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RIO DE JANEIRO

Presa por injúria racial, mulher que chamou garçonete de 'macaca suja' é solta

Segundo decisão do juiz, Lívia Coelho terá que cumprir medidas como manter distância da vítima e das testemunhas

Mulher foi autuada em flagrante por chamar garçonete do Bar do Mané, na Praia do Flamengo, de "macaca suja"Mulher foi autuada em flagrante por chamar garçonete do Bar do Mané, na Praia do Flamengo, de "macaca suja" - Foto: reprodução

Lívia Coelho, de 39 anos, presa no último domingo (9) por injúria racial, foi solta na tarde desta terça-feira (11), após audiência de custódia. Ela foi autuada em flagrante por chamar uma garçonete do Bar do Mané, na Praia do Flamengo, na Zona Sul do Rio, de “macaca suja”. A vítima, Társila Almeida, de 21 anos, também ouviu da cliente do estabelecimento que não deveria trabalhar ali e teve sua cor comparada ao saco plástico da lixeira. O caso foi registrado como injúria por preconceito.

Segundo o juiz Pedro Ivo Martins Caruso D'Ippolito, o crime desperta “ojeriza e repulsa”, mas alega que as penas para este tipo de crime são baixas: “À luz do caderno policial, o crime, em tese, praticado desperta especial ojeriza e repulsa, eis que violador das mais comezinhas regras de convivência social. Não obstante, por opção legislativa, as penas legalmente cominadas são baixas, de modo que não cabe ao Judiciário reconfigurar a reprimenda penal”, diz trecho da decisão.

Lívia, no entanto, terá que comparecer mensalmente ao juízo, além de estar proibida de se ausentar do território onde reside por mais de 10 dias, de se aproximar a menos de 20 metros do bar do ocorrido e de ter contato ou se aproximar a menos de 100 metros da vítima ou de qualquer testemunha.

Társila contou ao Globo que as ofensas começaram por volta de 12h do último domingo. A cliente, identificada como Lívia Coelho, tentava acesso ao bar desde as 9h, mas o estabelecimento só abriria duas horas depois. Após a abertura do local, a mulher passou a ingerir bebidas alcoólicas e dizer ofensas racistas contra a funcionária.

— Eu estava cuidando da banca de jornal que pertence ao bar. Naquele dia, o rapaz que cuida da banca não pôde ir, então minha gerente pediu que eu ficasse por lá. Ela (a cliente) começou a me chamar de “macaca”, “suja”, “feia” e disse que eu não merecia estar onde estava — conta.
 

A funcionária, que está grávida, explica que preferiu não dar atenção à mulher. Logo em seguida, Lívia se levantou e começou a puxar as tranças de Társila.

— Ela chegou a arrancar parte do meu cabelo da raiz. Foi quando alguns amigos meus vieram ajudar e chamaram a polícia. Nunca passei por nada semelhante a isso, me senti humilhada. Me senti humilhada no meu local de trabalho, na minha zona de conforto. Infelizmente, a minha ficha ainda não caiu totalmente. Fui trabalhar disposta, num domingo de Páscoa, e passei por isso tudo — lamenta Társila.

— Estou muito incomodada, porque a minha cor faz mal sem eu ter feito nada. Fiquei muito estressada, e como estou no começo de uma gestação, estou preocupada com o meu filho.

Segundo depoimento de um policial militar que atendeu a ocorrência, Lívia Coelho aparentava estar embriagada no momento que foi abordada. Ela foi encaminhada pelos agentes à delegacia, onde foi autuada. Lívia responde também a um processo por lesão corporal e desacato a dois policiais militares em 2022.

À delegacia, a mãe da suspeita alega que a filha possui transtorno afetivo bipolar e síndrome de dependência, o que a teria feito “perder o juízo crítico”. De acordo com ela, Lívia não possui “qualquer preconceito por raça, cor, etnia ou religião”.

Até a publicação da reportagem, o Globo não havia localizado a defesa de Lívia.

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