GOLPE DE ESTADO

Presidente do Chile pede defesa da democracia 50 anos após golpe de Pinochet

Nenhum representante dos partidos de direita compareceu ao ato no La Moneda para cerimônia de 50 anos do golpe

O presidente do Chile, Gabriel Boric, discursa durante cerimônia em comemoração ao 50º aniversário da ditadura chilenaO presidente do Chile, Gabriel Boric, discursa durante cerimônia em comemoração ao 50º aniversário da ditadura chilena - Foto: Pablo Vera/AFP

Sob o lema “Democracia Sempre”, o esquerdista Gabriel Boric, presidente do Chile, liderou uma cerimônia no Palácio de La Moneda, bombardeado há 50 anos, durante o golpe de Estado de Augusto Pinochet.

No palácio presidencial onde Salvador Allende se suicidou em 11 de setembro de 1973, Boric falou para parentes de vítimas da ditadura e para os presidentes da Bolívia, Luis Arce; México, Andrés Manuel López Obrador; Colômbia, Gustavo Petro, e Uruguai, Luis Lacalle Pou.

"Nós nos revoltamos quando nos dizem que não havia outra alternativa. Certamente havia! E amanhã, quando vivermos outra crise, sempre haverá outra alternativa que implica mais democracia, e não menos", disse Boric em discurso para convidado, entre eles a presidente da a associação Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, o ex-presidente uruguaio José Mujica, o ex-juiz espanhol Baltasar Garzón e o guitarrista do Rage Against The Machine, Tom Morello.

Cinquenta anos após o golpe, uma política de elite segue profundamente dividida. Nenhum representante dos partidos de direita compareceu ao ato no La Moneda. Também não participou de uma declaração em favor da democracia assinada na semana passada por Boric e os quatro ex-presidentes do período democrático.

O partido de direita União Democrata Independente (UDI), que não participou do ato no palácio presidencial, divulgou um comunicado afirmando que a queda de Allende ocorreu devido à "situação extrema que o Chile vivia" e à "polarização severa provocada por um setor da esquerda chilena. "A ruptura" institucional e social "em 11 de setembro se transformou em algo que aconteceu", publicou o partido UDI.

"Não há como separar o golpe de Estado do que veio depois. Desde o mesmo momento, foram violados os direitos humanos dos chilenos", acrescentou o presidente chileno, 37, único presidente pós-ditadura que não foi nascido na época do golpe.

Durante uma noite, milhares de pessoas se aproximaram do Estádio Nacional de Santiago, que durante o regime militar foi transformado em um gigantesco centro de torturas, e acenderam velas na memória das vítimas.

Durante alguns incidentes, um cinegrafista de um canal de televisão local foi atingido por um tiro no rosto e um policial foi ferido. Os dois estão fora de perigo, segundo as autoridades.

Emoção
O porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller, declarou nesta segunda-feira, em Washington, que os 50 anos do golpe são "uma oportunidade para homenagear as vítimas da repressão que se abalaram" ao 11 de setembro de 1973, e evitou responder sobre a possibilidade de os Estados Unidos se desculparem formalmente por seu apoio à revolta militar.

Miller ressaltou que o governo Biden "tentou ser transparente sobre o papel americano nesse capítulo da história chilena ao desclassificar recentemente documentos de 1973", atendendo a uma solicitação do governo chileno.

Em Santiago, a cerimônia teve momentos carregados de emoção, como o minuto de silêncio observado às 11h52, hora exata em que o Palácio de La Moneda foi bombardeado pela Aeronáutica há 50 anos. Um total de 1.747 assassinatos e 1.469 desaparecimentos foram registrados durante a ditadura chilena.

A senadora socialista Isabel Allende, filha do presidente deposto, comoveu os participantes ao narrar sua experiência há 50 anos, seguida, na primeira fila, por Maya Fernández, ministra da Defesa e neta de Salvador Allende.

A senadora lamentou o que chamou de retrocessos: "Os partidos de direita foram incapazes de manter uma carta fortalecendo a democracia, dizendo que nunca mais, sob hipótese alguma, poderá haver um golpe de Estado. Isso é muito doloroso. A História irá julgar. "

Divisão
Meio século depois do golpe militar, o Chile segue dividido entre os que defendem e os que repudiam a ditadura. Um total de 49% da população considera lembrar o golpe irrelevante, enquanto 48% afirma que esses atos "afetam o convívio futuro", segundo a pesquisa Criteria.

“Isso não é para dividir as pessoas, e sim para fazer-las entender que os atos de violência jamais devem ser permitidos, em nenhuma parte, por nenhuma bandeira política. São coisas que não podem ser transgredidas”, disse à AFP a fonoaudióloga Kerty Oliveiras, 35.

Para esta noite foi prevista uma vigília à luz de velas no Estádio Nacional de Santiago, transformado em centro de detenção e torturas durante a ditadura.

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