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Pressão por saída e banimento do Twitter fazem de dias finais de Trump inferno

Agora, um Trump acuado perde de vez um de seus maiores megafones virtuais

Donald TrumpDonald Trump - Foto: Andrew Caballero-Reynolds/AFP

Donald Trump terminou a noite de quinta-feira (7) com um discurso estranho até para os seus padrões. Após ser desbloqueado pelo Twitter, o atual presidente dos EUA publicou um vídeo na rede social no qual condenou o ataque ao Capitólio, prometeu uma transição pacífica de poder e se esqueceu de falar a palavra "fraude", embora tenha citado outra muito rara em seu vocabulário: reconciliação.

A dias do fim do mandato do republicano, ninguém mais acredita em uma transformação do líder americano mais controverso da história recente do país. Trump está acuado, sob a nuvem de um afastamento, seja por impeachment ou pelo uso da 25ª Emenda constitucional, ainda que alguns queiram que ele facilite o processo e renuncie.

Os pedidos mais estridentes vêm, claro, dos democratas, que passaram a aventar a possibilidade de tirar Trump do poder no minuto seguinte à insurreição protagonizada por apoiadores do presidente e insuflada pelo próprio.

Nesta sexta (8), Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes, voltou a defender que o vice Mike Pence e ao menos metade do gabinete do governo acionem o dispositivo previsto na Constituição que permitiria a saída imediata de Trump do poder sob a justificativa de incapacidade.

Como nem Pence nem secretários da Casa Branca demonstraram publicamente disposição para tal, ela repetiu a ameaça de abrir um processo de impeachment, embora a viabilidade de conclusão dessa ação, devido ao curto tempo até que Joe Biden assuma a Presidência e à composição do Congresso, seja improvável.

De acordo com a rede de notícias CNN, citando uma pessoa próxima ao assunto, o primeiro esboço de um processo de afastamento de Trump teria, neste momento, o apoio de 131 membros do Partido Democrata, número superior ao que havia a esta mesma altura em 2019, quando um impeachment do presidente foi aprovado na Câmara.

Atualmente, os democratas têm maioria na Casa, mas os republicanos possuem maioria no Senado até que os dois novos senadores eleitos pela Geórgia tomem posse. Isso deve ocorrer nas próximas semanas, mas a data ainda não está definida.

Ainda que a saída de Trump da Casa Branca esteja muito próxima, Pelosi afirma que o afastamento imediato é necessário porque o presidente é um desequilibrado. A fala, claro, esconde o desejo de ver o republicano deixar o cargo humilhado, sem contar a chance de que, uma vez aprovado, um impeachment impediria uma candidatura de Trump em 2024.

Seja por motivos políticos ou por razões de segurança, uma vez que as cenas de caos no Capitólio ainda estão frescas na memória, a democrata diz ter conversado com o chefe do comando militar do país, Mark Milley, para encontrar uma forma de impedir que o presidente lance um ataque nuclear em seus últimos dias na Casa Branca.

Não há nenhuma informação, até o momento, de que o atual presidente pretenda tomar qualquer ação do tipo, mas Pelosi quer garantir que Trump não tenha acesso aos códigos nucleares caso decida realizar um ataque, uma prerrogativa do líder americano, que também é o chefe das Forças Armadas.

Ainda do lado democrata, Biden criticou Trump, "uma vergonha para o país", "alguém que não merece ocupar a Presidência", mas na hora de opinar sobre o afastamento, tirou o corpo fora. Para o presidente eleito, numa declaração um tanto labiríntica, o Congresso decide as decisões do Congresso.

A pressão sobre Trump, no entanto, não vem apenas do lado rival. Lisa Murkowski, do Alasca, foi, não apenas a primeira senadora do Partido Republicano a defender em público e de forma inequívoca que o correligionário saia, como sugeriu deixar a legenda caso os colegas continuem alinhados a ele.

A ameaça de defecção, acompanhada de declarações fortes –"Ele já causou danos suficientes, ele só quer ficar pelo título, por causa de seu ego"–, vem num momento de fragilidade do partido no Senado. Com a eleição de dois democratas na Geórgia, a maioria na Casa agora é democrata, já que a composição agora está empatada entre as legendas, e o voto de minerva é da futura vice, Kamala Harris.

Assim, o poder de barganha dos republicanos perderia força com uma eventual saída de Murkowski, que, em relação à saída de Trump, já tinha o apoio de outros dois deputados de sua legenda, Adam Kinzinger e Steve Stivers. O senador Ben Sasse, de Nebraska, de maneira mais tímida, disse que consideraria votar para remover Trump do cargo se a Câmara abrisse novamente um processo de impeachment.

Outro a pedir renúncia, em editorial, foi o Wall Street Journal, publicação de linha conservadora e de propriedade do magnata de mídia Rupert Murdoch, também dono da emissora Fox News e do tabloide New York Post –ambos já viveram tempos de maior proximidade com o presidente.

De acordo com o editorial, a invasão do Capitólio insuflada pela narrativa de Trump "foi uma agressão ao processo constitucional de transferência de poder após uma eleição" e também "um ataque ao Legislativo de um Executivo que jurou defender as leis dos EUA".

"Isso atravessa uma linha constitucional que Trump nunca cruzou. É motivo de impeachment", afirma o jornal.

O editorial discute, no entanto, se o processo de impeachment ou a remoção forçada do presidente por meio da 25ª Emenda seriam realmente boas opções. O Wall Street Journal afirma que um impeachment "tão tarde no mandato enfureceria ainda mais os partidários de Trump de forma que não ajudaria Biden a governar" e que, se Pence recorresse à 25ª Emenda, isso "daria a ele mais motivos para bancar a vítima política".

Assim, diz o jornal, "o melhor caminho seria assumir a responsabilidade pessoal" e deixar o cargo voluntariamente.

Se a quinta-feira de Trump tinha terminado com o fim do bloqueio parcial imposto pelo Twitter, a sexta-feira do republicano terminará com um banimento permanente da plataforma de internet por "risco de incitação à violência".

Quem acessar o perfil do republicano encontrará uma página em branco, sem nem sequer sua foto. O presidente já havia sido bloqueado pelo Facebook e pelo Instagram pelo menos até a cerimônia de posse de Biden, programada para 20 de janeiro.

O Twitter disse que a rede social existe para que usuários ouçam os líderes mundiais diretamente, mas que "há anos deixamos claro que essas contas não estão acima de nossas regras e não podem usar a plataforma para incitar violência".

Nos bastidores, segundo o jornal The Washington Post, centenas de funcionários da empresa exigiram, em uma carta, que os líderes da rede social suspendessem permanentemente o perfil do presidente.

No pedido, dirigido ao presidente da plataforma, Jack Dorsey, e seus principais executivos, cerca de 350 empregados também solicitaram uma investigação sobre que decisões corporativas tomadas pelo Twitter nos últimos anos ajudaram a fomentar a invasão do Congresso americano.

Agora, um Trump acuado perde de vez um de seus maiores megafones virtuais.

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