Guerra no Oriente Médio

Principal hospital de Gaza, sitiado, enterra seus mortos em vala comum

Atenção se volta para o hospital Al Shifa na cidade de Gaza, onde milhares de pessoas, incluindo pacientes, profissionais da saúde e civis deslocados pela guerra, estão amontoadas

Pacientes e internos no hospital Al-Shifa, na cidade de GazaPacientes e internos no hospital Al-Shifa, na cidade de Gaza - Foto: AFP

O principal hospital de Gaza, no centro dos combates entre Israel e o Hamas, teve que enterrar dezenas de mortos em uma vala comum, anunciou nesta terça-feira (14) o diretor do complexo, onde milhares de civis continuam presos em uma situação "horrível", denunciada pela ONU.

Pressionado internacionalmente para proteger os civis no hospital, o governo israelense também enfrenta crescentes demandas de sua população para obter a libertação dos reféns tomados pelo Hamas, objeto de negociações que, segundo várias fontes, estão acelerando nos bastidores.

Mas no terreno, a atenção se volta para o hospital Al Shifa na cidade de Gaza, onde milhares de pessoas, incluindo pacientes, profissionais da saúde e civis deslocados pela guerra, estão amontoadas.

O movimento islamita Hamas afirmou que o complexo está cercado "por todos os lados" pelo Exército israelense e relatou "tiros intensos".

Nesta terça-feira, os tanques israelenses estavam a poucos metros da entrada do hospital, que, segundo as autoridades israelenses, esconde uma posição estratégica de comando para o Hamas.

Em linha com essas acusações, firmemente rejeitadas pelo Hamas, a Casa Branca afirmou nesta terça-feira que o movimento islamista e outro grupo palestino, a Jihad Islâmica, "operam um núcleo de comando e controle desde Al Shifa".

O Hamas respondeu que essas declarações "dão luz verde" a Israel para cometer "mais massacres brutais" contra instalações médicas no território palestino.

A guerra começou em 7 de outubro com o ataque do Hamas em território israelense, que deixou cerca de 1.200 mortos - principalmente civis -, segundo autoridades israelenses.

Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o movimento islamista e lançou uma campanha de bombardeios na Faixa de Gaza, além de uma operação terrestre em 27 de outubro.

A ofensiva israelense matou até agora mais de 11.300 pessoas, principalmente civis, e 4.650 eram crianças, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, governado pelo Hamas.

- "Em nome da humanidade" -
"Há cadáveres espalhados nos corredores do complexo hospitalar, e as salas refrigeradas das necrotérios não têm mais eletricidade", afirmou o diretor do hospital Al Shifa, Mohamad Abu Salmiya. "Fomos obrigados a enterrá-los em uma vala comum", acrescentou o médico.

Além da ofensiva militar, Israel impõe um bloqueio à Faixa de Gaza desde 9 de outubro, que mal tem acesso a alimentos, água, eletricidade ou medicamentos.

Segundo uma estimativa do Escritório da ONU para Assuntos Humanitários (OCHA), em Al Shifa, há pelo menos 2.300 pessoas presas pelos combates.

Uma testemunha no interior do recinto afirmou que o cheiro de cadáveres em decomposição é insuportável.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 22 dos 36 hospitais da Faixa de Gaza já não estão operacionais.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, lamentou "a situação horrível e as perdas humanas significativas em vários hospitais em Gaza", disse seu porta-voz, que pediu um cessar-fogo imediato "em nome da humanidade".

Nesta terça-feira, a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) disse na rede X, antigo Twitter, que disparos atingiram uma das três instalações que a organização tem perto de Al Shifa, onde "mais de 100 pessoas, incluindo 65 crianças", incluindo membros da ONG e seus familiares, estavam se abrigando.

A MSF pediu a Israel e ao Hamas um "corredor seguro" para evacuá-los.

Por sua vez, o Crescente Vermelho palestino disse que, após "mais de dez dias de cerco", conseguiu evacuar para o sul da Faixa "pacientes, feridos, suas famílias e equipes médicas presas no hospital Al Quds" na cidade de Gaza.

- Acordo próximo? -
No dia do ataque do Hamas, classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, União Europeia e Israel, cerca de 240 pessoas foram sequestradas e levadas para Gaza, segundo o Exército israelense.

Coincidindo com uma reunião nesta terça-feira do gabinete de guerra do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, o Fórum das Famílias de Reféns e Desaparecidos exigiu que ele "aprovasse ainda esta noite um acordo para trazer de volta os reféns de Gaza", segundo um comunicado.

Cem parentes de reféns e simpatizantes da causa iniciaram uma marcha de cinco dias e 63 km nesta terça-feira de Tel Aviv até o gabinete de Netanyahu em Jerusalém.

Fontes oficiais egípcias informaram a uma televisão próxima aos serviços de segurança que o chefe do Mossad, a agência de inteligência israelense, estava no Cairo "para discutir um cessar-fogo humanitário e a questão da troca de prisioneiros".

A situação dos sequestrados levados para Gaza é uma questão complicada, e o Catar está mediando nas negociações.

Abu Obeida, porta-voz do braço militar do Hamas, disse na segunda-feira que existe a possibilidade de um acordo para a libertação de cem reféns israelenses em troca de 200 menores e 75 mulheres palestinas que estão em prisões israelenses.

Mas nesta terça-feira, outro responsável do movimento islamista, Osama Hamdan, afirmou que "Netanyahu e seu gabinete de guerra" são responsáveis pelo fato de as discussões estarem "paralisadas".

Biden afirmou que acredita que um acordo será alcançado com o Hamas para a libertação dos reféns.

- Investigações sobre supostos abusos sexuais -
O Exército israelense reivindicou nesta terça-feira que assumiu o controle de prédios do governo do Hamas em Gaza, incluindo o parlamento.

A polícia israelense anunciou que está investigando acusações de que os comandos do Hamas cometeram atos de violência sexual durante seu ataque a Israel.

A guerra em Gaza inflamou a violência em outros fronts, de Cisjordânia ao Líbano e Síria, e há o temor de uma escalada do conflito.

Na Cisjordânia, oito palestinos morreram em confrontos com as tropas israelenses, informaram nesta terça-feira as autoridades palestinas, que estimam que desde o início da guerra, pelo menos 180 palestinos morreram por tiros de soldados ou colonos israelenses.

 

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