Pressão dos EUA para evitar condenação à Rússia pode barrar comunicado conjunto do G7, de novo
Rascunho obtido pela Bloomberg faz menção ao plano de cessar-fogo defendido por Washington e ameniza posições sobre o Oriente Médio
O G7, grupo de sete das mais industrializadas economias do planeta, pode mais uma vez fracassar na elaboração de um comunicado conjunto por pressão dos EUA, ligada à guerra na Ucrânia.
Os americanos não querem que o texto, trabalhado nos bastidores por diplomatas e integrantes dos governos, condene a Rússia pela invasão iniciada em 2022.
Leia também
• Colômbia lança "ofensiva diplomática" para manter certificação antidrogas dos EUA
• EUA aumenta pressão sobre o Irã com sanções ao ministro do Petróleo
• Putin diz apoiar a ideia de um cessar-fogo com a Ucrânia, mas quer discutir termos com os EUA
Segundo um rascunho, obtido pela Bloomberg, o G7 elogia a proposta de cessar-fogo temporário apresentada pelos EUA e já aceita pela Ucrânia, e pede que a Rússia concorde com ela “de maneira incondicional” — nesta quinta-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que a ideia é muito boa, mas sinalizou que ela precisa ser discutida em detalhes.
O texto defende ainda que sejam adotadas “medidas de construção de confiança”, incluindo a libertação de prisioneiros de guerra e o retorno de crianças ucranianas levadas para a Rússia, muitas de forma arbitrária.
A ideia é obter um consenso até sexta-feira, quando termina uma reunião de chanceleres em Charlevoix, no Canadá.
Não há referências à agressão russa contra a soberania territorial da Ucrânia, e diplomatas envolvidos nas conversas afirmaram à Bloomberg que, apesar das mudanças, há grandes chances de não haver um comunicado final.
Segundo eles, o Canadá, que preside o grupo este ano, está tentando obter uma linguagem que agrade a todos, mas o secretário de Estado americano, Marco Rubio, teria recebido ordens da Casa Branca para atrapalhar o processo, afirmaram as fontes diplomáticas à Bloomberg.
No mês passado, os EUA também pressionaram para que um comunicado conjunto dos líderes, marcando os três anos da guerra na Ucrânia, não incluísse menções à Rússia como Estado agressor, como foi feito em um comunicado de chanceleres, também em fevereiro.
Ao invés da defesa da soberania e da unidade territorial da Ucrânia, os americanos preferiram enfatizar “a trágica perda de vidas” e priorizar a busca por um acordo de paz.
O impasse sobre a Ucrânia no texto do G7 é mais um exemplo da brusca guinada na diplomacia americana, que tem na aproximação com a Rússia um de seus pilares mais contestados.
Nesta quinta-feira, um enviado especial de Trump, Steve Wittkoff, deve se encontrar com Putin em Moscou para discutir a proposta de cessar-fogo, e o presidente americano afirmou na Casa Branca que “adoraria” se reunir com o líder russo.
Mas segundo a Bloomberg, a Ucrânia não é o único entrave para um comunicado.
Os diplomatas também tentam amenizar a linguagem usada para o Oriente Médio, e já se preparam para retirar uma menção à solução de dois Estados, um israelense e um palestino, algo que Trump questiona publicamente.
Por outro lado, a China não deve ser poupada, e os líderes defendem pressionar.
Pequim por mais controles em seu arsenal nuclear e pelo que veem como uma expansão nociva no leste da Ásia.
“Nestes tempos tempestuosos, é claro que também precisamos falar sobre diferenças e deixar claro como apoiamos a paz vinda de diferentes perspectivas. De que forma concluiremos este processo, veremos no final”, disse a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, em uma declaração.