Logo Folha de Pernambuco

Peru

Presidente Vizcarra é salvo de destituição pelo Congresso peruano

Somente 32 legisladores votaram a favor do impeachment, 78 foram contra e 15 se abstiveram

Vizcarra conseguiu escapar do impeachmentVizcarra conseguiu escapar do impeachment - Foto: Andres Valle/AFP

O presidente do Peru, Martín Vizcarra, foi salvo nesta sexta-feira (18) de ser destituído pelo Congresso ao encerramento de um julgamento político, após a oposição não conseguir angariar os votos necessários para tirar o mandatário do poder. Após um debate no plenário de 10 horas, somente 32 legisladores votaram a favor do impeachment, 78 foram contra e 15 se abstiveram, resultando no arquivamento do caso. 

Os adversários de Vizcarra precisavam de 87 votos (dois terços do Congresso) do total de 130 para derrubar o atual presidente. "Não foi aprovado o pedido de destituição e, por consequência, foi arquivado", declarou após a votação o chefe de Congresso, o opositor Manuel Merino, que teria assumido o poder caso o julgamento contra Vizcarra tivesse prosperado.

O resultado da votação não foi uma surpresa. A imprensa peruana antecipava durante o dia que a oposição radical não tinha os votos necessários para tirar do poder o popular presidente, que carece de partido e bancada legislativa. "Quero agradecer a todos os senhores congressistas, porque sobrepuseram seu espírito democrático e apostaram na estabilidade e no povo", declarou o chefe do gabinete ministerial, Walter Martos, à rádio RPP.

Vizcarra foi ao Congresso -embora não fosse obrigado por lei- ao lado do advogado, Roberto Pereira, para apresentar sua defesa. "Não fujo, nunca o fiz e não o farei agora", declarou ao plenário Vizcarra, um engenheiro provinciano de 57 anos e sem laços com a elite política e econômica de Lima.

Em seguida, o presidente foi embora e deixou seu advogado fazer a defesa em uma sessão plenária acompanhada via videoconferência pela maioria dos parlamentares devido à pandemia da covid-19. "É evidente que este caso sofre de uma classificação elementar mínima dos fatos", afirmou Pereira em sua argumentação. Contudo, a legisladora conservadora María Teresa Céspedes declarou apoiar a destituição porque "o presidente mentiu para o povo". Mais de 70 parlamentares discursaram durante o debate prévio à votação. 

Vizcarra corria o risco de ser destituído pelo Congresso a 10 meses do término de seu mandato e ter um destino semelhante ao de seu antecessor, Pedro Pablo Kuczysnki (2016-2018), que também foi forçado a renunciar sob pressão do Parlamento. Vizcarra foi seu vice-presidente e o substituiu em março de 2018. O atual presidente foi acusado de incitar duas assessoras a mentir em uma investigação sobre os contratos de um cantor, de acordo com áudios vazados.

Oito dias 

Enquanto o processo que conduziu ao impeachment de Dilma Rousseff em 2016 demorou oito meses para se concretizar, Vizcarra foi julgado pelo Congresso oito dias após o surgimento dos áudios. “A rapidez com que este processo está sendo realizado reflete uma crise das instituições, o que desacredita ainda mais o sistema democrático perante o povo”, disse à AFP o analista político Augusto Álvarez Rodrich.

O Tribunal Constitucional rejeitou na quinta-feira a suspensão do julgamento, mas concordou em esclarecer - em cerca de dez semanas - os requisitos para o Congresso declarar a "incapacidade moral" de um presidente, não especificados pela Carta Magna.

O Congresso decidiu há uma semana julgar Vizcarra por 65 votos a favor e 36 contra, além de 24 abstinências, no dia seguinte ao vazamento dos áudios. Nessa luta não há diferenças ideológicas, já que tanto o presidente quanto a maioria parlamentar são de centro-direita, e o manejo dos grandes problemas do Peru não está em discussão: a pandemia e a recessão. 

Tudo parece ser uma mera disputa pelo poder quem tem o contrato do cantor como pretexto, segundo analistas e cidadãos comuns.  “O grosso da população basicamente gostaria de virar a página sobre este incidente”, disse o analista político José Carlos Requena à AFP. 

"Ninguém ganha" 

Após se manifestar no Congresso, Vizcarra empreendeu uma visita de trabalho à cidade de Trujillo, no norte do Peru, enquanto os parlamentares decidiam seu destino. Em Trujillo, urgiu os parlamentares a "pensar nas deficiências da região para trabalharmos juntos para forjar o desenvolvimento".

Apesar dos áudios comprometedores, oito em cada dez peruanos queria a permanência de Vizcarra no cargo e, embora 41% das pessoas considerem "incorreta" a conduta do presidente, não a definem como "grave", segundo uma pesquisa realizada pela consultoria Ipsos.

“Aqui ninguém ganha, o Executivo e o Congresso perdem porque as pessoas percebem que há dois poderes do Estado na disputa política enquanto há uma pandemia que mata peruanos e um desemprego assustador que só vai se recuperar em cinco anos”, disse Álvarez Rodrich.

Veja também

Países aprovam regras para transações de carbono entre países na COP29
ONU

Países aprovam regras para transações de carbono entre países na COP29

Cuida PE: mutirão para realização de mil procedimentos cirúrgicos começa nesta segunda-feira (25)
SAÚDE

Cuida PE: mutirão para realização de mil procedimentos cirúrgicos começa nesta segunda-feira (25)

Newsletter