Presos fazem rebelião em MG, ateiam fogo em colchões, e seis ficam gravemente feridos
Os presos iniciaram uma rebelião nesta tarde por causa da superlotação e condições de insalubridade das celas
Vinte pessoas ficaram feridas após detentos atearem fogo em colchões no presídio Inspetor José Martinho Drummond, em Ribeirão das Neves, em Belo Horizonte, nesta quinta-feira. Dentre as vítimas, seis estão em estado grave, com queimaduras de 2º e 3º graus e cinco precisaram ser entubados.
Os presos iniciaram uma rebelião nesta tarde por causa da superlotação e condições de insalubridade das celas. O local possui capacidade para 1.047 detentos, mas abriga 2.270. Segundo o diretor de comunicação do Sindicato de Policiais Penais de Minas Gerais, Magno Soares, uma cela com capacidade para 10 presos estava abrigando 20.
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As vítimas foram encaminhadas para o Hospital de Pronto Socorro João XXIII, referência para tratamento de queimados em Belo Horizonte. Os presos que sofreram queimaduras graves foram transportados de forma aérea. A Polícia Militar de Minas Gerais monitora o caso. A direção do presídio investiga como a rebelião começou.
Já outros cinco presos foram levados pelas ambulâncias do SUS e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) para o Hospital Risoleta Neves, em Venda Nova. Mais três foram atendidos diretamente na unidade prisional.
O tenente do Corpo de Bombeiros, Pedro Gonçalves, acompanhou o resgate e contou como o incêndio começou. O fogo teria começado em um colchão no corredor da ala um e se espalhado para colchões da cela três. Os detentos que precisaram de socorro médico são da mesma cela.
— Os próprios detentos colocaram fogos no colchão no corredor — explicou. — Pelo que foi nos passado, esses presos colocaram colchões na grade para evitar que o fogo entrasse, mas os colchões foram atingidos pelo fogo que estava do corredor e entrou na cela. Os vinte presos foram atingidos ou com queimaduras ou intoxicados pela fumaça, ou seja, a barricada não deu certo.
Adenir Carlos, de 22 anos, é irmão de um dos presos, que foi detido por tráfico de drogas. Ele viu a notícia pela televisão e foi até a porta do presídio para saber se o irmão estava entre os feridos.
— Não me passaram nada. Eles não falam nada com a gente, que é família. Meu irmão está aqui há dois meses e eu ainda não tinha vindo visitar ele. Vim correndo para saber o que aconteceu — contou.
Indignado, Adenir disse que o número de detentos por cela é ainda maior que o informado pelo Sindicato dos Policiais Penais, 22 presos em um cômodo para 8 pessoas.
— Todo mundo erra, mas a gente não é cachorro. Todo mundo tem o direito de errar. Tem que consertar. Já fiquei aqui. Eles falam que são 20 presos por cela, mas já vi de 30 a 40 presos por cela — denunciou.
Maria Teresa dos Santos é presidente da Associação de Amigos e Familiares de Pessoas Privadas de Liberdade de Minas Gerais. Em entrevista ao G1, ela informou que a direção do presídio tinha conhecimento que a rebelião aconteceria.
— O que os levou ao motim foram as péssimas condições no local, com insalubridade e superlotação — relatou. Ainda segundo ela, os presos tinham pouco acesso à água - cerca de 10 a 20 minutos por dia, um pouco no período da manhã e da tarde.
Outras rebeliões aconteceram recentemente em presídios de Minas Gerais. Em setembro de 2020, presos de duas alas do presídio de Ribeirão das Neves II também colocaram fogo em colchões. O episódio não teve feridos nem reféns. Os presos, na época, pediam uma alimentação melhor na penitenciária.
Ainda no mesmo mês de 2020, na Penitenciária Nelson Hungria, que também fica na grande BH, em Contagem, outro incêndio foi contido pelo Corpo de Bombeiros. Em motim, os detentos colocaram fogo em pedaços de colchão e roupas. De acordo com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), os presos ficaram agitados com a informação da queima de ônibus na região. Felizmente, também não houve feridos.