Preso por críticas a Putin, Igor Girkin lança candidatura ao Kremlin com ironias ao presidente
Blogueiro militar nacionalista apoia invasão da Ucrânia, mas condena estratégias adotadas pelo presidente e por sua cúpula
Preso desde julho por críticas ao governo de Vladimir Putin e ao comando militar da guerra na Ucrânia, o que foi enquadrado pelo Kremlin como "apelos públicos a atividades extremistas", o ex-agente do FSB e blogueiro militar Igor Girkin, de 52 anos, anunciou sua pretensão de ser candidato à Presidência da Rússia em 2024, na oposição ao atual presidente.
A candidatura de Girkin foi anunciada em uma mensagem pessoal, divulgada em seu canal do Telegram, que conta com mais de 700 mil inscritos. Nela, o ultranacionalista criticou longamente o presidente russo, afirmando, muitas vezes com ironia, que Putin seria controlado pelo Ocidente, incapaz de comandar a operação militar na Ucrânia e que a relação dele com bilionários e empresários estaria prejudicando o esforço de guerra russo.
"Nosso presidente é uma pessoa extremamente crédula: durante oito anos foi conduzido pelo nariz, junto e separadamente, por Obama, Trump, Merkel, Poroshenko e Zelensky", escreveu o blogueiro. "De minha parte, posso dizer: desde 2014, nunca chamei de parceiros queridos e respeitados aquelas pessoas que levaram o presidente em exercício pelo nariz, pelo contrário, nunca acreditei nem por um centavo", acrescentou.
Mais conhecido pelo pseudônimo Igor Strelkov, Girkin foi um dos líderes militares das campanhas separatistas instigadas pelo Kremlin na Ucrânia em 2014, tendo um papel central na anexação da Crimeia. Antes da atuação na Crimeia e no leste da Ucrânia, Girkin fez parte do Serviço Federal de Segurança (FSB), onde aposentou-se como coronel em 2013. Por sua atuação no Donbas, foi nomeado ministro da Defesa da autoproclamada República Popular de Donetsk, em maio de 2014.
Leia também
• Entenda por que derrota do Brasil no vôlei quebrou uma das maiores hegemonias da história do esporte
• Pernambucano Emanuel Sávio se despede do "MasterChef Brasil": "Foi tudo muito lindo"
• Transplante: número de doadores de órgãos bate recorde no Brasil
Apesar de ter se tornado um opositor virulento de Putin, Girkin apoia a invasão da Ucrânia, criticando apenas a condução militar do conflito. Na mensagem em que anuncia sua candidatura, Girkin diz ser mais competente em assuntos militares do que o atual presidente e do que o ministro da Defesa, o general Serguei Shoigu, prometendo ser comandante-em-chefe supremo "conforme exigido pela Constituição da Federação Russa.
As críticas e ironias de Girkin no texto são muitas. Ele afirma que o presidente é "gentil" por manter no cargo pessoas que teriam se provado "incompetentes" durante a invasão na Ucrânia, citando instituições como o Exército, a indústria bélica e a inteligência russas. Também classificou o presidente como "altamente moral" e "fiel", ao afirmar que Putin manteria relações escusas com bilionários e empresários que se beneficiariam da estrutura do Estado russo, prejudicando inclusive os objetivos militares.
"Não tenho um único amigo, nem mesmo milionário", escreveu. "Por conseguinte, não terei de ceder aos desejos dos meus amigos em detrimento da economia russa".
Por fim, Girkin ironizou a permanência de Putin no poder por mais de uma década, afirmando que sua saúde não permitiria que "incomodar" o povo russo por tantos anos. "Não sou tão atlético e saudável quanto Vladimir Vladimirovich era na minha idade, então não poderei incomodar vocês, queridos eleitores, fisicamente, por mais de 20 anos", completou.
Não está claro se Girkin conseguirá ser candidato oficialmente, considerando que ele aguarda julgamento preso. Ele pode pegar até cinco anos de prisão pela acusação atual.