Preocupados com programa nuclear do Irã, três países europeus apresentam resolução de condenação
Reino Unido, França e Alemanha argumentaram que a resolução foi impulsionada pela "urgência de reagir diante da gravidade da situação"
Preocupadas com a evolução do programa nuclear iraniano, Alemanha, França e Reino Unido tomaram a iniciativa nesta segunda-feira (3) e apresentaram uma resolução de condenação contra Teerã ao Conselho de Governadores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
"O texto foi apresentado formalmente" durante a noite, declarou à AFP uma fonte diplomática, antes que uma segunda confirmasse a informação.
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Reino Unido, França e Alemanha argumentaram que a resolução foi impulsionada pela "urgência de reagir diante da gravidade da situação", segundo diplomatas.
De acordo com a AIEA, o órgão de controle nuclear da ONU que se encarrega de verificar que o programa nuclear iraniano tenha fins civis e não militares, a República Islâmica é o único país que não possui armas atômicas que enriquece urânio a 60% e acumula reservas cada vez maiores.
O nível se aproxima dos 90% necessários para fabricar uma arma atômica, e supera com sobras o máximo autorizado de 3,67%, que equivale ao que é utilizado para produzir eletricidade.
Teerã nega querer fabricar uma bomba e assegura que seu programa atômico é estritamente civil.
Apesar dessa situação, a junta de governadores da agência da ONU, integrada por 35 países-membros, não apresentou nenhuma resolução desde novembro de 2022.
O diretor-geral da AIEA, o argentino Rafael Grossi, insistiu nesta segunda-feira em que é "inaceitável falar sobre armas nucleares, como algumas pessoas fazem no Irã".
A atual falta de "conhecimentos [...] torna muito difícil voltar à diplomacia", afirmou, em referência à limitada supervisão que a agência tem agora sobre o programa nuclear iraniano.
"Essencial e urgente"
Durante a última reunião em março, Reino Unido, França e Alemanha prepararam um texto, mas diante da falta de apoio de Washington, decidiram abandoná-lo.
Oficialmente, os Estados Unidos negam estar embarreirando os esforços de seus aliados europeus.
Mas ao mesmo tempo, temem que tal ação possa exacerbar as atuais tensões geopolíticas no Oriente Médio, especialmente meses antes das eleições presidenciais de novembro.
Os diplomatas ouvidos pela AFP não veem mais essa política como sustentável devido a meses de escalada nuclear e acreditam que "a posição americana pode mudar" antes do voto previsto ao longo da semana.
As relações entre Irã e a AIEA se deterioraram, e a agência nuclear da ONU agora enfrenta dificuldades para garantir o "caráter exclusivamente pacífico" do programa nuclear iraniano.
Grossi viajou para o país no início de maio para retomar o diálogo, exigindo "resultados concretos o quanto antes".
Mas a morte do presidente Ebrahim Raisi em um acidente de helicóptero em 19 de maio pôs as conversas em suspenso. Dois diplomatas acreditam, no entanto, que se trata de um falso pretexto e que chegou o momento de intensificar a pressão sobre o Irã.
Nesta segunda-feira, Grossi negou que a pausa fosse uma "tática" do Irã para adiar as negociações.
O diretor da AIEA negou que a pausa fosse uma "tática" do Irã para adiar as discussões e disse que estava pronto para "se sentar com as novas autoridades" após as eleições presidenciais de 28 de junho.
Contudo, os europeus querem aumentar a pressão sem mais delongas.
A resolução, de alcance simbólico a esta altura, resume os pontos em disputa. O primeiro deles é sobre a presença de restos inexplicáveis de urânio em dois locais não declarados.
É "essencial e urgente" que Teerã apresente razões "tecnicamente críveis", aponta o texto confidencial, ao qual a AFP teve acesso.
O Irã também deve explicar por que se recusou a conceder credenciamento a alguns inspetores da AIEA e reconectar as câmeras de vigilância "sem demora".
O documento destaca ainda as "preocupações" em torno das "recentes declarações públicas do Irã sobre as capacidades técnicas do país para produzir armas nucleares e possíveis mudanças em sua doutrina nuclear".
"Resposta séria e eficaz"
A República Islâmica se desligou gradualmente de seus compromissos incluídos no acordo internacional de 2015 firmado com Estados Unidos, China, Rússia, França, Alemanha e Reino Unido.
O acordo deveria proporcionar um quadro para as atividades nucleares do Irã em troca de suspender as sanções internacionais.
Mas, os Estados Unidos se retiraram unilateralmente em 2018 durante o governo do republicano Donald Trump, e as tentativas de retomar o acordo fracassaram.
Ali Shamkhani, assessor político do líder supremo do Irã, Ali Khamenei, alertou no sábado no X que, se "alguns países europeus equivocados [...] adotarem uma postura hostil contra o Irã [...] no Conselho, enfrentarão uma resposta séria e eficaz do nosso país".
Para a Rússia, que tem se aproximado muito do Irã nos dois últimos anos, esta "resolução anti-iraniano [...] só pode agravar a situação", advertiu no domingo na rede X seu embaixador diante das organizações internacionais em Viena, Mikhail Ulianov.