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ESTADOS UNIDOS

Prefeito americano diz que operação sem mandado judicial deteve imigrantes e cidadãos

Nos primeiros dias da Presidência de Trump, 538 imigrantes foram detidos, de acordo com o governo americano

Ras Baraka, prefeito de Newark, cidade no estado de Nova JerseyRas Baraka, prefeito de Newark, cidade no estado de Nova Jersey - Foto: Kena Betancur / AFP

Ras Baraka, prefeito de Newark, cidade no estado de Nova Jersey (perto de Nova York), denunciou nesta sexta-feira a realização "sem mandado judicial" de uma operação contra imigrantes em um comércio local no dia anterior, na esteira da assinatura pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de uma série de decretos revertendo políticas existentes no país em questões como imigração, meio ambiente e diversidade.

Agentes do Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE, na sigla em inglês) invadiram um negócio de frutos do mar em Newark na quinta-feira sem aviso prévio.

Lá, eles detiveram "residentes sem documentação, bem como cidadãos (dos EUA) sem mandado judicial", incluindo "um veterano do Exército", lamentou Baraka em uma entrevista coletiva nesta sexta-feira (24).

Segundo algumas testemunhas, os imigrantes detidos são de origem equatoriana, uma comunidade muito grande na área. O prefeito disse que as detenções não atendem ao critério apresentado por Trump para combater a permanência irregular no país: que os imigrantes sem documentos tenha cometido algum crime.

— Nenhuma dessas pessoas era estupradora ou infratora — disse Baraka, que denunciou que "o ICE fez isso sem um mandado", classificando a operação de "violação" da Constituição.

Newark, assim como Nova York, são consideradas cidades-santuário, aquelas em que as autoridades limitam ou negam sua cooperação com o governo federal na aplicação das leis de imigração.

Nos primeiros dias da Presidência de Trump, 538 imigrantes foram detidos, de acordo com o governo americano. Várias centenas foram deportadas em aviões militares, com dois deles tendo pousado na Guatemala, de acordo com autoridades locais.

— Como você determina quem apenas não tem documento e quem é um criminoso apenas olhando para eles? Se permitirmos que as pessoas nos identifiquem, ou nos coloquem em categorias de criminosos ou o que quer que seja, apenas pela nossa aparência, então estamos voltando a uma época muito perigosa neste país, especialmente para pessoas que se parecem comigo — disse o prefeito, que é negro.

Segundo Amy Torres, diretora-executiva da New Jersey Alliance for Immigrant Justice, comparou a operação a um filme de ação, afirmando que as pessoas estão assustadas.

— Eles estavam fortemente armados. Não houve aviso prévio. Eles bloquearam entradas e saídas, escalaram rampas de entrega, bateram nas portas dos banheiros para garantir que ninguém estivesse escondido lá dentro. E o mais importante (...) eles fizeram tudo isso sem apresentar um nome com uma ordem judicial — afirmou. — Sabíamos que isso aconteceria, mas o que aprendemos com testemunhas é que os agentes do ICE vieram como se estivessem em sua própria casa. Eles chamam isso de operação direcionada.

Para ela, o ICE ultrapassou o que a Constituição permite:

— Isso torna todos os outros culpados por associação. Se eles não podem deportá-lo e detê-lo fisicamente, eles querem trancá-lo no isolamento de sua própria casa, para que cancele a matrícula de seus filhos, para que, quando estiver doente ou tiver uma emergência, um problema, quando seu salário estiver sendo retido, quando seu senhorio se recusar a ligar o aquecedor, não diga qualquer coisa.

Algumas organizações de direitos dos imigrantes, como a União Americana pelas Liberdades Civis (UCLA), emitiram diretrizes para a comunidade sem documentos, que, segundo algumas fontes, pode contar entre 11 e 14 milhões de pessoas.

Essas instruções incluem não abrir a porta para ninguém, a menos que haja uma ordem judicial, não mentir para os policiais, esperar em silêncio e não assinar nada até que seja possível obter assistência de um advogado.

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