Presidente do Quênia descarta aumento de impostos após violência em protestos: "O povo falou"
Em recuo, Ruto diz que não assinará Lei da Finanças 2024, cuja tramitação levou à invasão do Parlamento
O presidente do Quênia, William Ruto, declarou, nesta quarta-feira (27), que o controverso projeto de lei que prevê o aumento dos impostos "será suspenso", invertendo radicalmente a sua posição após ao menos 13 pessoas terem morrido durante os intensos protestos na terça-feira.
“Depois de ouvir atentamente o povo do Quênia (…), desisto e não assinarei a lei de finanças de 2024, que será portanto retirada”, anunciou Ruto em coletiva de imprensa. “O povo falou”, acrescentou.
Uma jornalista que se destacou como figura da onda de oposição, Hanifa Adam, considerou na rede social X que o anúncio de Ruto foi uma mera "operação de comunicação".
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"O projeto de lei foi retirado, mas nos devolverá a vida de todos aqueles que morreram?", perguntou Adam, que pouco antes havia convocado novas manifestações na quinta-feira.
Pelo menos 22 pessoas morreram em protestos na terça-feira, informou a agência de direitos humanos do país da África Oriental.
William Ruto, presidente do Quênia - Foto: Simon Maina/AFP
Os manifestantes também forçaram os cordões policiais em Nairóbi, a capital, e entraram nas instalações do Parlamento, um acontecimento sem precedentes desde a independência desta antiga colônia britânica, em 1963.
Saques e incêndios de edifícios também foram relatados em Nairóbi e em outras cidades.
O governo ordenou o envio do exército e o presidente Ruto prometeu, à noite, reprimir a “violência e a anarquia”.
O movimento “Ocupar o Parlamento” surgiu nas redes sociais após a apresentação, em 13 de junho, do projeto orçamental 2024-2025 que previa a introdução de novos impostos como um IVA de 16% sobre o pão e uma taxa anual de 2,5% sobre veículos particulares.
O governo alegou que estas taxas eram necessárias para dar margem de manobra ao país altamente endividado.
No dia 18 de junho, o governo anunciou a retirada da maior parte das medidas, mas o movimento exigiu a eliminação total e convocou na terça-feira novas marchas para esta quarta.