Primeira-ministra nega simpatia pelo fascismo e vincula Itália à UE
Meloni assumiu oficialmente como premiê no último domingo (23)
O governo italiano liderado por Giorgia Meloni, de extrema direita, obteve o voto de confiança da Câmara dos Deputados nesta terça-feira (25), após apresentar seu programa de governo, reiterar seu apreço à União Europeia (UE) e à Otan e a negar categoricamente qualquer "simpatia" pelo fascismo em seu primeiro discurso de posse.
Meloni, que na quarta-feira se submeterá ao voto de confiança do Senado, obteve 235 votos a favor, 154 contrários e cinco abstenções, graças ao apoio da coalizão formada por seu partido pós-fascista Irmãos da Itália (Fratelli d'Italia), os conservadores do Força Itália (Forza Italia), de Silvio Berlusconi, e a Liga (Lega) de Matteo Salvini, de extrema direita.
"A Itália é parte plena da Europa e do mundo ocidental", declarou Meloni com o objetivo de tranquilizar os aliados europeus.
"Não vamos frear ou sabotar a UE, e sim torná-la mais eficaz para responder às crises", acrescentou, depois de destacar que respeitará "as normas em vigor" na questão orçamentária.
A política de 45 anos, que no sábado prestou juramento como a primeira mulher à frente do Executivo italiano, expôs seu programa de governo e abordou os assuntos internacionais que mais preocupam seus aliados.
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No discurso de mais de uma hora, com tom seguro, mas também com referências pessoais, ela negou categoricamente qualquer "simpatia ou proximidade" com o fascismo, distanciando-se de sua militância na juventude nos movimentos fundados pelos herdeiros do fascismo.
"Nunca tive qualquer simpatia ou proximidade com regimes antidemocráticos. Por nenhum regime, incluindo o fascismo", disse.
"Se apresentou como líder de um governo conservador clássico e não de um regime com tendências fascistas", estimou o economista Lorenzo Codogno ao destacar o tom de respeito às instituições e às alianças internacionais.
Durante o discurso na Câmara, Meloni prometeu que a Itália continuará sendo um "sócio confiável para a Otan" e prosseguirá com o "apoio à Ucrânia e sua oposição à agressão russa".
Um ponto delicado que provoca divergências entre seus aliados da coalizão de direita, em particular com o líder do partido Liga, Matteo Salvini, e com o fundador do Força Itália, o magnata Silvio Berlusconi, amigo pessoal do presidente russo, Vladimir Putin.
Lutar contra a inflação
"Ceder à chantagem energética de Putin não resolve o problema, o agrava e abre caminho para mais exigências e chantagens, com futuros aumentos da conta de energia", advertiu Meloni sobre alta dos preços da energia e do gás, que provocaram a disparada da inflação.
Meloni assume as rédeas do governo enquanto a terceira economia da zona do euro está em risco de recessão, com uma forte inflação.
A dirigente afirmou que deseja "reforçar as medidas de apoio a famílias e empresas", ainda que isto suponha "esgotar grande parte dos recursos disponíveis", admitiu.
"Estas questões devem ser enfrentadas de forma pragmática, não ideológica".
A sucessora de Mario Draghi, a quem prestou homenagem, deve obter o voto de confiança do Senado sem problemas, pois sua coalizão tem ampla maioria nas duas câmaras.
Meloni, à frente do governo mais à direita da Itália desde a Segunda Guerra Mundial, prometeu que "não se desviará um centímetro" dos valores democráticos e que "lutará contra qualquer forma de racismo, antissemitismo, violência política, discriminação".
Também mencionou as mulheres que marcaram a história da Itália, da jornalista Oriana Fallaci até a líder antifascita Tina Anselmi e a comunista Nilde Iotti.
"São as mulheres que construíram a escada que hoje me permite quebrar este pesado teto de vidro", afirmou.