Colômbia e Espanha descartam ir à posse de Maduro na Venezuela; Brasil deve enviar embaixadora
Candidato opositor se reuniu nesta quarta-feira com um grupo de ex-líderes latino-americanos e o presidente panamenho, a quem entregou atas das eleições venezuelanas
Colômbia e Espanha descartaram nesta quarta-feira uma ida à questionada posse de Nicolás Maduro depois que o regime venezuelano ordenou as prisões de um ex-candidato à Presidência e de um defensor dos direitos humanos.
O Brasil, por sua vez, deve enviar sua embaixadora em Caracas, apesar de não reconhecer a vitória do líder chavista nas eleições presidenciais de 2024.
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"Este e outros fatos impedem minha presença pessoal na posse de Nicolás Maduro", declarou Gustavo Petro na rede social X, referindo-se às prisões do ex-candidato presidencial Enrique Márquez e Carlos Correa, diretor da ONG Espacio Público.
Petro, um dos maiores aliados do chavismo na região, pediu "a liberdade de todas as pessoas detidas por motivações políticas" na Venezuela.
O governo colombiano considera que as eleições de 28 de julho não foram livres devido aos "bloqueios" econômicos impostos à Venezuela, em referência às sanções dos Estados Unidos. Petro acrescentou, ainda, que a "intimidações internas" prejudicaram as eleições, sem entrar em detalhes. O líder esquerdista já havia sugerido que as eleições deveriam ser realizadas novamente.
Assim como a Colômbia, a Espanha não enviará nenhum representante à Venezuela para a posse de Maduro na sexta-feira, indicaram fontes do Ministério de Relações Exteriores do país nesta quarta-feira. Esta decisão está alinhada à posição de Madri, que como o restante da União Europeia, não reconhece a vitória de Maduro nas eleições de julho.
Segundo altas fontes do governo brasileiro, a tendência do presidente Lula é enviar a embaixadora em Caracas à cerimônia, apesar de o Brasil não reconhecer a vitória do chavista nas eleições presidenciais de 2024, informou a colunista de O Globo Janaína Figueiredo.
Brasil
Um convite para a posse do líder chavista foi entregue à Embaixada do Brasil em Caracas na terça-feira. Em crise com Maduro, pelo fato de o venezuelano não ter comprovado que realmente venceu a eleição presidencial, Lula não foi convidado diretamente para a cerimônia. O governo da Venezuela optou por enviar o convite ao corpo diplomático brasileiro.
Até a semana passada, era dada como certa a presença de Gilvânia Oliveira na cerimônia de posse. No entanto, segundo interlocutores da área diplomática, com o agravamento da situação na Venezuela, a presença ou não de alguma autoridade brasileira ainda está em análise.
Para integrantes do governo brasileiro, a presença de uma autoridade brasileira no evento é importante, para demonstrar que o Brasil não pretende cortar os laços com a Venezuela. Um interlocutor explicou que as relações entre os dois países são de Estados, e não de governos.
Detenções e sequestro
As autoridades eleitorais proclamaram Maduro eleito para um terceiro mandato de seis anos, mas a oposição, liderada por María Corina Machado, denuncia fraude e afirma que o seu candidato, Edmundo González Urrutia, foi o vencedor.
Manifestações contrárias a Maduro eclodiram em toda a Venezuela desde então. E o regime respondeu com uma dura repressão, que deixou 28 mortos, quase 200 feridos e mais de 2.400 detidos em apenas 48 horas. Três dos detidos morreram na prisão.
Desde a noite de terça-feira foram registradas pelo menos uma dezena de detenções, incluindo as de Carlos Correa, um conhecido ativista dedicado à defesa da liberdade de expressão, e Enrique Márquez, um candidato minoritário da oposição nas eleições presidenciais que contestou, sem sucesso, a validação da reeleição de Maduro pela Suprema Corte.
Mais cedo nesta quarta, González também denunciou o "sequestro" de seu genro, Rafael Tudares, enquanto ele levava seus filhos à escola.
Nenhuma das duas prisões foi confirmada pelo Ministério Público ou pelas autoridades da Venezuela.
Após as eleições, González Urrutia chegou a Madri em um avião fretado pelo governo espanhol em 8 de setembro, depois de ter se refugiado na embaixada espanhola em Caracas, denunciando ser alvo de perseguição. Em dezembro, a Espanha concedeu-lhe asilo.
Atas entregues ao Panamá
O candidato opositor, que realiza uma turnê internacional que o levou a Argentina, Uruguai, Estados Unidos e Panamá, reiterou que estará em Caracas na sexta-feira para assumir o poder no lugar de Maduro, apesar de o ministro do Interior venezuelano, Diosdado Cabello, ter garantido que se ele "pôr um pé na Venezuela, será preso e julgado".
Ele se reuniu nesta quarta-feira com um grupo de ex-líderes latino-americanos e o presidente panamenho, José Raúl Mulino, no Palácio de las Garzas, a sede do governo do Panamá, onde entregou as atas das eleições venezuelanas que, segundo ele, confirmam sua vitória, dois dias antes da posse presidencial de Maduro.
— Estas são as minhas verdadeiras faixas presidenciais tricolores — disse González Urrutia em seu discurso em uma cerimônia na capital panamenha, na qual assinou o documento de entrega dos certificados com o ministro das Relações Exteriores do Panamá, Javier Martínez-Acha.
Durante a cerimônia, milhares de boletins de voto que representam 85% das cédulas para as eleições de 28 de julho que a oposição venezuelana tem em seu poder foram colocados sobre as mesas. De acordo com Gonzalez Urrutia, essas atas desmantelam o resultado oficial de 52% dos votos a favor de Maduro.
— Essas atas que vocês podem ver neste palco são a fonte da minha legitimidade original como novo governante da Venezuela — acrescentou o opositor.
O documento assinado afirma que “com 85,18% dos registros coletados e digitalizados, fica comprovado que 3.385.155 votos foram obtidos por Nicolás Maduro e 7.433.584 por Edmundo González Urrutia”. O chavismo governista da Venezuela rejeita esses documentos.
González Urrutia entregou as atas na presença de seis ministros das Relações Exteriores da América Latina e uma dúzia de ex-presidentes, depois de se reunir com o presidente José Raúl Mulino.
Entre os ex-presidentes estavam os mexicanos Vicente Fox e Felipe Calderón, a costarriquenha Laura Chinchilla, o colombiano Andrés Pastrana, o boliviano Jorge Quiroga e os panamenhos Mireya Moscoso e Ernesto Pérez Valladares. Eles buscam coordenar um avião que os levará à Venezuela junto com o opositor.
A líder oposicionista María Corina Machado, que está escondida, disse no X que “todos os registros permanecerão sob a custódia” do governo panamenho nos cofres do Banco Nacional “até que eles retornem à Venezuela, muito em breve”.
— Como um governo liderado pelo presidente Mulino, nos sentimos muito honrados, muito honrados, pelo fato de o Panamá ter essa nobre missão de proteger a soberania do povo venezuelano — disse o ministro das Relações Exteriores do Panamá.
Na terça-feira, o Parlamento venezuelano declarou como "persona non grata" nove ex-presidentes que apoiam González Urrutia.