Presidente do Iraque pede antecipação de eleições a fim de encerrar crise política
Confrontos provocados pela crise política já deixaram 30 mortos e centenas de feridos entre apoiadores do líder xiita e as forças de segurança
O presidente do Iraque, Barham Saleh, defendeu nesta terça-feira (30) a antecipação das eleições legislativas, a fim de encerrar a crise política, a qual resultou em confrontos que já deixaram 30 mortos e centenas de feridos entre os apoiadores do líder xiita, Moqtada Sadr, e as forças de segurança.
A ideia de antecipar as eleições menos de um ano após o início da atual legislatura foi uma exigência de Sadr, cujos apoiadores entraram em confronto com o Exército depois que seu líder anunciou ontem sua retirada da política.
A realização de eleições antecipadas, com base no consenso nacional, representa uma saída para esta grave crise", declarou Barham Saleh. Segundo o presidente, essa opção garantiria "a estabilidade política e social. Saleh falou horas depois.
Saleh se pronunciou horas depois que os apoiadores de Sadr se retiraram da Zona Verde de Bagdá, ao fim de 24 horas de confrontos com o Exército e facções xiitas apoiadas pelo Irã, nos quais morreram baleados 30 apoiadores do clérigo xiita e 570 pessoas ficaram feridas, segundo um balanço médico.
Sadr, que chefiou uma milícia a qual se opôs à invasão ao Iraque liderada pelos Estados Unidos em março de 2003, havia dado a seus seguidores "60 minutos" para que se retirassem da Zona Verde, que abriga embaixadas e escritórios do governo e é considerada a mais segura da capital iraquiana.
"Peço desculpas ao povo iraquiano, o único afetado pelos acontecimentos", disse Sadr em seu reduto, na cidade de Najaf. Os confrontos foram o ápice da crise pela qual o Iraque passa desde as legislativas de outubro de 2021, das quais saiu um parlamento dividido. Desde então, os líderes políticos não conseguem instaurar um novo governo.
O primeiro-ministro Mustafa al-Kadhemi declarou, por sua vez, que várias investigações foram abertas e ameaçou renunciar se o bloqueio político persistisse. "Se quiserem continuar a semear o caos, o conflito, a discórdia, a rivalidade (...) tomarei a medida moral e patriótica necessária e deixarei o meu posto", afirmou.
Os confrontos foram o ápice da crise pela qual o Iraque passa desde as legislativas de outubro de 2021, das quais saiu um parlamento dividido. Desde então, os líderes políticos não conseguem instaurar um novo governo.
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Escalada perigosa
Os protestos começaram quando Sadr anunciou, inesperadamente, sua "retirada definitiva" da política. Seus apoiadores seguiram até a Zona Verde e o palácio do governo.
Os confrontos continuaram nesta terça entre os apoiadores de Sadr, o Exército e os homens das Unidades de Mobilização Popular (Hashed al-Shaabi), ex-paramilitares apoiados pelo Irã que se integraram posteriormente às forças iraquianas.
A Missão da ONU de Assistência no Iraque (Unami) classificou os fatos como "uma escalada extremamente perigosa" e pediu a todas as partes que "se abstenham de atos que possam levar a uma cadeia implacável de eventos".
Poder social
Os Estados Unidos pediram calma, em meio a informações preocupantes sobre a situação, e a França pediu "às partes que exerçam a máxima moderação".
Nas eleições legislativas de outubro de 2021, o bloco de Sadr ficou inicialmente com 73 cadeiras (do total de 329), mas, por não conseguir formar uma maioria, fez seus deputados renunciarem em junho, alegando querer "reformar" o sistema e acabar com a corrupção. A renúncia fez com que a aliança rival Marco de Coordenação se tornasse a principal bancada.
Ao incitar seus apoiadores e, posteriormente, pedir que eles se retirassem, Sadr "mostra o poder social e as bases que tem, principalmente a seus adversários", destacou Renad Mansour, do centro de reflexão britânico Chatham House.