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Rússia

Prigojin na Bielorrússia: por que líder do Grupo Wagner foi para país aliado de Putin?

O papel central nas negociações, com o aval do presidente russo, foi um reconhecimento para seu homólogo bielorrusso, Alexander Lukashenko, que está no poder há quase 30 anos

Presidente da Rússia, Vladimir Putin, ao lado do bielorrusso Alexander Lukashenko, em Moscou Presidente da Rússia, Vladimir Putin, ao lado do bielorrusso Alexander Lukashenko, em Moscou  - Foto: Vladimir Smirnov/AFP

O líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigojin, chegou nesta terça-feira à Bielorrússia, como parte de um acordo de cessar-fogo após o motim armado no sábado à noite, no qual seus combatentes tomaram bases militares russas e marcharam em direção a Moscou. A informação foi confirmada pelo presidente bielorrusso Alexander Lukashenko, aliado de longa data do líder russo, Vladimir Putin, e cujo papel central nas negociações com o chefe dos mercenários foi um reconhecimento do Kremlin por sua lealdade.

Contudo, após mediar o acordo, em uma rara crítica velada a Putin, Lukashenko, um de seus aliados mais leais, considerou que a rebelião foi resultado da má gestão das rivalidades entre o Grupo Wagner e o Exército russo, que aumentaram consideravelmente desde o início do conflito na Ucrânia.

— A situação fugiu do controle — apontou o líder bielorusso.

Além de ter sido autorizado a ir para Minsk, o processo criminal contra Prigojin e seus soldados foi arquivado, segundo o Serviço Federal de Segurança (FSB) russo. Aos combatentes do Wagner foi dada a opção de se juntarem ao líder na Bielorrússia , irem para casa ou serem incorporados às Forças Armadas russas.

Aliança de longa data
O papel central nas negociações, com o aval de Putin, foi um reconhecimento para Lukashenko, que está no poder há quase 30 anos, mas é mal visto no Ocidente devido às eleições bielorrussas de 2020 e seu apoio à invasão da Ucrânia pela Rússia.

O líder bielorrusso, no poder desde 1994 — sendo assim o presidente mais longevo da Europa —, dispôs o território do país para uso militar da Rússia logo no início da invasão à Ucrânia, em fevereiro de 2022. Embora até o momento o Exército da Bielorrússia não tenha se envolvido diretamente no campo de batalha, diversos ataques russos já partiram da nação aliada, que divide 814 quilômetros de fronteira com o Norte da Ucrânia e fica próxima da capital Kiev, tornando-a geograficamente estratégica em uma tentativa de invasão da capital ucraniana.

A nação também faz divisa com Polônia, Letônia e Lituânia, que integram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), e está na rota mais curta entre a Rússia e Kaliningrado, enclave russo entre os territórios polonês e lituano que abriga uma base nuclear.

Graças à aliança entre as duas nações, a Rússia tem vantagens no deslocamento de armas, suprimentos e tropas para a fronteira com a Ucrânia. O território bielorrusso também é usado por Moscou para o treinamento de soldados russos — estima-se que cerca de 30 mil combatentes já passaram pelo país, configurando a maior unidade militar desde a Guerra Fria, de acordo com o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg.

Aliados de longa data, o apoio de Minsk a Moscou é uma recompensa pelo papel que a Rússia desempenhou para que o regime do bielorrusso permanecesse no poder após as históricas manifestações de 2020, marcadas por forte repressão. O país viveu uma enorme crise social durante as eleições daquele ano, vencidas por Lukashenko em um processo apontado como fraudulento.

No período que integrava a antiga União Soviética (URSS), a Bielorrússia armazenou dezenas de ogivas nucleares táticas em suas bases durante a Guerra Fria. Em 1994, o país concordou em doar suas armas nucleares para Moscou em troca da garantia de segurança do seu território.

Desde 2020, Lukashenko se tornou mais dependente do Kremlin para sua sobrevivência política e parece ser o sócio minoritário em suas frequentes reuniões com Putin. Além disso, o país aceitou recentemente receber armas nucleares táticas russas após um acordo entre Lukashenko e Putin.

Lukashenko, qualificado pelos EUA como líder da "última ditadura da Europa", tem uma presença variável na Bielorrússia, onde aparece trabalhando no campo ou praticando esportes. Mas ativistas afirmam que a repressão interna se intensificou desde os protestos de 2020, com cerca de 1.500 presos políticos, de acordo com o grupo de defesa dos direitos humanos Viasna.

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