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Crise no peru

Pressão política cresce no Peru e protestos se estendem a Lima

Protestos pela renúncia da presidente Dina Boluarte se estendeu por Lima e afetou a cidade turística de Cusco

Protestos no Peru levam a bloqueios de estradas e manifestações em várias regiõesProtestos no Peru levam a bloqueios de estradas e manifestações em várias regiões - Foto: Diego Ramos / AFP

Os apelos pelo fechamento do Congresso e pela saída da presidente Dina Boluarte aumentaram nesta sexta-feira (13) no Peru, com os protestos se estendendo a Lima e a manutenção dos bloqueios de estradas no sul andino, o que afetou a cidade turística de Cusco e o trem para Machu Picchu.

O Peru vivia hoje o décimo dia consecutivo de manifestações, e amanheceu com Arequipa, segunda maior cidade do país e berço de revoluções, praticamente bloqueada por não ter comunicação terrestre com as regiões vizinhas andinas de Cusco e Puno.

Os violentos protestos iniciados há um mês já deixaram 42 mortos, incluindo um policial queimado vivo por uma multidão, segundo a Defensoria do Povo.

Hoje foram registradas novas passeatas em Tacna, a 1.224 km de Lima, na fronteira com o Chile. O país vizinho teve que fechar temporariamente sua passagem na quinta "devido às manifestações nas proximidades do complexo fronteiriço peruano de Santa Rosa", informaram as autoridades chilenas.

Governadores regionais e várias associações profissionais do Peru se uniram aos pedidos para que a presidente Boluarte renuncie.

"Quantos mortos mais vão custar a permanência de Dina Boluarte na presidência? Devemos nos perguntar isso, todos os peruanos, de esquerda ou direita. Nenhum cargo pode estar acima da vida humana", afirmou à imprensa o governador de Puno, Richard Hancco.

Também se manifestaram nesse sentido autoridades das regiões andinas de Apurímac e Cusco, 12 associações departamentais de advogados e a Associação Nacional de Professores.

A parlamentar da oposição Susel Paredes disse em entrevista à rádio que a renúncia de Boluarte "está amadurecendo" e garantiu que a saída, na quinta-feira, do ministro do Trabalho, Eduardo García, "é o começo do fim".

O advogado guatemalteco Stuardo Ralón, chefe da missão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) que terminou nesta sexta-feira, exigiu investigações imparciais ante indícios de que elementos das Forças Armadas fizeram "uso excessivo da força" na repressão às manifestações.

O bloqueio de estradas pelos manifestantes, em especial no sul do país, também se estendeu a áreas de selva. Na região amazônica de Madre de Dios, na fronteira com Brasil e Bolívia, houve mobilizações e uma multidão atirou pedras, causando alguns estragos na casa de um congressista na noite de quinta-feira.

Demandas políticas
"Fechamento do Congresso já. Nova Constituição" e "Dina, assassina, renuncia, inimiga" são algumas das mensagens nos cartazes exibidos em marchas e bloqueios em várias regiões do sul do país, historicamente marginalizado. Nesta sexta, também foram registrados bloqueios no centro de Lima, com alguns incidentes com as forças de segurança.

As reivindicações incluem o pedido de eleições imediatas este ano, em vez de abril de 2024, assim como a convocação de uma Assembleia Constituinte, uma demanda dos partidos de esquerda e de organizações campesinas desde 2021.

A isso se somam os apelos da população e dos familiares das vítimas por justiça e punição dos responsáveis pelas dezenas de mortes registradas em confrontos com as forças de segurança.

Além dos 42 mortos, há 531 feridos - 355 civis e 176 policiais - e 329 detidos, segundo o Ministério Público, que esta semana pediu uma investigação por "genocídio" contra Boluarte e membros de seu gabinete.

Custo, turismo paralisado
Em uma crise intensa, sem perspectivas de resolução no momento, em Cusco, meca do turismo, as autoridades tiveram que fechar o aeroporto, diante de uma escalada de protestos violentos desde o início da semana. O que também causou a suspensão das operações do trem à cidadela de Machu Picchu, atração turística internacional.

O número trágico de mortos gerou um apelo dos Estados Unidos por "moderação" de todas as partes.

O presidente esquerdista Pedro Castillo foi destituído pelo Congresso e preso em 7 de dezembro após um autogolpe fracassado, ao tentar fechar o parlamento, intervir na Justiça e governar por decreto. Ele foi substituído por Boluarte, sua vice-presidente.

Castillo, que também é investigado por corrupção, está cumprindo 18 meses de prisão preventiva ordenada por um juiz sob a acusação de rebelião.

Até agora, as regiões do norte do Peru, onde estão localizadas grande parte das indústrias que são pilares da economia peruana, mineração e agroexportação, permanecem sem manifestações.

Existe saída?
Depois de uma trégua no final de dezembro, os protestos foram retomados na semana passada, com uma virada nas reivindicações nas ruas que, em dezembro, pediam a libertação de Castillo. Além disso, seguem buscando a instalação de uma Assembleia Constituinte.

No entanto, agora há um chamado contundente ao fechamento do Congresso, que é acusado de ter ignorado o pedido popular de eleições antecipadas. Decidiram marcar a votação para abril de 2024 e descartaram a data de dezembro de 2023, apoiada inclusive por Boluarte.

O governo atribui a situação a "valentões profissionais financiados por dinheiro ilegal". O primeiro-ministro, Alberto Otárola, descartou categoricamente a possibilidade da renúncia de Boluarte.

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