Presidente da Argentina rejeita cortes previstos por Milei, seu sucessor
Alberto Fernandéz afirmou: "Não é razoável pensar em um ajuste que pare nossa produção e restrinja o emprego e o consumo que tanto nos custou recuperar"
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, rejeitou nesta sexta-feira (8) os drásticos cortes fiscais propostos pelo seu sucessor ultraliberal, Javier Milei, que assumirá o cargo no domingo.
"Não é razoável pensar em um ajuste que pare nossa produção e restrinja o emprego e o consumo que tanto nos custou recuperar", disse Fernández ao avaliar seus quatro anos de governo, em uma mensagem gravada e transmitida na televisão aberta.
Fernández fez uma longa enumeração de estatísticas e decisões em todos os campos adotadas sob sua gestão, que termina com mais de 140% de inflação e 40% de pobreza, mas também "o nível de atividade industrial mais alto em seis anos" e 6,2% de desemprego.
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"Devemos cuidar para que, sob o argumento de querer resolver o problema fiscal, não se violem os direitos dos trabalhadores e não se frustrem as aspirações dos que investem e produzem", enfatizou o presidente em fim de mandato.
Milei prometeu durante sua campanha eleitoral, e ratificou durante a transição desde que foi eleito, que aplicará em 2024 um corte fiscal equivalente a 5% do PIB.
Nesta sexta-feira, o jornal Clarín vazou algumas das medidas de ajuste projetadas por Milei para conter a inflação, que incluem a proibição ao Banco Central de emitir e financiar o Tesouro, a retirada de subsídios a serviços públicos e o congelamento total dos gastos do Estado, incluindo salários de funcionários, entre outras.
O presidente insistiu que o programa de crédito de US$ 44 bilhões (R$ 214,9 bilhões na cotação atual) com o Fundo Monetário Internacional (FMI), assinado por seu antecessor Mauricio Macri, comprometeu o país "por gerações" e condicionou decisivamente sua gestão econômica.
Ele também mencionou o impacto da pandemia desde 2020 e a seca que afetou a atividade agropecuária em 2022-2023, privando o país de US$ 23 bilhões (R$ 113 bilhões) em exportações e reduzindo 3% do PIB, segundo economistas.
"Sabemos que não alcançamos os objetivos que nos propusemos em fortalecer a renda, combater a inflação e reduzir a pobreza. Porque as circunstâncias e o contexto não nos acompanharam e também porque deveríamos ter feito melhor ou diferente", afirmou Fernández.
No entanto, destacou avanços em áreas como direitos civis, saúde, ciência e tecnologia. Ele reconheceu "não ter sido capaz de acabar com a divisão que nos separa", em alusão à antiga antinomia peronistas-antiperonistas refletida na campanha eleitoral que levou Milei ao poder.
No final, o presidente mencionou sua vice-presidente, Cristina Kirchner, com quem se desentendeu: "Como sempre acreditou Cristina, estou convencido de que fazemos política para poder transformar a pátria".