Prisão do Equador é isolada por militares após rebelião com 30 mortos
Os confrontos armados ocorreram na terça-feira na prisão Guayas 1, com um saldo de 30 presos mortos, 52 feridos
Uma prisão no Equador permanecia cercada por um forte cordão militar nesta quarta-feira (29), no dia seguinte a uma rebelião que deixou ao menos 30 detentos mortos e 52 feridos, na segunda revolta mais violenta do ano neste país que sofre uma crise penitenciária.
A presença de soldados do lado de fora do presídio Guayas 1, que faz parte de um grande complexo penitenciário no porto de Guayaquil (sudoeste), foi reforçada - segundo uma fonte militar - devido ao tiroteio entre reclusos pertencentes a gangues vinculadas a cartéis mexicanos de tráfico de drogas.
Policiais a cavalo também vigiavam o exterior, onde dezenas de pessoas buscavam informações sobre a situação de seus parentes presos.
“Queremos informação porque não sabemos nada sobre nossas famílias, nossos filhos, porque tenho meu filho aqui, não sei nada sobre meu filho”, disse uma mulher que não revelou sua identidade.
A crise penitenciária, alimentada pela superlotação, corrupção, insuficiência de guardas e violência, levou as autoridades a declarar o sistema em emergência desde 2019. Os militares apoiam há meses o controle externo das prisões de Guayaquil.
Os confrontos armados ocorreram na terça-feira na prisão Guayas 1, com um saldo de 30 presos mortos, 52 feridos, informou nesta quarta-feira Bolívar Garzón, diretor do órgão governamental encarregado das penitenciárias (SNAI).
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Luta pelo poder
O Ministério Público destacou que entre os feridos estão dois policiais e que “a luta pelo poder dentro da Penitenciária do Litoral e a intenção das autoridades de transferir os dirigentes de organizações criminosas para outras penitenciárias do país teriam desencadeado os confrontos", que deixaram vários detentos decapitados.
A polícia entrou em Guayas 1 e "impediu mais mortes violentas lá dentro", acrescentou o diretor, destacando que "um mal maior" foi evitado.
No entanto, até a meia-noite de terça-feira, a Polícia anunciou que voltou ficar atenta ao "alerta de possíveis confrontos" entre presidiários.
A revolta agrava a crise penitenciária no Equador, causada pelos confrontos pelo poder entre gangues criminosas vinculadas aos cartéis mexicanos de Sinaloa e Jalisco Nueva Generación, que já deixavam cerca de 120 presos mortos no decorrer do ano no país, segundo as autoridades.
Só em 23 de fevereiro, motins simultâneos em quatro presídios de três cidades deixaram ao menos 79 presidiários mortos, entre eles alguns decapitados.
"Realmente é lamentável o que está acontecendo dentro" dos presídios, disse o comandante da polícia de Guayaquil, general Fausto Buenaño.
O órgão governamental encarregado das prisões (SNAI) afirmou no Twitter que suspendeu por 48 horas, nesta quarta-feira, as atividades administrativas "não prioritárias" no complexo penitenciário de Guayaquil.
Duas gangues com 20.000 membros
Há duas semanas, um presídio nesse mesmo complexo foi atacado com drones e explosivos em meio a "uma guerra entre cartéis internacionais", de acordo com o SNAI. O incidente não deixou vítimas, mas gerou danos materiais.
No Equador, com 17,7 milhões de habitantes, a violência se tornou permanente em seus 65 presídios com 39.000 presidiários e capacidade para cerca de 30.000.
“Há uma crise carcerária desde 2010, com uma média de 25 homicídios por ano, mas que se acelera significativamente de 2017 ao pico deste ano, quando já devemos ter ultrapassado 160 homicídios”, disse à AFP o especialista em segurança e tráfico de drogas Fernando Carrión.
Segundo a Defensoria Pública, em 2020 ocorreram 103 assassinatos nas penitenciárias do país, onde a corrupção facilita a entrada de armas e munições.
Um terço dos detentos "vem de organizações criminosas explicitamente ligadas ao tráfico internacional de drogas", afirmou Carrión.
Duas das gangues que apoiam os cartéis mexicanos têm cerca de 20.000 membros, segundo relatórios da polícia.
Entre janeiro e agosto de 2021, o Equador apreendeu cerca de 116 toneladas de drogas, principalmente cocaína. Em 2020, a quantidade apreendida foi de 128 toneladas em todo o ano.