Presidente da BBC deixa o cargo por polêmica sobre empréstimo a Boris Johnson
A ministra da Cultura, Lucy Fraser, afirmou "entender e respeitar" a decisão
O presidente da BBC, Richard Sharp, anunciou nesta sexta-feira (28) sua renúncia, depois de ficar encurralado por um conflito de interesses a respeito de sua nomeação para o cargo.
Um relatório publicado nesta sexta-feira afirma que Sharp, um ex-executivo do setor bancário que assumiu o comando da BBC em 2021, violou as regras ao não relatar que havia auxiliado o então primeiro-ministro Boris Johnson a obter um empréstimo de 800 mil libras (996.000 dólares, quase cinco milhões de reais).
Sharp foi nomeado pouco depois da concessão do empréstimo para comandar a corporação pública de rádio e televisão.
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O relatório "conclui que violei o código de governança para nomeações públicas", mas que esta violação "não invalida necessariamente a nomeação", explicou Sharp no comunicado em que informa a renúncia.
O ex-banqueiro, que assegura ter violado as regras de maneira "involuntária", considerou, no entanto, necessário afastar-se para priorizar "os interesses da BBC". Caso contrário, poderia tornar-se uma "distração" para o "bom trabalho" do gigante audiovisual.
A ministra da Cultura, Lucy Fraser, afirmou "entender e respeitar" a decisão. Ela agradeceu a Sharp por seu trabalho como presidente da BBC.
"Nem agora nem nunca"
Enquanto o consideravam para o cargo na BBC, no final de 2020, Sharp colocou Johnson em contato com um primo distante do primeiro-ministro que lhe concedeu o crédito.
O ex-banqueiro nega que obteve o cargo como contrapartida por ajudar Johnson.
"Deveria ter declarado que havia esta problemática relação financeira com o então primeiro-ministro", disse Lucy Powell, do Partido Trabalhista, da oposição.
O assunto trouxe um "dano incalculável" para a imagem da BBC, lamentou.
Sharp, que também foi chefe do atual primeiro-ministro Rishi Sunak, quando trabalhavam na Goldman Sachs, esteve sob os holofotes por seus vínculos com o Partido Conservador.
Esta proximidade foi levantada pelos críticos quando a BBC decidiu suspender, no mês passado, o célebre apresentador Gary Lineker, após declarações. Lineker comparou a retórica migratória do governo com a da época nazista.
Após o anúncio desta sexta-feira, considerou que o presidente da BBC não deveria ser eleito pelo governo. "Nem agora nem nunca", tuitou.
Porém, Sunak se recusou a descartar outra nomeação política e disse a jornalistas que estava "focado em atender o povo britânico".
A instituição inevitável do cenário audiovisual britânico completou 100 anos em outubro de 2022, afetada pela concorrência das plataformas de streaming e assinatura, além das ameaças ao seu financiamento público.
A BBC também foi criticada nos últimos anos pelos conservadores, que governam o país, que acusam o grupo de fazer uma cobertura tendenciosa - especialmente do Brexit - e de priorizar as preocupações das elites urbanas, em vez das preocupações das classes populares.