do Estado é cuidar dela, não matá-la", disse José Maria Seabra Duque, um dos responsáveis por esta organização católica. 


A lei foi submetida a uma votação sem público nas galerias do Parlamento, devido às restrições sanitárias em vigor, enfrenta uma oposição discreta da hierarquia eclesiástica.
 
"Obviamente, esperamos que a lei não seja aprovada", disse à AFP o porta-voz da Conferência Episcopal portuguesa, padre Manuel Barbosa, acrescentando que a posição da Igreja "não mudou".
 

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