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MEIO AMBIENTE

Primeiros testes aumentam mistério sobre tragédia ecológica na Rússia

Testes feitos apontam que “as águas estão cristalinas”

Kamtchatka, no oriente da RússiaKamtchatka, no oriente da Rússia - Foto: Greenpeace/AFP

O mistério acerca da causa da morte de uma enorme quantidade de animais marinhos em Kamtchatka, paraíso ecológico no extremo oriente da Rússia, aumentou nesta quinta (8). Segundo o Serviço Federal para Supervisão de Recursos Naturais, os primeiros exames na água do mar ao longo da costa da região não encontraram poluentes químicos.
 
A chefe do órgão, Svetlana Radionova, disse em reunião com surfistas que foram afetados com queimaduras na pele e nos olhos pela água que foram coletadas amostras na região do aterro de Kozelski, até aqui o maior suspeito de ser a origem de uma contaminação por produtos tóxicos.
 
Ele fica ao lado de um rio que deságua na baía de Avatcha, onde fica a capital regional de Petropavlovski-Kamtchatski. Toda a costa do oceano Pacífico naquele ponto foi afetada, segundo expedições do governo russo e dos grupos ambientalistas Greenpeace e WWF.
 
Radionova afirmou que também foram coletadas amostras de solo na região. O aterro de Kozelski recebia pesticidas desde 1979 e foi fechado em 2008. Dois anos depois, recebeu uma cobertura de contenção que uma inspeção identificou estar danificada.
 
Além dessa análise, a Universidade Federal do Extremo Oriente, de Vladivostok, divulgou testes feitos na água do rio que fica ao lado do aterro. "As águas estão cristalinas, com ótimos indicadores biológicos", disse Kirill Vinnikov, chefe do laboratório, à agência Tass.
 
A mesma universidade descartou a presença de componentes de combustível de foguete na baía, algo que havia sido especulado por ativistas locais devido à grande quantidade de instalações militares secretas na região, inclusive um campo de prova de projéteis.
 
Para não buscar evitar insinuações de acobertamento, algo ligado à história do país desde a explosão do reator da usina nuclear de Tchernóbil (então na Ucrânia soviética, em 1986), o governador de Kamtchatka convidou especialistas do WWF para examinar todos os dados disponíveis.
 


O grupo e o Greenpeace estão conduzindo suas próprias análises. A remota Kamtchtka é um dos tesouros naturais da Rússia, e fica a oito horas e meia de voo de Moscou. Isso dificulta o transporte de amostra a laboratórios fora da península.
Com isso, os olhos se voltam para a hipótese de a crise, que matou segundo o governo 95% da fauna marinha que vive no fundo do mar da costa, ter sido provocada por um aumento anormal de algas.
 
Em muitos casos, elas podem privar a água de oxigênio e liberar substâncias tóxicas que causam os efeitos relatados pelos surfistas afetados: queimaduras, náuseas e vômito. O jornal The Moscow Times ouviu Iulia Poliak, especialistas em biologia marinha da Academia Russa de Ciências em São Petersburgo, e ela foi taxativa em apontar essa como a causa.
 
Para ela, as imagens de satélite mostrando a amplitude da mancha amarelada no fim de semana indicam um fenômeno mais amplo do que um vazamento químico, que tenderia a ser mais localizado. 
 
Já a especulação de que a origem da contaminação foi algum movimento sísmico que tenha liberado compostos venenosos parece ter perdido a força, apesar de Radionova ter dito que isso ainda estava em estudo.
 
Os exames divulgados se referem a materiais colhidos principalmente no sábado, quando a queixa dos surfistas ganhou a internet. Um deles, Anton Morozov, enviou um vídeo denunciando o problema ao popular blogueiro russo Iuri Dud, que tem 4,5 milhões de seguidores no Instagram.
 
Morozov é uma lenda local. Ele fundou o acampamento para surfistas Onda de Neve, na praia de Khalaktir, a 35 km da capital. Num santuário ecológico conhecido por suas dezenas de vulcões ativos e ursos em abundância, ele introduziu o surfe na década passada. O governo russo abriu uma investigação criminal sobre as causas da contaminação.

 

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