Prisão para 30 mil pessoas? Há paralelo? Guantánamo pode ser a segunda maior do mundo
Trump planeja instruir o Pentágono a deter "imigrantes ilegais criminosos" no centro de detenção
A prisão militar de Guantánamo, usada para manter suspeitos de terrorismo, poderá ser usada para aprisionar imigrantes irregulares que cometerem crimes nos Estados Unidos, de acordo com plano divulgado nesta quarta-feira pelo presidente Donald Trump. Levando em consideração a capacidade e não a extensão ou efetiva lotação, o centro de detenção pode se tornar o segundo maior presídio do mundo, com espaço para 30 mil pessoas. Fica atrás apenas do recém criado Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot), em El Salvador.
Fundada em 2002, logo após o ataque às Torres Gêmeas, a prisão fica em uma baía no território cubano. Ela é amplamente denunciada por agências internacionais por ser o destino de pessoas apresentadas pelos EUA como integrantes de grupos terroristas, que ficaram custodiadas ali sem nunca terem sido submetidas a julgamentos formais ou decretação de mandados de prisão.
— Temos 30 mil leitos em Guantánamo para deter os piores criminosos ilegais que ameaçam o povo americano — disse Trump na Casa Branca. — Alguns deles são tão ruins que nem confiamos nos países para mantê-los porque não queremos que eles voltem, então vamos mandá-los para Guantánamo.
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O local pode se tornar a segunda maior prisão do mundo, atrás apenas das 40 mil vagas do Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot), criado pelo governo salvadorenho de Nayib Bukele, em fevereiro de 2023.
O presídio foi construído para reter prisioneiros da maior parte do sistema prisional salvadorenho, que enfrenta superlotação. Antes, a maior cadeia do país era a de La Esperanza, que tem capacidade para 10 mil pessoas, mas abriga 33 mil pessoas.
A megaprisão é parte fundamental da investida de Bukele contra o crime organizado no país. A ONG Human Rights Watch (HRW) denunciou que o megapresídio não cumpre com as regras internacionais da ONU. Em nota, o governo rebateu dizendo que o local abrigará "os terroristas que tanto sofrimento causaram à população do país".
Já no caso de Trump, a luta não é contra a violência, mas contra a migração irregular, que é a principal prioridade do presidente. Pouco depois de assumir o cargo, ele assinou uma série de decretos, muitos deles para bloquear a entrada ou facilitar a expulsão de migrantes em situação irregular.
O republicano declarou emergência na fronteira Sul com o México, suspendeu temporariamente os programas de asilo e refúgio, tentou acabar com o direito à cidadania para filhos de estrangeiras sem documentação ou com visto temporário, retomou o programa "fique no México" para solicitantes de asilo e aumentou os poderes do ICE (agência migratória dos EUA), permitindo fiscalizações em escolas e igrejas.
A prisão Silivri, em Istambul, na Turquia, vem em terceiro lugar com capacidade para 22,781 pessoas, de acordo com o Guinness World Book.
Prisões extrajudiciais e tortura
O território cubano de Guantánamo passou a ser usado pelos Estados Unidos a partir de 1943, quando os países assinaram um acordo perpétuo em que o país americano aluga 72 quilômetros da Baía pela bagatela de US$4.085 por ano.
Nos primeiros anos os americanos abriram Guantánamo para abrigar um centro de processamento de imigrantes, mas decidiram abrir uma prisão na região após os ataques de 11 de setembro de 2001. Suspeitos foram capturados em todo o mundo, contornando o direito constitucional ao devido processo legal garantido em solo americano. A instalação foi marcada por várias alegações de prisão extrajudicial, negação de direitos e tortura. Os 15 restantes estão mantidos em dois prédios prisionais com celas para cerca de 250 detentos.