Presidente argentino e Biden se reúnem para falar de democracia e comércio
Segundo a Casa Branca, o encontro permitirá "reiterar a força da aliança" entre Washington e Buenos Aires
Com oito meses de atraso, o presidente argentino, Alberto Fernández, reúne-se, nesta quarta-feira (29), na Casa Branca com seu homólogo americano, Joe Biden, com quem conversará sobre democracia, comércio e seca em seu país.
A reunião deveria ter acontecido em julho de 2022, mas o presidente Biden teve covid-19, e o encontro foi adiado.
Leia também
• Biden pede unidade ante declínio da democracia no mundo
• Para vice do Fed, sistema regulatório falhou em evitar falência do banco SVB nos EUA
• Diplomata dos EUA viajou à China na semana passada, informa Washington
A reunião bilateral será hoje, a partir das 14h45 locais (15h45 em Brasília), coincidindo com a segunda Cúpula pela Democracia, que reúne, de forma virtual, aliados mundiais dos Estados Unidos.
Segundo a Casa Branca, o encontro permitirá "reiterar a força da aliança" entre Washington e Buenos Aires. Biden e Fernández vão falar "de seus valores compartilhados de inclusão, democracia e proteção dos direitos humanos", acrescentou o Executivo americano em nota, em um contexto de crises internas em vários países latino-americanos.
Nesta quarta, a equipe argentina finalizou os detalhes do encontro no Salão Oval, por meio do qual "será reforçado o vínculo político, com uma visão estratégica em relação a esse contexto global de incerteza, a partir da guerra, do pós-pandemia, como os preços de alimentos e energia aumentaram e também os desafios da mudança climática e da transição energética", disse o chanceler argentino, Santiago Cafiero, citado em um comunicado do Ministério das Relações Exteriores.
Depois disso, haverá uma reunião de trabalho das equipes técnicas de ambos os países na sala de gabinete.
“É uma possibilidade para Argentina e Estados Unidos”, de modo a “repensar, relançar e ajustar onde for necessário, uma certa relação comercial que, em algum momento, veio-se perdendo”, acrescentou Cafiero.
O chanceler insistiu em que a Argentina "tem com que contribuir e pode ser um grande ator". Afirmou ainda que, juntos, podem "impulsionar a produção de alimentos, já que ambos os países são grandes produtores" e "desenvolver energia para o mundo como um todo, dinamizando toda a estrutura necessária tanto para o desenvolvimento de petróleo e gás como para minerais estratégicos".
Segundo fontes da delegação que acompanha o presidente argentino, "os Estados Unidos consideram a Argentina como um eixo central para a região".
O presidente argentino, de centro-esquerda, quer projeção não apenas regional, mas internacional.
Em Washington, na terça-feira, Cafiero e o secretário de Estado americano, Antony Blinken, participaram de uma reunião virtual para discutir iniciativas em busca de uma solução para a guerra na Ucrânia.
"O mundo quer paz na Ucrânia, uma paz que seja sustentável e em conformidade com a Carta das Nações Unidas e com o direito internacional", disse Cafiero, cujo país, assim como outros da região, condenou a invasão russa do território ucraniano, mas se nega a enviar armas para Kiev, apesar da pressão de Washington.
Com 200 anos de relações bilaterais, os dois países mantêm laços sólidos, e os presidentes examinarão "como continuar a parceria para enfrentar os desafios globais", completou a Casa Branca.
Seca histórica
A dramática seca de perdas milionárias que a Argentina enfrenta será um dos principais temas da reunião no Salão Oval.
"A mudança climática trouxe consigo muitas alterações no clima negativas em todo o mundo e, na Argentina em particular, elas são demonstradas na seca histórica que estamos vivendo", de modo que será um dos eixos centrais do encontro, segundo fontes da delegação que acompanha Fernández.
A foto com Biden é importante, acrescentam, “pela situação financeira da Argentina, levando-se em consideração a reivindicação argentina pela arquitetura financeira global”.
Fernández defende um pacto que favoreça o pagamento das dívidas e a aplicação de taxas mais baixas. Ele transmitirá essa mensagem a Biden, cujo país é o principal acionista do Fundo Monetário Internacional (FMI), que aprovou um programa de ajuda à Argentina no valor de US$ 44 bilhões (em torno de R$ 226,16 bilhões) em 30 meses.
No momento, Buenos Aires espera que a diretoria-executiva do Fundo aprove o desembolso de US$ 5,3 bilhões (aproximadamente R$ 27 bilhões), que já conta com a aprovação do corpo técnico após a quarta revisão do pacote de ajuda ao país.
Neste ano eleitoral, a Argentina atravessa uma crise inflacionária, e o governo Fernández multiplica as medidas para tentar conter a alta dos preços, enquanto busca, ao mesmo tempo, cumprir as metas fiscais acertadas com o FMI.
Para Biden, também será uma oportunidade de afagar a relação com um país amigo, em um momento em que a China se esforça para ampliar sua influência na região e no restante do mundo.