Presidente do Peru nomeia novos ministros em busca de saída para crise
Dina Boluarte renovou parte de seu gabinete nesta quarta-feira (21); Presidente tenta enfrentar crise deflagrada com a destituição do ex-presidente Pedro Castillo
A presidente do Peru, Dina Boluarte, renovou parte de seu gabinete nesta quarta-feira (21), uma nova medida para tentar sair de uma crise agravada pela destituição do presidente Pedro Castillo, o que também gerou atritos diplomáticos com o México.
Como presidente do Conselho de Ministros (denominado de primeiro-ministro no Peru), o advogado Alberto Otárola substitui Pedro Angulo. Trata-se do segundo chefe de gabinete em duas semanas de governo de Boluarte e o sétimo em um ano e meio.
Otárola era ministro da Defesa e uma das figuras de maior destaque do governo Boluarte no enfrentamento da crise deflagrada com a destituição do presidente Pedro Castillo, que fracassou na tentativa de colocar em prática um autogolpe de Estado.
O Ministério da Defesa será, agora, ocupado pelo militar reformado Jorge Chávez.
Sob a gestão de Otárola foi declarado estado de emergência no país, o que permitiu às Forças Armadas intervir no controle dos protestos de apoio a Castillo.
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Em 7 de dezembro, Castillo, um professor rural de origem humilde, tentou fechar o Congresso, mas não teve respaldo institucional e foi preso sob a acusação de rebelião. Boluarte, sua vice, assumiu a Presidência.
Os apoiadores de Castillo, principalmente entre as populações andinas, iniciaram protestos que foram contidos pelas forças de segurança, mas deixaram um balanço de 22 mortos, segundo o último relatório da Defensoria do Povo, nesta quarta-feira.
Os manifestantes pediam a renúncia de Boluarte, o fechamento do Congresso e o adiantamento das eleições. Na tentativa de mitigar a crise, o Parlamento aprovou na terça-feira o adiantamento das eleições gerais de 2026 para abril de 2024.
Boluarte terá que entregar o cargo ao sucessor em julho de 2024.
"O confronto e a polarização fizeram muitos estragos no país, precisamos virar a página para nos dedicarmos ao trabalho", disse a presidente nesta quarta-feira, durante uma cerimônia policial.
Tensões com o México
Em meio à crise, o México, que apoia Castillo e o considera uma vítima dos poderes políticos e econômicos peruanos, recebeu nesta quarta-feira como asilados a esposa e os dois filhos do ex-presidente peruano.
O Peru concedeu o salvo-conduto à família de Castillo, argumentado que a decisão foi tomada em respeito às normas diplomáticas internacionais.
Para o governo de Boluarte, as declarações do presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador (AMLO, como é conhecido), sobre a situação peruana constituem uma interferência nos assuntos internos. Em resposta, pediu para que o embaixador do México em Lima deixasse o Peru.
Nesta quarta-feira, AMLO descartou o rompimento das relações do México com o Peru.
O Ministério das Relações Exteriores peruano afirmou que "não existe perseguição política" no Peru, e lembrou que a esposa de Castillo, Lilia Paredes, é investigada pelo Ministério Público por suposta corrupção em um caso que envolve o marido.
Além do México, os governos da Argentina, Bolívia e Colômbia também manifestaram apoio a Castillo. Isso levou o Peru a convocar seus embaixadores nesses quatro países para consultas.
"Que a violência pare"
O primeiro-ministro Otárola, com experiência política, atuou como advogado de Boluarte quando ela era vice-presidente e era investigada no Parlamento por uma suposta infração constitucional, da qual foi inocentada.
As manifestações após a prisão de Castillo abalaram o país, com bloqueios de estradas e interrupções em vários aeroportos. Milhares de turistas ficaram retidos e a famosa cidadela inca de Machu Picchu foi fechada. No entanto, esta atração turística já está recebendo visitantes novamente.
"Felizmente, o transporte nos aeroportos e nas principais estradas foi restabelecido. Algumas estradas ainda estão tomadas e o pedido para a população é para que cesse com a atitude de extrema violência, que felizmente está diminuindo", disse nesta quarta-feira Otárola durante uma coletiva de imprensa.
No sul do país, reduto eleitoral de Castillo e onde as manifestações que o apoiam têm sido mais intensas, a antecipação das eleições não amenizou a insatisfação.
"Não concordo (com o adiantamento para 2024), as eleições deveriam acontecer em 2023, em abril", afirmou à AFP Senayda Riva, uma agente de turismo de 40 anos de Cusco, capital turística do Peru.
"Eu quero que o Congresso e todos (os políticos) saiam e que entre gente nova" no Parlamento e na Presidência, completou.
"Não concordo, 2024 é longe demais, deveria ser mais adiantado", declarou Toribio Bolaños, artista plástico de 66 anos. "O Congresso precisa ser fechado, não sei o que estão esperando. Quantos mortos mais querem?", questionou.
"Estamos vivendo uma traição e uma ditadura", acusou Bolaños, ao comentar a posse de Boluarte como presidente do Peru.
Para Francisco Chinotaipe, um vendedor ambulante de 55 anos, as manifestações "estão reprimindo principalmente os indígenas".