Pesquisa revela presença de microplásticos em praias de Pernambuco; saiba qual a que mais contém
Resultados revelam média de mais de 300 fragmentos de microplásticos em cada amostra de 200 ml de sedimento nas praias
Pesquisa realizada pelo Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (Iati) sobre a presença de microplásticos nas praias do litoral de Pernambuco mostrou um resultado preocupante.
Os resultados destacam uma média de mais de 300 fragmentos de microplásticos em cada amostra de 200 ml de sedimento, evidenciando a presença significativa desses resíduos nas praias estudadas.
Leia também
• Mais três casos de febre Oropouche são confirmados em Pernambuco; Estado tem total de nove
• Sobe para seis o número de mortes por dengue este ano em Pernambuco
• "Vamos Passear": Festival reúne 3500 participantes na Praia do Pina, no Recife
Um dos achados mais surpreendentes, na coleta feita neste ano, foi a constatação de que a praia do Paiva, que é uma área reservada e pouco habitada do Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife,, apresentou a maior quantidade de microplásticos (695 fragmentos no total). Esse número supera até mesmo praias com maior atividade turística, como Porto de Galinhas (320 fragmentos).
Os trabalhos começaram em 2019, em naufrágios na costa pernambucana. A partir daí, em 2022, foi iniciada a coleta de amostras de sedimentos em diferentes praias da região, incluindo Paiva, Suape, Porto de Galinhas e Tamandaré.
A investigação, divulgada na última quarta-feira (26), é liderada pelo biólogo e coordenador Múcio Banja e pela pesquisadora Jéssica Mendes.
Veja o vídeo
Essa descoberta levanta questionamentos sobre as fontes de contaminação e a necessidade de investigar a influência de fatores ambientais e humanos nesses cenários.
Além disso, a pesquisa também está explorando a presença de microplásticos em animais marinhos, como as esponjas, que são animais filtradores e que capturam partículas presentes nas correntes marítimas.
Os resultados preliminares indicam uma quantidade alarmante de microplásticos acumulados nesses organismos, o que ressalta a importância de entender os impactos dessa contaminação na fauna marinha.
"A quantidade de microplásticos encontrados em nossas amostras é extremamente preocupante. Essa contaminação representa um sério risco para o ecossistema marinho e para a saúde humana", disse a pesquisadora Jéssica Mendes.
Os pesquisadores do Iati ressaltam que esses resultados são apenas o começo de um estudo mais amplo e que ainda há muito a ser investigado. Mas os dados obtidos até o momento são preocupantes e exigem ações imediatas para mitigar os efeitos negativos dos microplásticos no ecossistema costeiro.
"O impacto dos microplásticos no meio ambiente é, muitas vezes, subestimado pela população. No entanto, esses pequenos fragmentos representam uma ameaça real à vida marinha e ao equilíbrio dos ecossistemas costeiros ", comentou Múcio Banja.
Técnica
O estudo, realizado ao longo de períodos de estiagem e chuvoso, contou com a coleta de sedimentos por mergulho autônomo.
As amostras foram submetidas a protocolos de análise que incluíram separação do sedimento e dos microplásticos por meio de flotação, identificação em microscópio estereoscópio e análise granulométrica para classificação sedimentológica.
Os resultados revelaram a presença de 1.406 partículas de microplásticos nas amostras analisadas, com destaque para o nylon azul, que representou 63% do total. Todas as praias estudadas apresentaram registros desses micropoluentes, sendo a do Paiva a mais afetada.
A pesquisa também buscou correlacionar a presença de microplásticos com fatores como ação das correntes marinhas e influência dos rios como o Jaboatão (praia do Paiva), Massangana e Tatuoca (praia de Suepe).
Os resultados indicaram uma associação direta entre a presença de microplásticos e a dinâmica costeira, destacando a praia do Paiva como uma área especialmente sensível aos impactos antrópicos (ações realizadas pelo homem).
Além de estudar a presença de microplásticos no sedimento litoral, o Iati está desenvolvendo tecnologias inovadoras para separar as pequenas partículas de microplásticos dos corpos dos animais estudados.
Para isso, estão sendo desenvolvidos métodos para dissolver a matéria orgânica associados a distúrbios controlados, a partir de vibrações e produção de microbolhas ultrassônicas, que deverão otimizar os resultados dos estudos.
Sobre o Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (Iati)
O instituto é uma entidade privada sem fins lucrativos e, como um instituto de ciência e tecnologia (ICT), se dedica ao desenvolvimento de soluções inovadoras para enfrentar desafios tanto tecnológicos quanto ambientais.
Com sede no Recife, o instituto conta com uma equipe de mais de 150 cientistas e especialistas qualificados para a construção de um futuro sustentável.